27 de junho de 2011

Sim, eu estou aqui.


Estive lá e estaria novamente se fosse preciso. Jurei a mim mesmo que não acordaria cedo tão depressa. Acabei o ano, fiz as cadeiras todas e, por isso mesmo, recusar-me-ia a acordar de novo à mesma hora. Mas o R., apesar de ter transitado para o segundo ano, achou - e bem - que tentaria fazer o máximo de cadeiras  de forma a deixar o mínimo indispensável para trás. Temos um mínimo de disciplinas que podemos deixar para trás e que não implicam que fiquemos retidos no mesmo ano durante mais um ano letivo. É o seu caso.
Ele não estava à espera e nada lhe disse. Acordei cedo e fui para a faculdade para ver se conseguiria chegar a tempo de assistir à sua oral. Foi uma enorme ânsia chegar à faculdade sem saber se estava iminente a sua oral ou se até estaria já a decorrer. Tinha como certo, apenas, que seria por volta daquela hora, sensivelmente. Procurei pelo seu nome, pela disciplina e fui, com o coração apertado, ao seu encontro.
Quando cheguei ao auditório, as orais tinham começado. Entrei sorrateiramente, para não incomodar, e sentei-me numa das últimas filas. As orais são públicas e à porta aberta. Vi-o mais ao fundo sentado perto de umas raparigas de outras turmas. Deu-me alguma satisfação constatar que não me vira chegar. Hoje estava especialmente galã. De fato completo, como nunca antes o tinha visto. Ele tem um corpo elegante e o fato assentava-lhe bastante bem, apesar de, por esta altura, vislumbrar-lhe apenas o corpo da cintura para cima.
Não tardou a que o chamassem. A oral correu-lhe pessimamente, devo dizê-lo. Foi generalizado, uma vez que, como mais tarde vim a verificar, quase todos reprovaram. Depois de ter terminado a sua prestação, sentou-se no seu lugar e achei conveniente enviar-lhe uma sms para lhe dar algum conforto. A minha ideia inicial era a de enganá-lo, enviando-lhe mensagens como se estivesse em casa, porém, devido às circunstâncias, não havia lugar para brincadeiras. Ao recebê-la, olhou discretamente para trás e acenou-me com a mão.
No final das orais (que demoraram bastante), confirmou-se o que temia: reprovou mesmo. Pude finalmente dirigir-lhe uma palavra e confortá-lo na medida do possível (com todos aqueles olhares). Fui tão egoísta naquele momento e arrependo-me amargamente do que pensei. Estava feliz, enquanto ele estava triste. E estava feliz pelos motivos mais pueris e fúteis - que confirmam a futilidade de que falo na minha descrição no blogue. Estava feliz porque ele estava de fato, apresentável, e os meus pensamentos resumiam-se a levá-lo a almoçar a algum lado, exibi-lo como pertença minha, quase um troféu. Ao mesmo tempo que ele estava de rastos, eu dissimulava uma tristeza que até sentia, mas que diminuía consideravelmente quando comparada aos planos que traçara para a nossa tarde que seria de glória.
Consegui o que queria. Fomos almoçar e todo eu era aquela pessoa que só pensava em si. Foi ele melhor pessoa e acompanhou-me sempre com um sorriso nos lábios. Apesar de estar triste, nada em si evidenciava um mal-estar. Fez-me a vontade quando eu não fui capaz de ver que não era a melhor ocasião.
Só dei pelo que fiz em casa. Só senti esse egoísmo ao constatar que de tudo falámos, de tudo brincámos, de tudo sorrimos e ele não estava bem. Não, não estava. Não, não era um dia como outro qualquer; era um dia em que eu tinha a obrigação de o ajudar, levá-lo para um sítio calmo, recolher-me na sua companhia. Até mesmo deixá-lo só, caso fosse essa a sua vontade e mo expressasse.
Afinal, não fui à faculdade por ele. Fui à faculdade por mim. Se lhe confessasse que errei, ele negá-lo-ia até ao fim. Isto porque gosta mais de mim do que eu dele. Agora arrependo-me.

10 comentários:

  1. Não te sintas assim...
    Esse sentimento é provavelmente por achares que poderias fazer mais por ele. Mas ele sabe que fizes-te o teu melhor para acalma-lo e esquecer por instantes o que aconteceu na avaliação de certeza.
    :)

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  2. concordo com o gil :D ele secalhar até achou que o melhor foi melho o levares para outros pensamentos , não te culpes :D

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  3. mark não te culpes, afinal se calhar ele até preferiu espairecer a cabeça a rir e a se divertir contigo :) eu no teu lugar não tocava no assunto
    abc

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  4. concordo com o que foi dito anteriormente pelo gil, a denise e o tomás. não te podes culpar, na minha opinião o facto de tu o teres feito rir e e terem falado de tudo menos da Oral foi de certeza benéfico para ele, que por momentos se abstraiu do sucedido.

    arrisco-me a dizer e levando com meio mundo em cima, que essa tarde foi benéfica para os dois, estiveram juntos, ele esqueceu-se da Oral e tu sentiste-te bem também a "exibi-lo", já para não falar que passar um bocadinho que seja com a pessoa de quem gostamos é o melhor do mundo. :)

    Por vezes, temos que ser um pouco egoístas e errar (como tu dizes que erraste) é normal quando se gosta de alguém. :)

    Abraço

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  5. Foi uma excelente prova de amor, de ambos, quer queiras quer não...

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  6. É por estas e por outras que sigo o teu blog... +.+

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  7. bem, ele era livre de dizer que não. se passou o dia contigo, é porque também estava a precisar de espairecer. Mas da próxima vez, toma mais atenção às necessidades do jovem. ai ai

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  8. Eu acho que todos pensamos um pouco dessa mesma forma... todos temos um pouco de egoísmo e futilidade... tem calma...

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  9. hummm, deduzo que andes no 1º ou segundo ano...já agora tiveste o Pofessor Jorge a História do Direito? :-)

    Na minha faculdade não há cá fatos, nem orais em anfiteatros, são abertas mas por respeito pede-se a quem a vai fazer se se pode ir assistir.

    O Speedy disse tudo, estava na liberdade dele dizer que não...mas quis estar contigo. É um bom sinal...:-)

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  10. Meia Noite e Um Quarto: Sou do 1º ano, sim, e não tive esse professor a História do Direito. :)
    Na minha faculdade há um enorme protocolo a cumprir, pelo menos é à conclusão que chego até este momento. :)

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