30 de abril de 2011

Return


O regresso às aulas, pós férias, processou-se bem melhor do que pensava. Como disse anteriormente, creio, sou um pouco preguiçoso, embora não aparente. Nem imaginam a luta titânica que tenho com a minha maldita consciência que me atira da cama todas as manhãs! Mas não só: para estudar, sofro; para realizar alguma tarefa, sofro. Enfim, é realmente a minha consciência (por sinal bem forte) a merecedora de todo o mérito que me atribuem. Sem ela, garanto-vos, nada faria.
O regresso não seria o mesmo caso não tivesse um teste. Estou a ser irónico. É logo para começar bem de forma a não perdermos o ritmo.
Gostei de rever o R.. Ele está diferente fisicamente. Sei que isto é estranho, afinal, só estive uma semana sem o ver. Porém, acho que senti a sua falta. Vê-lo com aqueles calções com padrões aos quadrados fá-lo mais jovem, pelo menos aos meus olhos. O seu straight-acting mexe comigo, é um facto. Sabem o gay que é homem, mesmo homem? Ele é assim. Daí todas as minhas dúvidas quanto à sua hipotética homossexualidade. Senti uma proximidade mais visível. O sorriso na hora certa, o aperto de mão demorado, o olhar denunciador... Chego a perguntar-me se não será aquela masculinidade toda que me seduz. Deve, sem dúvida, ser a vontade de ter algo que só as mulheres têm. Bom, a verdade é que sempre invejei os namorados das minhas amigas. Irrita-me vê-las com tanta masculinidade e, por vezes, queixam-se de que preferiam namorados mais delicados. Isto é verdade: há mulheres que gostam de homens, heteros, meio femininos. Não percebem? Nem eu!
Concluindo, recebi dois testes. Ultrapassei todas as minhas expectativas quanto às notas. Fui o único a receber os Parabéns! do professor. Fui a melhor nota da turma e uma das melhores de todo o primeiro ano àquela cadeira. Terei de confirmar a nota numa oral de confirmação com o professor regente.
À segunda cadeira, o professor referiu-se ao meu teste como «interessante e inovador». Fui, mais uma vez, a melhor nota da turma.
Sinto-me concretizado «profissionalmente».
Gostaria de dizer o mesmo quanto ao R., mas enfim, mal ou bem, temos sempre contacto. Gostava é que, de uma vez, me agarrasse com aqueles braços másculos e me levasse ao céu. Não nesse campo sexual, não. Gostava que ele me amasse como elas são amadas. Ele não fica nada atrás na forma de estar em relação a esses heteros...
Aproxima-se maio ("maio", que horror!). Pode ser que o calor o leve a tomar alguma iniciativa.
Eu limito-me a esperar. Por enquanto vou vendo-o, estando com ele e imaginando o que poderá acontecer. :)

26 de abril de 2011

Saudades




Saudades! Sim.. talvez... e porque não?
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!





Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade


24 de abril de 2011

Recordações de Uma Época em Que o Sol Brilhava Mais do Que Nunca


A tarde tinha cores garridas e extasiantes. O verde da relva era dotado de uma força invencível que me impelia a pisá-lo com as minhas sandálias vermelhas. Eu gostava das minhas sandálias vermelhas que a mãe, com carinho e dedicação, trouxera de Londres. O chapéuzinho azul redondo protegia a cabeça do sol intenso, todavia, a mãe sabia que eu preferia o rosa.
"Ó (...), o menino só gosta de cores de menina, que giro."
Corria indiferente aos argumentos dos adultos e à sua capacidade em complicar o simples. Tinha vontade de trespassar os altos muros brancos que me levariam até fora. Os outros meninos brincavam num lugar onde a liberdade gritava a plenos pulmões. Os meninos jogavam à bola, machucavam os joelhos e usavam o boné com a pala para trás. Eles eram feitos de carne e osso e eu de um material que bem mais tarde vim a descobrir qual era.
"Vem cá, não corras porque ficas com falta d'ar!"
O portão, gradeado, separava-me do mundo. Agora podia ver os outros meninos e as meninas. Por que razão eles lutam entre si para chamarem a atenção delas? Que terão de tão especial? Gosto daquele, pois bem, quero ser como ela para que também me veja nesses termos.
Pegou-me e trouxe-me de novo para a relva fresca, desta vez sentando-me no meu baloiço vermelho. Balançava aos impulsos dados pela mãe e sorria perante o céu azul. Na mão segurava uma bola com desenhos do Pluto e do Mickey Mouse. O que fazer com ela senão imaginar que poderia viver uma aventura semelhante?
"A mãe vai para dentro. Não saias deste bocadinho e não te aproximes do portão!"
Não respeitei. Queria ver os outros meninos. A rua silenciou os meus pequenos passos. Ninguém estava para olhar com admiração, inveja, talvez, a minha roupa imaculada comprada pela mãe...
"Este conjuntinho de roupa comprei-o no Porto. As sandálias achei um mimo. O C. não queria que eu as comprasse, mas achei diferente e como são de um material que não se vê em Portugal..."
Onde estariam? A eles, não os quero ouvir. Um cão passou e nem olhou para mim. Saíram.
O mundo corre e vive lá fora. Como seria bom se me tocasse da mesma forma, talvez erguendo-me e possuindo-me apressadamente em seus braços.
Aproximou-se, pegou-me na mão e levou-me para dentro. Olhei para trás e vi a bola caída, o baloiço inerte e um sol apelativo embora cada vez mais distante.
Sentou-me na mesa e deu-me um livro com gravuras e letras. Não sabia ler, mas pude desvendar o significado da história retratada. Quis saber mais. Quis viver por dentro o que não vivia por fora.
O sol continuava quente e luzidio no jardim.
Hoje continua quente, mas menos intenso do que naquela época em que o mundo era um e o amanhã uma teia de sonhos por construir.

