24 de março de 2012

Por enquanto, viajo assim.


 Ontem, enquanto lia um panfleto sobre as várias listas que concorrem à Associação de Estudantes da minha faculdade, ouvi a conversa de umas raparigas que estavam atrás de mim. Falavam sobre o programa Erasmus, sobre enriquecerem culturalmente viajando e estudando num outro país. Uma queria ir para a Alemanha; outra para a Argentina. Alguns colegas meus também têm essa pretensão: saírem de Portugal, durante um ano ou mais, para estudar.
 Subitamente, surgiu-me na cabeça a ideia de que "e se fosse eu"? Delimitando esta ideia, não cheguei sequer a materializá-la. Assumi, desde logo, que não seria capaz de fazê-lo. Isso confortou-me à partida. Mas, sendo capaz, para onde iria e o que faria?
 Não tenho um espírito aventureiro, meio nómada, de caminhar pelo mundo com uma mochila às costas. Nem de avião, sozinho, indo em direcção ao desconhecido. Sou demasiado preso, não às origens, mas ao comodismo de uma vida calma e sossegada. Para além disso, não resisto ao cansaço, não tenho lá grande força para transportar uma mochila pesada às costas e sofro com as repentinas variações climáticas.
 Fértil, imaginei-me a aterrar em Maputo - concretizando o desejo de conhecer o país do pai, frequentando a Universidade Eduardo Mondlane durante um ano lectivo. Também poderia seguir em direcção ao Brasil, conhecendo o Rio de Janeiro, São Paulo, estudando as características brasileiras do subgrupo lusófono da grande família romano-germânica. Quem sabe num país nórdico da Europa, ou, já na América do Norte, nos E.U.A ou no Canadá - sinto, porém, uma atracção pelos países de língua portuguesa.
 Uma colega interrompeu-me o sonho ao convidar-me para a acompanhar à livraria. Falei-lhe do programa Erasmus, da possibilidade de irmos juntos. Assim conseguiria suportar a distância familiar e afectiva. Disse-me que, por enquanto, não é algo que queira.
 Foi um projecto que não chegou a nascer, apesar da minha vontade, implícita, de alimentá-lo.
 Se fechar os olhos e pensar convictamente, vejo que consigo estar num outro lugar mesmo não saindo de onde me encontro. Será tudo por agora.


16 comentários:

  1. Se bem me lembro, para aderires a esse programa já tens que estar no último ano e com um certo número de cadeiras para acabares o curso (acho eu). Por outro lado não sei se há Erasmus na tua área de estudos (acho eu).

    Mas seria bom para ti saíres por esse mundo fora e encontrares novas pessoas e/ou culturas. Eu também nunca tive espírito muito aventureiro, mas a verdade é que me arrependo (se bem que também não tinha condições financeiras para tal).

    Não ganhes raízes com muita facilidade.

    Abraço

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  2. Ribatejano: Não sei quanto ao número de cadeiras, mas sei que poderia já para o próximo ano. Em relação a se há Erasmus na minha área: sim, há. E há na minha faculdade também. :)
    De qualquer forma, como disse, não seria capaz.
    Eu não ganho raízes. Aliás, referi precisamente isso no meu texto. Não estou "preso às origens". Apenas sinto que não seria capaz de suportar uma ausência tal, sobretudo pela minha família. ^^

    Abraço.

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  3. Eu... arrependi-me de não o ter feito. Não pensei seriamente na altura e acabou por ficar em segundo plano. Além disso nesse ano tinha uma namorada (sim, namorada) que tinha cadeiras em atraso e logo não era elegível para Erasmus. Enfim... pesou na decisão.

