12 de novembro de 2012

Acordar na Rua do Mundo



madrugada. passos soltos de gente que saiu
com destino certo e sem destino aos tombos.
no meu quarto cai o som depois
a luz. ninguém sabe o que vai
por esse mundo. que dia é hoje?
soa o sino sólido as horas. os pombos
alisam as penas. no meu quarto cai o pó.

um cano rebentou junto ao passeio.
um pombo morto foi na enxurrada
junto com as folhas de um jornal já lido.
impera o declive
um cano foi-se abaixo
portas duplas fecham
no ovo do sono a nossa gema.

sirenes e buzinas. ainda ninguém via satélite
sabe ao certo o que aconteceu. estragou-se o alarme
da joalharia. os lençóis na corda
abanam os prédios. pombos debicam
o azul dos azulejos. assoma à janela
quem acordou. o alarme não pára o sangue
desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o vídeo
não gravou
e duma varanda o pingo cai
de um vaso salpicando o fato do bancário.



Luiza Neto Jorge, in Poesia, Assírio & Alvim

11 comentários:

  1. ... de uma excelsa poetisa, infelizmente caída no esquecimento fora dos círculos literários. "Desencantei" este seu livro na biblioteca do avô. :)

    ResponderEliminar
  2. Adoro poesia.
    E de Luiza Neto também já li uns quantos poemas.
    Excelente esta escolha.
    Tem muito a ver com o que conheço do Mark.

    Abraço com carinho :3

    ResponderEliminar
  3. Grande poetisa, adoro-a e este poema é brutal!

    Abraço Mark :)

    ResponderEliminar
  4. Também adorei, sobretudo, sendo do vosso agrado também. :')



    abraços :3

    ResponderEliminar
  5. desencantaste muito bem.
    gosto muito. as palavras certas, é de um realismo brutal. à noite, no escuro, oiço tantas coisas e divago ainda mais, mas só ela encontrou as palavras que eu queria escrever e nunca consigo.
    bjs.

    ResponderEliminar
  6. Não tenho alma de poeta, não infelizmente, porque todos temos capacidades. :)


    bjo.

    ResponderEliminar
  7. É muito bom que tenhas trazido poesia a este teu canto, e poesia de alguém quase ignorado.
    Luíza Neto Jorge bem merecia esta homenagem.

    ResponderEliminar
  8. "A exaltação do mínimo,
    e o magnífico relâmpago
    do acontecimento mestre
    restituem-me a forma
    o meu resplendor.

    Um diminuto berço me recolhe
    onde a palavra se elide
    na matéria - na metáfora -
    necessária, e leve, a cada um
    onde se ecoa e resvala.

    A magnólia,
    o som que se desenvolve nela
    quando pronunciada,
    é um exaltado aroma
    perdido na tempestade,

    um mínimo ente magnífico
    desfolhando relâmpagos
    sobre mim."

    Permite-me o prazer de te oferecer um ramo de magnólias, junto com este poema, desta grande senhora e poetisa! :3

    Hughie :*

    ResponderEliminar
  9. Obrigado, João. :')


    Hórus: Owwwn, sem palavras. Quanta gentileza e ternura. És um cavalheiro.

    hughie :33333333 (...)

    ResponderEliminar