23 de abril de 2011

O Velho Abutre





"O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas."






Sophia de Mello Breyner Andresen






P.S.: Perto de mais um aniversário do 25 de Abril de 1974, nunca é de mais recordar...


21 de abril de 2011

Rainhas e Infantas de Portugal


Soube, ontem, que o Correio da Manhã (jornal péssimo) está a fazer uma coleção muito interessante, por sinal, sobre as Rainhas e Infantas de Portugal. Ora eu, que adoro História, como sabem, não podia perder esta oportunidade. Não que a coleção seja fantástica, afinal, são dois volumes à terça-feira por sete euros ou seis e noventa e nove cêntimos, o que faz toda a diferença... Quero fazer esta coleção porque acho interessante ter uns livrinhos pequeninos, acessíveis e com uma apresentação simpática sobre as Rainhas e Infantas de Portugal. Relembro que já fiz uma coleção semelhante relativamente aos Reis e Rainhas de Portugal, também pelo mesmo jornal, e gostei bastante. Tem dados úteis e é especialmente benéfico para quem gosta de História e pretende ficar a conhecer mais.
O grande problema é que a coleção começou a 22 de março ("março", com minúscula, ao abrigo do Acordo Ortográfico; tenho de me habituar embora me custe imenso - e é o que me tem custado mais - escrever as estações do ano e os meses em minúsculas...) e eu só soube ontem. Resultado, tinha dez fascículos em atraso.
Telefonei à mãe, da parte da tarde, expliquei-lhe o que se passava e mandei-lhe um e-mail com o link do Correio da Manhã acerca da coleção. Ela foi lá quando saiu da empresa e comprou-me oito dos dez livros, sendo que os dois primeiros esgotaram completamente. Bom, já estão encomendados.
Os portugueses são assim: compraram e compraram os dois primeiros volumes até esgotarem no armazém do jornal; continuar e acabar a coleção é que é bem pior... Então, se não fazem intenções de completar, não comprem desde o início! Se há coisa que não tolero são coleções inacabadas. Provocam-me náuseas desde criança, na altura dos cromos / cadernetas das Navegantes da Lua, dos desenhos animados da Walt Disney, etc. Sim, eu não fazia coleções de cadernetas de futebol, vá se lá saber o motivo... LOL
Agora, fui a uma papelaria perto de casa e mandei reservar os fascículos que hão de vir ("hão de", sem hífen, ao abrigo do Acordo Ortográfico). Costumo fazer lá todas as coleções que me interessam. Já sou conhecido até por ser um bom cliente. :)
É interessante e não deixa de ser útil. Aliás, tudo o que se gaste em algo cultural é um investimento pessoal.
Deixo-vos o link (aqui)  para o caso de gostarem. :)


P.S.: A minha rainha favorita não entra na coleção porque foi rainha de facto e por direito próprio. Entrou, isso sim, na coleção dos Reis e Rainhas de Portugal. É ela D. Maria I. Esta coleção é dedicada às infantas e rainhas consorte e algumas mesmo com sorte. :)

19 de abril de 2011

Páginas de Um Diário (25 de Junho de 2007)