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  4. Speedy: Pois, não querias ir sem a tua girlfriend. xD
    É compreensível. :)

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  5. O Speedy não a queria era deixar ficar sozinha. lol

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  6. Mark, há experiências que só se vivem uma vez na vida, aproveita, faz tudo o que tiveres a fazer sem medos, um dia vais adorar ter sido corajoso o suficiente para arriscar! :)

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  7. Jaime: Eu sei que sim, mas não conseguiria dar esse passo, pelo menos neste momento. :)

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  8. À alguns anos atrás, o meu melhor amigo foi estudar para a Hungria durante 1 ano. Ele também era muito apegado à família [e a mim também]. Somos amigos há 15 anos, praticamente crescemos juntos.

    Custou-me imenso estar tanto tempo sem ele. Ele foi em Agosto e devido a várias "peripécias", só consegui falar com ele, pela primeira vez, no dia dos meus anos, em Novembro! Foi a melhor prenda que recebi nesse ano! :3

    Meses mais tarde, a família dele foi visitá-lo. Passadas algumas semanas, eu também fui ter com ele a Budapeste. Foram alguns dos melhores dias das nossas vidas! ^w^

    Ele cresceu muito, mudou bastante. Foi uma experiência bastante enriquecedora e acredito que vale sempre a pena. :3

    P.S. - Obrigado eu também pelo teu carinho, simpatia e amabilidade! És sempre muito bem vindo ao meu Cantynho!

    Abraço grande ^w^

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  9. Olá, Mark.
    Já leio o teu blog há bastante tempo mas nunca comentei nada - sou um rapaz tímido ;) - por isso cá vai.

    Achei graça teres dito que, a partir do momento em que assumiste que não ias de Erasmus, te sentiste à vontade para o imaginar. Não conheço ninguém que tenha ido e não tenha gostado, mas tenho ouvido falar de pessoas que se dão um pouco mal. Acho que depende sempre um bocado de para onde se vai e com que espírito. Fazer Erasmus numa grande cidade europeia, onde andam mais umas boas dezenas (ou mais) de outros alunos internacionais, será bastante diferente de ir parar a uma vila qualquer no meio do nada sem se conhecer a língua.
    Aliás, quando se diz que o Erasmus é uma experiência única na vida, fala-se exactamente disto: seres estrangeiro num país (durante tempo suficiente para não seres um simples turista) com outros estrangeiros na mesma condição. O facto de ninguém se conhecer muito bem muda um pouco as regras sociais e as pessoas tornam-se mais tolerantes e menos reservadas. Estás também longe de casa e do país, o que pode ser bastante libertador. E... depois há sempre tema de conversa, quer seja sobre as diferenças entre países quer seja sobre o país de acolhimento.

    É normal haver um certo medo de partir e de se afastar do que é familiar. Por isso, há aqueles que escolhem algo mais próximo (Espanha, Itália) ou aqueles que vão para a Escandinávia ou Europa de Leste. Também há aqueles que vão com a/o namorada/o atrás ou quem acabe com os namoros antes de partir. De qualquer forma, dependendo um bocado dos países e se se ficar pela Europa, ainda se viaja bem e de forma económica para que se possa visitar a família com regularidade se for caso disso.

    Fica também bem em qualquer currículo, mostra uma certa veia aventuresca e os recursos humanos estão bem treinados para gostar disso :p

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  10. Hórus: Quem me dera conseguir essa proeza! Bom, também sinto que, à partida, dou-me logo como incapaz! Quem sabe se eu conseguiria?
    São receios, no fundo. :) Acho que se viajasse com um colega, tinha mais chances de suportar a ausência. O facto de preferir um país de língua portuguesa é precisamente por essa necessidade de me sentir integrado. Eu sou muito avesso à mudança e custa-me imenso habituar-me a novos ambientes... :/

