14 de outubro de 2011

Dualismo.



Dizer que nem eu próprio me consigo entender parece-me vago demais. Efetivamente, a cada dia que passa, sinto-me progressivamente mais afastado, alheado do que me rodeia. De redoma de cristal (porque vidro era um material que não me assentava bem), construí uma cápsula que a cada instante se introduz num foguetão e me leva para longe. O ano foi prolífero em não-transformações, mas sim em acentuações. Tudo se intensificou, absolutamente tudo, incluindo, claro está, o bom e o mau.
Especificando e concretizando o meu raciocínio, materializando-o de forma a que o mesmo assuma algo palpável aos sentidos, digamos que optei por ficar em casa a observar sem abrir, concretamente dois livros espessos que comprei para as aulas, em vez de ir a uma famosa festa universitária que se realiza hoje. Todos foram, aquele rapaz que conheci na livraria incluído, exceto eu.

O dualismo verifica-se precisamente por saber que deveria ir. Há quem não o faça por quaisquer motivos que se impõem; eu, não. Não fui apesar de algo em mim querer estar lá. No entanto, assim como uma parte desejava estar lá, até porque seria uma boa oportunidade de conhecer este novo amigo ou até mesmo de socializar mais com o R., um outro lado, mais recatado, impôs-me que não o fizesse. Dei desculpas a mim mesmo, desde que não era um bom ambiente para mim (de facto, é algo meio sórdido, com bebedeiras enormes, quedas devido ao chão se encontrar molhado de álcool, algumas brigas, engates e, segundo consta, cenas de sexo escondidas), até que amanhã teria aulas e, por isso mesmo, o bom senso recomendar-me-ia que ficasse em casa. Não gosto, de todo, de ambientes daqueles, mesmo estando presentes os meus amigos da minha faculdade e de outras faculdades. Não se trata de uma gala; é uma festa com muito álcool e confusão. Inóspito, no mínimo.

Não me convenci a mim próprio. O verdadeiro motivo é o progressivo alheamento ao qual me referi no início. Outras situações têm demonstrado isso mesmo. Talvez seja um amadurecimento, mas amadurecer é positivo e a minha situação não o é. Sinto, apenas, que não sou o mesmo. O nome que se aplica melhor ao que eu sinto, vista que está a insuficiência das palavras, é a apatia. Estou apático, indiferente.

Estarão a beber e a dançar. Não os invejo, afinal, também eu poderia estar lá. Detenho-me a escrever e a pensar. Não temos todos o mesmo papel a cumprir. O meu começa a desvendar-se diante dos meus olhos.


9 comentários:

  1. o tempo faz-nos dessas coisas.

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  2. Sou um pouco como tu, às vezes gostava de ir a certas coisas, mas depois, pensando melhor, fiz bem em não ir.
    Enfim, acho-te fofo =)

    *

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  3. sad eyes: Sim, a mim tem-me mudado particularmente. ^^

    Miguel: Obrigado, mas sou como qualquer outra pessoa. (:

    Abraço a ambos. :3

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  4. Pode ser que isso seja só uma fase Mark...

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  5. Ola Mark,

    Compreendo-te perfeitamente, caro companheiro "blogosférico". Porém convido-te a reflectires de forma mais aprofundada sobre o facto de te sentires assim. Sinto que talvez haja uma razão mais forte que explica esse teu estado. Alguma coisa que tenha acontecido recentemente na tua vida? Algo que te tenha marcado particularmente?
    Ou afinal talvez estejas simplesmente a mudar e que te estejas a sentir estranho (e consequentemente te isolas).
    Não sei...
    Até já

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  6. Sapo: Nada aconteceu na minha vida com importância tal que alterasse a minha forma de ser. Também nada me marcou. Creio mesmo que é a falta das duas coisas que me provoca a apatia...

    Abraço. ^^

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  7. Oi, nem precisas de publicar este comentário é só pra te dizer que mudei o meu blogue pra http://birelatos.blogspot.com/

    obrigado :D

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  8. Lobo: Publico, claro. Assim outros leitores ficarão a saber. :) De nada. ^^

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  9. Eu não faltei a muitas festas universitárias, mas inevitavelmente que o dia seguinte era afectado, pelo menos as primeiras aulas da manhã.
    Fazem parte de uma fase da vida, e de certa forma tenho pena que não explores isso nesta altura, porque mais tarde não terá o mesmo sabor. As festas universitárias não se resumem a álcool e quedas, e algumas das mais divertidas foram aquelas em que levei o carro e me abstive do álcool.

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