Querido Diário,


Como estás? Sei que não te escrevo há umas semanas, mas isto por aqui não anda muito bem. Isto, quero dizer, eu. Os dias são intermináveis e parecem não ter fim...
Sabes, a mãe casa-se este sábado que vem. Anda eufórica, feliz da vida. Posso afirmar mesmo que nunca a vi assim. Se é bom? Sim, é bom, é bom para ela e para todos, menos para mim. Sinto-me completamente perdido, isolado, sem rumo definido. Não sei qual o meu lugar, o meu espaço na vida de quem eu pensava serem as pessoas que mais me amavam.
Na semana passada, a mãe e a Leninha foram comigo comprar a minha roupa para o casamento. O shopping estava cheio de pessoas, felizes, às compras. Divertiam-se numa tarde de quase Verão. A Leninha e a mãe falavam e faziam planos sobre isto, sobre aquilo... Eu acompanhava-as mudo, apático, quase alienado da realidade. Só queria fugir dali, fugir delas. Queria encontrar alguém que pudesse abraçar, alguém em quem pudesse encostar a cabeça e sentir algum conforto. Pedi para ir ao banheiro e chorei, chorei como nunca tinha chorado em toda a minha vida. Chorei num pequeno cubículo de um banheiro público. Quando saí, um grupo, de três homens, olhou perplexo para mim ao ver o meu rosto todo molhado. Passei-o depressa por água e saí rapidamente. Sabes, tem sido assim nos últimos tempos. Já nada me faz sorrir. Passo os dias a chorar, seja no banheiro do colégio, no meu quarto, num beco de uma rua... Ninguém se preocupa comigo ou com o que sinto. Por fora, sou o espelho do "bom menino", sorrio, sou educado, transpiro alegria; por dentro, estou aos gritos.
A mãe gosta é de dizer às amigas que eu sou o melhor. Fica toda emproada quando o director do colégio ou os meus professores dizem que sou dos melhores alunos do colégio, que tenho notas assim e assado e que tenho um caminho brilhante pela frente... Chega! Que se lixem as boas notas! Eu não sou uma máquina, não sou alguém que nasceu para agradar a todos. A mãe exige e exige e nada dá em troca. Só tem olhos para o "noivo", o "noivo"! Isto é patético! Uma mulher que já tinha idade para ter juízo vai se casar pela terceira vez na vida. Parece uma adolescente que vai viver com o namorado pela primeira vez. Ridículo.
No fundo, já nem vontade tenho de protestar. Resigno-me, indiferente ao que vem por aí.
O pai não me telefona há meses. Como sabes, nem no dia do meu aniversário me ligou. Nem um e-mail, nem uma simples sms, nada... Vou falando com a avó, com a Leninha e o Pedro, mas não me abro o suficiente. O Pedro pensa que a fonte dos meus males está no pai, no meu pai. Ele "endeusa" a nossa mãe. Não que goste daquele maldito homem, mas não a enfrenta, cedendo a todos os seus caprichos.
Sinto-me num precipício prestes a cair lá bem no fundo. 
Ah, é verdade, vi o Luís a beijar uma rapariga do colégio. Normal, tratando-se dele.
Cada dia é pior e não vislumbro uma única esperança a curto ou longo prazo.
Tudo está a cair como um castelo de cartas. A minha vida, os meus sonhos e a minha felicidade.
Não sei quando te voltarei a escrever. Talvez nem o faça. Talvez morra até lá.
De qualquer forma, obrigado por me "escutares" e por seres o meu eterno confidente.

Beijinho,

M.

18 de abril de 2011

Amo-te Finlândia!


Estou a ficar previsível! LOL Disse, há não muito tempo, num texto relativamente à União Europeia e ao seu fracasso, que Portugal nada tem de familiar com os seus parceiros europeus. Como exemplo, referi a Finlândia. Ocorreu-me. Poderia ter referido a Hungria, a Polónia, Malta ou qualquer um dos países com os quais Portugal nada tem de próximo, salvo o território geográfico, e mesmo esse com reservas. Próximo da Hungria? Onde? (ver o texto, aqui)
Dito e feito. A Finlândia nada sente por Portugal e a maior prova foram as recentes hesitações finlandesas numa provável ajuda ao nosso país. Até compreendo o ponto de vista nórdico: Portugal é um país latino, ocioso, preguiçoso e mau cumpridor das suas obrigações. Resumindo, é um mau aluno. Os povos escandinavos, pelo contrário, são conhecidos pelo seu pragmatismo e sentido de responsabilidade. É natural que não queiram arcar com as dívidas e os défices lusitanos. Bom, a extrema-direita não ganhou as eleições por lá. A ajuda estará - parece - garantida.
Nos mesmos dias destes recentes desenvolvimentos, o Brasil, Angola e Timor - a nossa família - afirmaram que pretendem ajudar Portugal, nomeadamente através da compra de títulos da dívida.
É uma boa demonstração, sobretudo para os europeístas, de que a Europa pouco ou nada se importa connosco. A Europa dá a migalha ao seu vizinho porque é de mau tom ter um quintal tão pobre e desarranjado.
Reitero: a solução para Portugal está na sua capacidade atlântica e na CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa).
Em jeito de conclusão, relembro que, apesar da construção europeia se ter iniciado com o Tratado de Roma, em 1957, que institucionalizou a Comunidade Económica Europeia (C.E.E.), a Expansão Marítima Portuguesa começou com a Conquista de Ceuta, em 1415. 
Nada mais tenho a dizer.








P.S.: Deve ser a primeira foto de um homem em tronco nu que coloco no blogue. Apeteceu-me deixar-vos com algo que relembre a Finlândia! LOL
Ah, o título é irónico. ^^