    Ora essa, não tens de agradecer. Eu é que tenho! ^^

    Abraço grande! :)


    lugares pouco comuns: Em primeiro lugar, muito obrigado por me seguires atentamente. Sempre achei que não merecia o vosso carinho. Tenho tido um feedback incrível da parte de todos vós. Muito obrigado, mais uma vez! Vence essa timidez, ahah. :)
    Acho que me entendeste mal. Eu assumi que não seria capaz de ir em Erasmus para me permitir a mim mesmo poder imaginar. Ou seja, tentei não criar expectativas nas quais pudesse, mais tarde, magoar-me. Dizendo a mim mesmo que "não", fiquei automaticamente livre e descomprometido para imaginar. Se conseguisse, faria assim e assim, etc. :) Não coloquei em causa a maravilhosa experiência que deverá ser e só a excluí por receios pessoais. Como eu gostaria de ter essa veia aventureira!...
    Curiosamente, se o fizesse, preferiria escolher um país de língua portuguesa. Não porque me fosse mais fácil, mas mesmo para melhor me integrar. Indo para o Brasil ou para qualquer PALOP, compensaria a distância que facilmente evitaria indo para Espanha ou França, com uma terra que me dissesse algo mais. A distância seria compensada pela facilidade de integração, apesar de saber que até será um maior desafio ir para um país em que não se domina a língua.
    Quanto ao currículo, sim. É valorizado quando acabamos o curso. E é sempre uma experiência irrepetível. :)

    ^^

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  11. Acho que seria uma boa vc sair para um outro país para aprender uma nova forma de ver o mundo, uma nova cultura. Isso tudo nos faz amadurecer muito. Por outro lado, é um processo que a pessoa precisa estar preparada,pois não é fácil ficar longe da família,dos amigos, morar num país estranho. Penso que se vc não está se sentindo preparado, não vá. Um dia vc estará e será um grande experiência. Com certeza!

    Abraços MARK!

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  12. Sim, sim, percebi exactamente que era isso que querias dizer, só achei graça porque, para mim, esse exercício de imaginação soa mais a tortura mental.

    De qualquer forma, quando um é como é e, se não te vês a fazer isso, tudo bem. Mas olha que a tua personalidade também não está escrita na pedra e fazeres coisas que não esperavas que tu próprio as fizesses pode ser muito compensador.

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  13. Citizen 86: Exactamente! Interpretaste bem os meus receios! Mas, sabes, no Brasil jamais me sentiria estranho. :) Os países de língua portuguesa, todos eles, dizem-me alguma coisa, apesar de, infelizmente, e excepto Portugal por motivos óbvios, não conhecer nenhum. :/

    Abraço! ^^


    lugares pouco comuns: Também se torna um pouco torturador para mim, lugares, mas eu aprendi a contornar essa inevitabilidade. :)
    Eu conseguiria ir com um amigo ou colega; sozinho é que sinto que não! :/

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  14. Independentemente de ser ou não com o Erasmus, viajar, conhecer novas culturas e gentes diferentes é do mais enriquecedor que há.
    Não há que ter medo, e tu que tens tido um progresso notável no teu relacionamento com a sociedade, só virias a beneficiar disso.
    Numas próximas férias decide-te e vai lá fora: tens possibilidades para isso e só é preciso ganhar alguma coragem, que até pode vir a ser encontrada numa viajem compartilhada com alguém com quem te dês bem.
    Experimenta e não queres outra coisa...

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  15. O programa Erasmus possibilita-te o contacto com outras realidades, outras culturas e outras gentes. É muito bom desde que saibas aproveitar essa diversidade. Conhecem-se pessoas de vários países e fazem-se amizades para a vida.
    Um abraço.

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  16. João: Nunca descartei a hipótese de viajar com um amigo ou colega. O problema que coloquei foi o de viajar em Erasmus, sozinho, o que geralmente acontece. Não conheço muito da dinâmica do programa em si e dos requisitos das candidaturas, mas creio que dois amigos que estudem na mesma faculdade, no mesmo curso, e se candidatem querendo ir para o meu país, juntos, não o conseguem. Talvez esteja a dizer, melhor, a escrever um disparate. xD
    Em relação a viajar, sim, não tenho dúvidas que é do melhor que há. (:

    Pedro: Eu sei.:) Deve ser óptimo. Tenho ouvido relatos muito positivos. Há imensos estrangeiros na minha faculdade que vieram em Erasmus. :)
    Um abraço e obrigado! ^^

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