22 de outubro de 2011

The first day of your life.


Sempre me perguntei qual será a sensação de poder viver grandes momentos, marcos políticos ou transições importantes. Quem nasceu nos finais do século XX, como eu, pouco ou nada viveu de relevo; um relevo transversal às nossas vidas simples, iguais e entediantes.
Questionei-me, na biblioteca da faculdade, entre livros mais legalistas e outros mais históricos, o que sentirão aqueles que presenciam acontecimentos que mudarão para sempre os seus destinos. Passou-me pela cabeça o 25 de Abril de 1974; o fim da II Guerra Mundial e o desembarque dos Aliados na Normandia; a libertação dos países ocupados pelas forças nazis; a queda do Muro de Berlim; o fim dos socialismos na URSS e países do Pacto de Varsóvia; as transições democráticas no sul da Europa e, nos anos 80 e 90, na América Latina e, mais recentemente, as convulsões sociais no Médio Oriente e norte de África. Como será olhar para o céu, nas ruas, e sentir o sabor da mudança, da passagem para novas eras, cheias de sonhos por concretizar.

Nada vivi, ainda.


O sol da manhã batia timidamente na minha pele, trespassando o espesso vidro da biblioteca. Iluminando os livros abertos, o reflexo levou-me a cerrar os olhos.
Vejo rostos abatidos e uma esperança que foge a cada instante. Os rostos do desânimo, de uma conjuntura que se tem como perpétua, de um túnel que terminou num beco escuro. Aqui não se passa nada.

Combinei com o rapaz que conheci há uns dias atrás e ele apareceu. À sua chegada, os pensamentos esvaíram-se rapidamente da minha cabeça.

"Precisas de ajuda a Obrigações, não é?"
(interpretou o sentido da minha sms)

"...convém saberes as posições doutrinárias de cada autor sobre os contratos-promessa e os contratos de compra e venda."

"Oponibilidade erga omnes e inter partes, percebeste?"

"E às restantes cadeiras?"

Percebo mais de negócios jurídicos unilaterais e contratos do que de mim próprio. Não é bom sinal. Obrigado pela ajuda. Apercebi-me do seu esforço e senti-me desonesto devido à minha quase indiferença perante a sua prontidão. Quis dizer-lhe que gostava dos padrões da camisa, mas achei "too gay". Como diz uma boa amiga minha: "... há coisas que "fica" aí dentro (e gesticula); não "sai" cá p'ra fora." (e gesticula de novo).

"Queres ir à festa do Halloween na faculdade?"

"Não sei. Vou pensar nisso..."

A propósito até. Let's celebrate... nothing. 


4 comentários:

  1. lol acho que não é preciso dizer nada, tu próprio sabes o que está mal...

    Uma vez que gostas de história, aconselho-te a ver o documentário "Shock Doctrine", vai-te abrir os olhos em relação a algumas coisas que se passam no nosso mundo...

    Abr

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  2. Miguel: Oh, obrigado pela sugestão. Realmente gosto muito de História e aceito todas as sugestões nesse sentido. :)

    Abraço. ^^

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  3. Cada vez gosto mais de falar contigo.

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