17 de abril de 2011

Pensamentos Amenos


Gosto das tardes de domingo. Bom, desde criança que prefiro os sábados exclusivamente porque não antecediam de imediato a segunda-feira. À medida que os anos foram passando e devido ao divórcio dos pais, o domingo passou a ser o dia em que almoçamos em família ou - e gosto mais desta vertente - almoço com a mãe.
Hoje não foi exceção. Almocei com a mãe e com o mano. Disse-nos, pela primeira vez, que está a pensar em assentar, casando e construindo uma família com a pessoa com quem namora. Fiquei estupefacto. Não que ele fosse totalmente avesso à ideia de casar, mas sim porque a fama (e o proveito...) de D. Juan não o largam. Modéstia à parte, o meu irmão é muito giro. Sai ao pai, pai dele, uma vez que somos filhos de pais diferentes. O pai dele é um cinquentão bem charmoso e quando era mais novo era giríssimo. Desde que namora com esta rapariga, o Pedro anda diferente. Mais caseiro, familiar e até mais simpático. Deve ser o amor...
Falámos da minha ida ao Jardim Zoológico (lembram-se?). Não ficou esquecida. Gostava de ir com os manos, apesar de saber que a vida profissional deles não é compatível com aquilo que peço. Queria recordar os nossos passeios quando eu era criança, aquilo que me divertia e brincava. Creio que vivo muito do meu passado. Aliás, às vezes dava tudo para que o tempo voltasse para trás, mesmo sabendo que é impossível. Tento, então, reconstruir os pedaços da minha infância. É, de certo modo, injusto. Há milhões de crianças que nunca tiveram uma infância. Eu tive e foi muito feliz. Não é justo que queira viver duas vezes o mesmo quando há quem nunca o tenha vivido. A mãe deu-me a sua palavra. Disse que irá comigo. O Pedro ficou de confirmar.
Durante o almoço, dei por mim a pensar na ideia de convidar o R. Seria imensamente divertido. Poderia apresentá-lo ao Pedro. Tenho quase a certeza de que ele não refutaria a ideia se lha expusesse. Aceitaria, sei que sim, para mais sabendo que teria alguma importância para mim. Quem sabe...
Depois do almoço, o Pedro teve de se ausentar. Teve de ir a qualquer lugar com a namorada. Recordei-me dos ciúmes que tive dela, sobretudo após o divórcio. O Pedro representou o pai que se afastou, que foi para longe. Foi ele o homem lá de casa quando o homem lá de casa saiu. Não que o pai fosse autoritário. Nada disso. Nem em sombras. Porém, era a figura masculina por excelência, mais o Pedro, porque eu... Pois... Quando o Pedro começou a namorar com ela, senti-a como uma rival, alguém que mo roubava. Odiei-a tanto e ela sabe-o. Ainda hoje não gosto dela. Assumo-o, mas compreendo e respeito o seu lugar na vida dele. A réstia de esperança de uma separação, essa, ninguém ma tira... Toda a família sabe, a mãe sabe, o Pedro sabe e até o pai dele sabe: eu tenho ciúmes doentios pelo meu irmão. Gosto demasiado dele. Por isso, nunca gostei de nenhuma namorada das várias que já lhe conheci.
Comi um gelado com a mãe numa gelataria e voltámos para casa.
Gosto destes dias aparentemente banais. Raramente estou com a mãe desde que a faculdade começou. Temos horários diferentes e há dias em que não jantamos juntos. Sinto-a a entrar no meu quarto para me dar um beijo de boa noite.  É o sinal da hora a que chegou.
Temo que o Pedro se case. Não lho disse, mas sinto-o. Esta rapariga chegou e vai levá-lo de vez. Terá filhos e gostará mais deles do que de mim. O pai também já gostou mais de mim.
É esta a lei da vida. É esta uma lei injusta.

15 de abril de 2011

Sabem o que é...


...uma tarde divertida? Foi a minha tarde de hoje. Divertidíssima. Depois das aulas, completamente exausto por ser sexta-feira, saí da faculdade e meti-me no carro à procura, por essa Lisboa fora, de um livro para a cadeira de História Política. Fui a tudo o que é livraria conhecida e menos conhecida. Passei pelo Saldanha, Avenida António Augusto de Aguiar, Duque D'Ávila, Avenida da Liberdade, etc, etc, etc, e não encontrei o malfadado livro do Drº Diogo Freitas do Amaral! Não há, pura e simplesmente. Está mais do que esgotado: está esgotadíssimo. Até a livrarias dos bairros típicos fui...
Foi uma tarde daquelas mesmo inesquecíveis. Primeiro, aborrece-me conduzir sozinho durante muito tempo; segundo, estava com uma terrível dor de cabeça que me pedia descanso urgente e incondicionalmente.
Uma senhora propôs-me encomendar o livro online na editora. O meu problema é a urgência em adquiri-lo. Preciso do livro para estudar para um teste que está marcado para muito breve!
Acabei por comprar quatro livros (uma coleção) de outro autor. São bastante bons e também foram recomendados pelo professor no programa da disciplina. Até há quem diga que são melhores.
Uma colega sugeriu-me fotocopiar os livros numa casa em Lisboa que se dedica a isso. Pior a emenda do que o soneto... Os livros não se fotocopiam: é um crime e é muito feio fazê-lo. Mais, não há nada como ter um livro. É sempre um livro que podemos colocar na estante da nossa biblioteca pessoal. Eu ainda não tenho a minha. O escritório da mãe, cá em casa, é mesmo da mãe e tem os seus livros que já são imensos. Os meus guardo-os numa estante pessoal na minha salinha de estudo, vulgo o meu quarto de vestir, que adaptei para as duas funções. LOL Um dia em que tenha a minha casa, terei a minha biblioteca pessoal recheada de livros. *.* Os meus colegas são tão minimalistas que me provocam náuseas! Ia-me esquecendo: eu não leio livros fotocopiados. É horrível, ponto.
Portanto, faço aqui um apelo ao Drº Diogo Freitas do Amaral que, quem sabe, possa ler o meu blogue. É lido por tantas pessoas!... Drº, se tem um exemplar em seu poder (como certamente terá), entre em contacto comigo. LOL (:

