23 de abril de 2012

It was drizzling.


 Falta pouco mais de um mês para terminarem as aulas. O clima, pouco ameno, remete-me para os dias chuvosos de um Outono sombrio. Tenho dificuldade em entender que estou em Abril, talvez porque já não existam estações do ano, como antigamente, no tempo dos nossos avós. A máxima de que em Abril «caem águas mil» surgia-me como um ditado de algures do século XIX.
 Se é verdade de que gosto de estar na biblioteca da faculdade, pesquisando sobre as matérias, lendo opiniões doutrinárias de modo a enriquecer as minhas respostas nos testes, absorvendo argumentos e contra-argumentos que nem sempre me serão úteis no futuro, também não é menos verdade de que respirar o aroma da terra molhada é gratificante. Bom, sê-lo-á menos se, com o aroma da terra, vier também uma chuva fina, chata e terrivelmente irritante, como me sucedeu hoje. Uma vez que detesto guarda-chuvas e que eles me detestam, conjugamos as nossas forças num duelo que perco incessantemente: molhei o cabelo e a roupa no percurso para a faculdade. Acabo por ganhar nas minhas convicções. Não os uso.
 Ao mesmo tempo em que caminhava vagarosamente, temendo uma queda precipitada nas pedras escorregadias do passeio, dois rapazes passaram por mim a correr descontraidamente. Vi, então, as diversas perspectivas do mesmo cenário. Para mim, tratava-se de um dia enfadonho e óptimo para ficar em casa; para eles, um dia maravilhoso em que poderiam fazer exercício físico sob uma chuva ténue. Eles não pensarão como eu, no incómodo de molhar a roupa, o material universitário (mesmo estando na mala). Desvalorizarão a vaidade pessoal, afinal, as condições meteorológicas adversas já existiam antes.
 Na carruagem do metro, resisti ao impulso de ver as pontas do cabelo levantadas no vidro. Depois, ser-me-ia bem mais difícil resistir à tentação forte de tentar dar-lhe um jeito com as mãos, o que vejo muito por aí, mas não é algo que me agrade. Uma colega achou-lhe graça e enrolou-me freneticamente uma mecha nos seus dedos esguios. Apesar de ter esboçado o ar mais convincente de revolta e indignação que consigo fazer, ela não me levou a sério.
 Tive a brilhante ideia de escrever uma qualquer reclamação à entidade hierarquicamente superior, neste caso com residência fixa no céu. Alegaria prejuízos morais, não patrimoniais, mas mesmo assim dignos de uma indemnização qualquer. Derrotado por não saber a quem imputar responsabilidades e temendo uma greve na função pública, rendi-me diante das evidências: molhas-te e pronto!


8 comentários:

  1. Claro!
    Queres coisa mais simples?

    Gostava que passasses no meu blog; está lá um texto que gostava muito de ter a tua opinião, pois é um assunto em que decerto terás algo a dizer.

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  2. Tenta ser um pouco mais descontraído rapaz ;)

    Saboreia a chuva no cabelo, na roupa molhada...

    Abraço amigo

    P.S - A chuva não molha toda a gente, apenas molha aqueles que fogem dela

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  3. Adorei o facto de quereres processar os "manda-chuvas" lá de cima! xD

    Entrar em greve duvido que entrem, pois não se regem pelas nossas leis absurdas. Mas seria giro ver qual a reacção deles se começasses a bradar aos céus! [de preferência sozinho, para as outras pessoas não te chamarem a atenção, nem ficarem a pensar que endoideceste!]

    Hughie! :3

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  4. Quando te leio até parece que é simples escrever...
    Consegues levar-me contigo, na história!

    Mas, haverá quem consiga escapar por entre os pingos da chuva?

    Alguns passam por entre os problemas da vida...

    Abraço apertado :)

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  5. olha... o Francisco até disse uma coisita acertada ;)

    Abraços Mark

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  6. Três coisas:

    1- adorei a poesia do primeiro parágrafo.

    2- o cheiro a terra molhada pela chuva é uma das minhas bolsas de felicidade. Amo!

    3- a vaidade do cabelo ou qualquer outra coisa remete para a perfeição. O ar despenteado e humano tronam-nos mais nós... :)

    Já agora um 4): pesquisares, estudares, adquireres cultura académica, é do melhor, mas apenas em termos estritamente académicos. E como tanto repito, querido amigo Mark, precisamos de nos imiscuir na multidão, até percebermos que também os outros estão só...

    Abraço-te. Muito.

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  7. Bem, quando estiveres no ativo não vais parar... o São Pedro que se cuide.

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  8. Como se diria aqui no Brasil: "Quem tá na chuva é pra se molhar" rs.(Brincadeira! pra descontrair rs) Eu sou do Rio e aqui também as pessoas detestam chuva.Eu não gosto de sair no meio da chuva, ainda mais eu que sou grandão... O guarda-chuva não é capaz de proteger os meus pés e canelas da chuva. acabo ficando com o tênis todo molhado. Desteto! Eu te entendo,amigo. ahahaha a chuva é chata mesmo. Mas se tem uma das sensações mais gostosas do mundo, é tomar um belo banho de chuva. Experimente um dia, você irá gostar! Claro! é precisa está com vontade pra isso. Mas experimente...

    Em sua homenagem...
    ( Vanessa Da Mata)


    Se você quiser
    Eu vou te dar um amor
    Desses de cinema
    Não vai te faltar carinho
    Plano ou assunto
    Ao longo do dia...

    Se você quiser
    Eu largo tudo
    Vou pr'o mundo com você
    Meu bem!
    Nessa nossa estrada
    Só terá belas praias
    E cachoeiras...

    Aonde o vento é brisa
    Onde não haja quem possa
    Com a nossa felicidade
    Vamos brindar a vida meu bem
    Aonde o vento é brisa
    E o céu claro de estrelas
    O que a gente precisa
    É tomar um banho de chuva
    Um banho de chuva...

    Ai, ai, ai, ai, ai, ai
    Ai, ai, ai, ai, ai, ai
    Aaaaaaai!
    Ai, ai, ai, ai, ai, ai
    Aaaaaaai!
    Ai, ai, ai, ai, ai, ai
    Ai, ai, ai, ai, ai, ai
    Aaaaaaai!
    Ai, ai, ai, ai, ai, ai
    Aaaaaaai!



    Um Grande Abraço.

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