1 de agosto de 2011

Até já, Papá.


Parece que foi ontem que tudo aconteceu. No fundo, pouco mudou na minha forma de ser desde que te foste embora. O meu âmago é igual, talvez os pensamentos sejam menos obtusos e a consciência mais nítida do que outrora.
Continuo a guardar - e a rever - os álbuns fotográficos de anos e anos que me pareceram felizes, pese embora germinasse, em nós, a semente da discórdia. Foram anos de felicidade, vividos e sentidos como se perdurassem para sempre, não esgotados na sua plenitude, pois a certeza de que seriam infinitos era um ponto assente. Os sorrisos eram verdadeiros, o amor também, mas aprende-se, com o tempo, de que nada é para sempre e que todas as certezas são refutáveis.
O amor também pode ser um pedaço perecível de coisa nenhuma. Acontece por todo o lado, esgota-se, acaba.
Continuo a sentir os aromas dos teus perfumes, a textura sedosa dos teus fatos, o brilho dos teus sapatos escolhidos cuidadosamente e ao pormenor.
Concebi um intervalo de tempo entre o passado e o presente, transformando esta lacuna numa breve despedida. Apenas uma despedida, breve, muito breve, como as que trocávamos por vezes de manhã. A despedida pressupunha o teu regresso, assim como eu, hoje e amanhã, pressuponho o teu amor.

5 comentários:

  1. mark, sem palavras :o LINDO!!!

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  2. Apetece-me repetir o comentário da Cláudia.

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  3. Como gostava de poder ter sentido toda essa beleza, mesmo que angustiante, em vez do intenso medo.

    Já telefonaste hoje ao teu pai?
    Já lhe disseste que sentes a sua falta?

    Força.

    Um abraço com ternura.

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  4. O cerebro humano é espantoso. Apaga certas memórias de forma permanente, mantém outras para toda a vida. E essa é uma bonita memória para manter.

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