14 de abril de 2011

Profecias


Cada vez mais me convenço de que em breve terei um surto de inspiração e acertarei nos números mágicos do concurso Euromilhões. É que vaticino tantas coisas que acabam por se confirmar, que só me resta a esperança de que a sorte me bata à porta num destes dias.
Fernando Nobre. É desse grande senhor que vos venho falar hoje. Uma pessoa realmente fantástica. Alguém independente, deveras independente, que não hesitou num só momento em aceitar um bom cargo político. Deputado, parece-me bem. Por enquanto, seria bom para mim. Presidente da Assembleia da República ainda seria melhor. Já viram, eu como a segunda pessoa na hierarquia do Estado. Seria formidável.
Claro que não passaria pela AMI para conseguir todas estas coisas. Porque eu digo, frontalmente, que sou ambicioso. Digo que quero mais e mais e que gostaria de ter um bom cargo, com notoriedade, fosse onde fosse.
Porque eu, no fundo, não vivo de aparências e não omito o que sou. Porque eu sou transparente.
O meu post  sobre as Presidenciais fez todo o sentido. O ponto de interrogação transformou-se num presente envenenado. As minhas intuições raramente me enganam - e atenção - eu não sou como o Exmo. Senhor Presidente da República Portuguesa, vulgo Cavaco Silva: eu tenho dúvidas. Todavia, as minhas dúvidas consubstanciam-se em algo relevante. As coisas insignificantes não me suscitam dúvidas. São o que são e ponto final.
Talvez tenha futuro a ler tarot ou a sina nas horas vagas.

13 de abril de 2011

A Cor da Tarde


Sim, sobrevivi a dois testes às duas cadeiras nucleares deste ano. De sublinhar - e é aí que reside o mérito - que ambos foram em dois dias seguidos. Pouca coisa... Algo como perto de duas mil páginas até nem é assim tanto. LOL Claro que foi uma leitura gradual, com tempo e sem pressas. Vou estudando e lendo dia após dia, logo, tudo se torna bem mais fácil.
Acho que o esforço despendido para ajudar o R. irá compensar. Vi-o, pela primeira vez, convicto durante os testes. Por vezes, lançava um olhar discreto para ver se ele escrevia muito ou pouco e se o fazia com segurança. Pareceu-me que sim.
O último teste foi hoje. Último, claro, destes dois. Só tenho a criticar o tempo que nos dão. É manifestamente insuficiente responder a tantas perguntas numa escassa hora. Bom, enfim, se nos debruçarmos no essencial até que vai lá.
Hoje, depois do teste, fomos almoçar em turma. Detesto almoços de turma! Gosto de almoçar com quem gosto e queria almoçar apenas com o R. - evidentemente que gosto de mais pessoas da minha turma. Não sei, projetei que almoçaríamos os dois, sossegados, sem ninguém a atrapalhar. Estragaram-me os planos. Há lá com cada faminto!... Só faltava lamberem os pratos com tanta sofreguidão a comer. Uff!...
Depois do almoço, o R. fez-me um convite. Convidou-me para irmos a algum lugar comer um gelado ou algo do género. Fez-me o convite à porta da faculdade, quando mais ninguém estava presente. Puxou-me o braço delicadamente e propôs-me o convite. Aceitei, até porque nada mais tinha para fazer de tarde.
Fomos até ao Centro Vasco da Gama. Nunca gostei tanto daquela espelunca. LOL Foi fantástico. Demos uma volta pelo shopping, depois saímos e fomos concretamente até ao Parque das Nações. Passeámos um pouco pelo rio. Ele comprou-me um gelado daqueles de cone com três bolas (LOL) e comprou um Magnum de Amêndoas para si (detalhes super importantes! LOL).
Tenho - melhor - tinha um certo mal-estar com aquela zona. Foi lá que dei o meu primeiro passeio com um rapaz que prefiro nem me recordar. Consegui abstrair-me de tudo e posso dizer que foi uma tarde fantástica, não obstante aquele calor infernal que se fez sentir na capital.
Ele, hoje, até estava bem vestidinho. Uma t-shirt amarela com uns estampados coloridos, uns jeans normais e uns ténis novos! Até fiquei admirado. Agora usa umas fitas de cor no pulso. Uma aberração... Enfim, gostos são gostos.
Não é que me carregou os livros! Oh, um querido! Eu explico: apesar de ter imensas malas e mochilas, quando tenho testes, exames, ou afins, gosto de trazer os cadernos da disciplina a que vou ser avaliado e os respetivos livros ou sebentas na mão. É uma forma de tê-los sempre disponíveis. Então, para eu não estar carregado com aquilo na mão, ele fez questão de mos levar. (: Foi tão fofo da sua parte.
Trata-me como eu gosto de ser tratado. Às vezes (Deus me perdoe este pensamento!), até parece um empregado girinho, da minha idade, que tenho para me acompanhar. LOL Calma, não o vejo dessa forma.
Perguntarão vocês (e bem): «E mais, mais?»
Eu respondo (tcharan): Mais nada.
Demos o passeio à beira-rio, falámos, sentámo-nos num daqueles blocos brancos e nada mais. Claro que houve alguns olhares, aquele climazinho, mas tudo ficou por aí.
Sejamos honestos: está tudo dito. Então, convida-me para comer um gelado, passeamos como dois namorados, rimos, brincamos, etc... Que programa tão hetero, não haja dúvida!...
Considerações à parte, gostei mesmo. Não sei se foi da luz, do clima, de todos os pormenores, mas foi uma tarde tão mágica. :)
Nem eu, nem ele precisamos de mais.
É bom assim.

10 de abril de 2011

Congresso Socialista


Acompanho atentamente o desenrolar da atualidade política em Portugal. Como já o referi, não acredito que existam boas e sérias alternativas no espectro político nacional. Parece-me tudo demasiado evidente, lógico e previsível. As pessoas estão cansadas de acreditar e mais cansadas ainda de se submeterem a sacrifícios em nome de um bem-estar que tarda em chegar. A esperança esvai-se a cada dia, a cada discurso, a cada eleição...
Vi, por alto, o Congresso do Partido Socialista à medida que também ia estudando. Há bastante tempo que não via tantas horas de televisão. Cheguei mesmo a pousar a caneta e a olhar com atenção para o que via. E vi, vi bastante. Vi, porventura, mais e mais do mesmo. As mesmas frases, as mesmas promessas, no fundo, os mesmos clichés políticos no início de mais uma campanha eleitoral.
Não há, decididamente, renovação nos cargos políticos deste país. O poder corrompe o Homem, disso não restem dúvidas. Aliás, é das poucas certezas que tenho na vida. A ânsia de mais e mais não permite que tenhamos opções realistas a médio prazo. Esta não é - nem pretende ser - uma crítica ao PS. Não é exclusivo do PS; passa-se um pouco por todos os partidos políticos. Verdade seja dita, o PSD tem alternado nas chefias do partido, apesar do mesmo se dever mais aos maus resultados do que propriamente ao desejo e à convicção de que a alternância democrática é saudável em qualquer sociedade pluralista. Jaima Gama disse que «não há insubstituíveis...», naquele que entendi ser um discurso muito vocacionado para o secretário-geral. Não obstante todas as críticas dirigidas à oposição, Gama lançou um tímido e discreto aviso a José Sócrates. Foi ovacionado de pé.
Ana Gomes discursou tarde. Indesejada? Talvez o seja. É considerada uma das vozes mais discordantes da governação socialista dos últimos seis anos. Navega sozinha num mar tumultuoso, a julgar pelo número de pessoas na plateia...
O desejado discurso do Primeiro-Ministro demissionário não me convenceu, a mim, que o apoiei em todos os atos eleitorais. Chamem-lhe desilusão, chamem-lhe o que quiserem, mas nem o facto de ter revolucionado o país em determinadas questões fraturantes é o suficiente para que o considere um homem à altura do cargo que desempenha. Portugal gosta de líderes fortes, com presença e um punho de ferro. Daí o velho abutre, como Sophia de Mello Breyner Andresen o apelidou, e todos os trejeitos conservadores e ligeiramente autoritários que encontramos nesta débil e precoce democracia, salvas as devidas diferenças. Sebastianismo do século XXI?
Não sei que resultado sairá no dia 5 de junho. Para ser sincero, pouco ou nada me interessa. Votarei, claro, isso não está sequer em causa. Uma coisa, porém, é certa: se vejo José Sócrates e Paulo Portas de braços dados, eles que tanto dizem mal um do outro, numa coligação pós-eleitoral, perco totalmente a (pouca) confiança que ainda me resta na política portuguesa. Um Bloco Central, PS / PSD, não me provoca tanta aversão.
Decididamente, perdi o tempo que deveria ter utilizado para estudar.

7 de abril de 2011

Tarde de Estudo


Lembram-se da tal tardinha de estudo que combinei com o R.? Foi hoje. Depois das aulas, almoçámos e fomos até ao jardim da faculdade para estudarmos um pouco. Ambos nos sentámos num banco do jardim, mas, passado pouco tempo, o R. teve a magnífica ideia de nos sentarmos na relva... Bem, há imenso que não me sentava na relva. É terrível! Suja muitíssimo e tenho medo dos bichos que andam nesse verde fora... Lá me sentei e foi a carga dos trabalhos para começarmos a estudar. Nem foi mau de todo, uma vez que a temperatura da terra fresca contrastava com o calor que se fazia sentir.
O R. tem uma facilidade verdadeiramente admirável em ser informal. Senta-se, estica as pernas, coça a cabeça e fica assim, impávido e sereno, a contemplar não sei o quê... Eu estava constrangido, óbvio. Senti-me vulnerável, sentado naquela relva a sujar as minhas calças. Ele só se ria do meu ar meio enjoado. Pudera, não estou habituado, como ele, a determinadas situações. Só faltava a toalha, o frango de churrasco e as minis para parecer um piquenique na mata de Monsanto!...
Confesso que, às vezes, tenho curiosidade em saber o que se passa naquela cabeça. Ele não estava minimamente importado com o facto de sujar a roupa ou parecer mal estarmos naqueles preparos. Também, usa uns ténis já meio surrados - que para muitos é moda, mas para mim é horrível - e uns jeans que aparentam sujidade entranhada. Que estilo, meu Deus. Tem assim um estilo meio rebelde, totalmente diferente do meu.
Agora ganhou a mania de me chamar «menino de colégio», sabendo perfeitamente que isso me irrita. E quanto mais demonstro o meu desagrado, mais ele se ri e repete.
Vamos ao estudo... Sim, estudámos, até bem mais do que aquilo que supus inicialmente. Ele é inteligente e de início tirava boas notas, mas agora anda com mais dificuldades. Admito que gostei do meu papel de professor. Gostei de ver o seu rosto a contemplar o meu com alguma visível admiração e do seu ar concentrado (ou a tentar tê-lo).
Ainda confesso mais: confesso que desejei que me beijasse, apesar de saber que não o faria por estarmos num lugar público, sujeitos, provavelmente, a olhares indiscretos.
Tivemos sede e ele foi buscar-me um ice tea de pêssego, com uma palhinha, como sabe que eu gosto. Reparei nesse detalhe. Pedi-lhe que me abrisse a lata, até porque não tenho jeito, e ele fê-lo. Nessa altura senti-me verdadeiramente acarinhado por si. Senti-me como uma rapariga indefesa que está nos braços do seu namorado que a protegem do mal do mundo. Sim, pode parecer banal, mas foram minutos tão mágicos. Parecia tudo tão perfeito, tão idílico, que cheguei mesmo a ignorar nos meus pensamentos que nada tinha de semelhante àquele mero rapaz que estava ao meu lado.
Apeteceu-me tanto... Deitar-me no seu colo, insinuar-me, pedir-lhe um abraço caloroso... Nada o fiz. Todavia, creio que fizemos bastante à nossa maneira. Desta vez não houve festas na cara, mas houve pequenas demonstrações de que ele me trata com consideração e estima. Sabe que eu sou diferente, até meio atadinho para o mundo real, mas respeita-me.
Não trocava o dia de hoje por uma ida ao melhor restaurante de Lisboa ou à melhor loja de roupa.
Há momentos que não se compram e os de hoje são alguns deles.

6 de abril de 2011

Talvez Um Dia


Se um dia compreendesses as razões do meu coração, perceberias como me podias fazer feliz. Perceberias que o mundo é grande e que existem bem mais cores para além do preto e do branco. Perceberias que o Sol nasce sempre pela manhã e que o vento fresco traz consigo a esperança.
Se fosses, talvez, um pouco mais sensível, perceberias que é tão fácil fazer alguém se sentir bem. Entenderias que o mundo é feito de partilha e que há palavras mesmo quando não as expressamos pelos sentidos. Saberias que há detalhes mínimos que fazem toda a diferença, pormenores de nada que são tudo, artifícios que pintam a vida de cores mais alegres. A substância talvez não seja alterada, mas tudo ganha um novo ênfase, uma nova motivação.
Se estivesses mais próximo, talvez o céu ganhasse um azul mais intenso. Talvez o mau se transformasse em bom, talvez a vida vivesse ela própria os seus dias. Talvez eu fosse outro, talvez os meus olhos vissem o mundo numa perspetiva diferente.
Se o mundo fosse mais justo, talvez todos pudéssemos dizer que isto vale a pena. Talvez as vontades fossem as mesmas, talvez os patamares de desejos se confundissem incessantemente. Talvez fôssemos, afinal, iguais dentro de toda a diferença. Talvez o receio desaparecesse na neblina escura.
Se a realidade pudesse, ela própria, mascarar-se de beleza, talvez o seu negro não fosse tão temido. Mas o embate é violento e as pernas tremem a cada confronto. Talvez o ser humano não desse tanto valor ao sacrifício.
Se fosses meu, talvez eu pudesse tocar-te, sentir a tua pele na minha, acalmar a tempestade.
Talvez se fosses meu.

4 de abril de 2011

Dissertação Sobre o Estudo e Mais Qualquer «Coisa»


Para a semana tenho dois testes daqueles bem complicados. Bom, não é que os restantes sejam fáceis. É evidente que não, todavia, para a semana tenho testes àquelas cadeiras que são consideradas nucleares para o primeiro ano. De tal forma nucleares que li, para uma delas, bem mais de mil páginas e, para a outra, perto de mil. Felizmente adoro ler. Nunca foi um problema, aliás, é um enorme prazer. Sou um ávido leitor de tudo o que surge diante de mim. Admito mesmo que tenho um prazer, confesso, em ler. Claro que sou um pouco eclético no que diz respeito às minhas leituras, mas também leio revistas do social! Não tenho quaisquer preconceitos.
Já referi uma vez no blogue que estudo uma média de quatro horas por dia. Raros são os dias em que dispenso o estudo. Pessoalmente, estudar não é uma obrigação: é uma vontade, uma enorme e agradável atividade que estimula bastante a minha capacidade criativa e intelectual. Se parasse, certamente morreria. Eu estudo nas férias, dando como exemplo.
Claro que na faculdade há de tudo: há quem estude, há quem não o faça; há gente estúpida - na real acepção da palavra - e há gente inteligente que se aplica. Uns estarão, eventualmente, vedados a determinadas escalas de conhecimento e de sabedoria. As capacidades não são idênticas em todos e quem disser o contrário, mente. Contudo, uma boa dose de estudo é parte substancial do trabalho. Ter aptidões não chega; é preciso desenvolver e aproveitar tudo o que temos por inerência. Se não estudasse, sentir-me-ia subvalorizado. Por isso, quem tem capacidades aproveite-as quanto antes, que o país não «está para brincadeiras».
Para além do referido anteriormente, sou extremamente organizado. Faço extensos resumos da matéria lecionada com o apoio dos manuais utilizados. Os meus resumos assemelham-se a livros. Já mo disseram e começo a acreditar. Tento, também, conhecer as opiniões de vários autores, uma vez que no Ensino Superior, contrariamente ao que se passa no terrível Ensino Secundário, valoriza-se muito a capacidade crítica e discordante relativamente à opinião dos professores. Não importa anuir: importa pensar. E pensar é o que cada vez menos se faz neste país. As pessoas deixam-se levar pela corrente e perdem a capacidade crítica, caindo no conformismo que, em Portugal, assume proporções inimagináveis. Torna-se progressivamente mais difícil manter uma conversa séria e lúcida com alguém sem que se toque no futebol, na demagogia política, vulgo politiquice, e nas intrigas que, aqui e ali, pairam na sociedade.
Em jeito de concretização (ainda) mais pessoal e, sem dúvida, mais apetecível, combinei uma tarde de estudo com o R. Ele anda com dificuldades em algumas cadeiras e solicitou a minha ajuda. Para que não se sentisse muito mal, disse-lhe que era uma forma de também aprender mais qualquer coisa. É sempre bom estudar com colegas. Mentira piedosa é punível? Kant diria que sim...
Fez-me uma festinha no rosto. Não sei se terá alguma relevância, se não, mas acho que deveria dizê-lo, afinal, vocês têm acompanhado a «saga». Não atribuí qualquer importância ao gesto. Começo a ganhar defesas a estas manifestações intencionais (?) de carinho por parte de determinadas pessoas.
Ele ganha uma tarde de estudo. Eu perco uma tarde de estudo.
Somos colegas.
Parece-me razoável. 

3 de abril de 2011

Não Deixes Para Tão Longe


Como se o amanhã fosse perto. Como se tivéssemos todo o tempo disponível. Como se fôssemos como os outros. Como se o sol brilhasse de igual forma. Como se os dias tivessem a mesma cor. Como se o olhar fosse semelhante. Como se estivesses aqui. Como se o chegar fosse fácil. Como se não quisesse o que penso. Como se te pudesse tocar da mesma forma. Como se a distância não fosse longe demais. Como se me visses com outros olhos. Como se risse com prazer. Como se me pegasses ao colo. Como se me protegesses do mal do mundo. Como se fosses a luz das minhas manhãs...
Como se pudesse ser quem sou. Como se pudesse correr de igual forma. Como se a respiração não ficasse presa na garganta. Como se pudesse caminhar em paz. Como se fosse indiferente para o mundo. Como se estivesse contigo. Como se me quisesses dessa forma. Como se soubesse para onde vou. Como se esperasse por ti. Como se esperasse por alguém. Como se a inocência ficasse para sempre.
Como se os sonhos fossem mais fortes. Como se a esperança fosse a última a morrer. Como se o cansaço não me tomasse. Como se vivesse de novo. Como se não perdesse nada.
Como se as noites fossem menos longas. Como se o choro não se soltasse. Como se o medo não espreitasse. Como se o silêncio não magoasse. Como se o tempo não existisse.
Como se fosse fácil dizer que te amo.
Como se fosse fácil ser feliz.

1 de abril de 2011

Páginas de Um Diário (17 de Fevereiro de 2006)


Querido Diário,

Neste momento que te escrevo são duas e vinte da manhã e tenho o rosto molhado. Sim, estive a chorar.
O pai saiu de casa antes do jantar e disse que não voltará. Pouco antes disso, da parte da tarde, o pai discutiu com a mãe na sala de estar. Não falaram alto, mas deu para perceber que algo não estava bem. O Pedro saiu do seu quarto e foi lá ver o que se passava. Eu espreitei pela porta e vi-o a descer as escadas.
Já jantámos sem o pai. Ele veio ao meu quarto, sentou-se na cama e contou-me o que se passa. Disse-me aquelas frases banais, de circunstância, de que vai continuar a ser o meu pai, de que nunca me vai deixar, de que, enfim, separa-se da mãe e só. O meu lugar mantém-se igual. Não sei porquê, mas algo me diz que as coisas não são bem assim e que tudo se vai alterar. Pressinto-o. Nem sei para que lugar ele foi. Levou uma mala com algumas coisas e saiu de vez.
Durante o jantar nem uma palavra se falou sobre a discussão. Jantámos os três em silêncio. O Pedro lá olhava para mim para ver se eu estava bem e pouco mais.
Apetecia-me falar com alguém, explodir, gritar! Sinto-me impotente! Não posso fazer nada para mudar o que já está feito. Resta-me esperar, esperar pelos desenvolvimentos...
Queria desaparecer daqui, fugir, embora não saiba para que lugar. Gostava que o Luís me viesse buscar e me levasse para qualquer lugar. Sei lá, fugíamos ou algo do género. Oh, seria estúpido! A mãe colocaria a polícia à nossa procura e rapidamente nos encontrariam. Ou então podíamos ir para Espanha, França, sei lá, para bem longe daqui. As fronteiras estão abertas. Seria tão fácil...
Sabes, a cabeça pesa-me apesar de não ter sono algum. Sinto as pálpebras pesadas e doridas. A almofada está molhada. Acho que vou dormir com o Simba, bem agarrado a ele. O teu lugar é que é mesmo insubstituível. És o meu fiel confidente e ouvinte. E sempre o serás ( pelo menos até terminarem as tuas páginas ).

Adoro-te,
Beijinhos,

M.