30 de abril de 2010

Glamour

O glamour é uma característica associada ao dinheiro ou à fama. Mas não necessariamente. O glamour é, na sua essência, uma característica que todos podemos ter. Afinal, o que é o glamour? O glamour pode traduzir-se como sendo um certo charme que faz parte da nossa personalidade, ou não. Algumas pessoas nascem com uma tendência inata para o glamour, sendo que outras têm de o aperfeiçoar ou mesmo adquirir ao longo do tempo. O glamour está, por isso, presente nas mais diversas situações do nosso quotidiano. Regra geral, o glamour é facilmente observável quando prestamos a devida atenção às pessoas que nos rodeiam. É aquele encantamento natural que alguns possuem. O glamour não está directamente ligado à educação. São distintos, mas têm alguns elos de ligação. Vejamos, uma pessoa educada pode não ter glamour algum, no entanto, uma pessoa que tem glamour terá de ser obrigatoriamente educada. Isto porque a pessoa que tem glamour sabe agir em conformidade com as mais diversas situações. Sendo mais objectivo e só para exemplificar, a pessoa glamorosa (neologismo) tanto almoça num excelente restaurante como num restaurante que não tem tanta qualidade. O mesmo se aplica nos relacionamentos. É evidente que a pessoa com glamour não faz distinção de nível social nas suas amizades, mas pode preferir o relacionamento com pessoas da sua classe social. Não é, de todo, uma condição sine qua non para se ter glamour. Pessoalmente, conheço pessoas conotadas como sendo pessoas de bem e que não têm educação alguma, porém, também conheço pessoas com um nível de vida inferior que têm uma educação e um glamour surpreendentes. Estas últimas, cultivaram em si o glamour. Têm aquele encantamento que fica sempre bem em qualquer situação. Não confundir o glamour com o snobismo atroz e repugnante. O snobismo advém de preconceitos infundados e, geralmente, esconde em si passados duvidosos que se pretende que não sejam descobertos, nomeadamente, passados ligados a níveis de vida inferiores e que tanto envergonham algumas pessoas. O glamour é diferente de tudo o que é previsível e comum. É a educação, o saber-estar, a elegância social, o charme intelectual e a pose arrebatadora. Todos, sem dúvida, o podemos ter. Basta querermos. Não é um trabalho difícil. Num país vulgar como aquele em que vivemos, o glamour é uma mais valia até mesmo nos relacionamentos pessoais. A pessoa com glamour também pode cometer alguns excessos, afinal, somos humanos. Mas é precisamente na forma como lida com esses excessos que a torna tão especial. Excessos, entenda-se, algumas vulgaridades. Absorvemos tudo. Somos permeáveis a essa explosão social de vulgaridade diária, presente na TV, na rua, com as pessoas com as quais nos cruzamos e não temos nada em comum... Não obstante, temos de fazer uma selecção e evitar a absorção desses comportamentos. A diferença faz todo o sentido.
O glamour torna as pessoas «únicas». É o que nos distingue. Cada um terá o seu livre-arbítrio. Compete-nos a decisão de querermos ser diferentes, ousados e com glamour, ou banais e vulgares numa mancha homogénea de profundo vazio de valores e de postura social. 

28 de abril de 2010

Racionalidade


«Quem é muito racional é infeliz no amor!», disse-lhe a amiga. Fiquei a pensar nessa frase durante o resto do dia.
O amor exige racionalidade, é certo. Apesar de ser um sentimento que nos deixa num estado de loucura e alienação efectiva, a razão deve estar sempre presente. Porém, será que o amor e a razão são compatíveis? A razão comanda as nossas atitudes, as nossas acções. A todas imprimimos um cunho racional. Meditamos sobre as mais diversas situações. O amor, quase sempre, não é acompanhado de grandes manifestações de racionalidade. O amor é cego, não escolhe alturas, nem olha para interesses pessoais. Refiro-me ao amor verdadeiro. A razão do coração e a razão da consciência e da mente não se cruzam neste processo da compreensão humana. Descartes defendia a separação entre a res cogitans e a res extensa. A mente e a matéria separadas para sempre. Daí surgiu o princípio de que a razão não influencia directamente as questões materiais. A matéria é algo palpável, sujeita às vicissitudes mundanas, como as paixões e o amor. A razão, por sua vez, está presente nos pensamentos lógicos, calculados e premeditados. É algo que transcende as questões da matéria e do corpo.
Até que ponto a razão deve influenciar as emoções é uma questão de elevada importância. O amor, apesar de ser esse sentimento que escapa às leis racionais, deve ser acompanhado de alguma ponderação. A racionalidade tem de existir, de forma a impor limites essenciais necessários a todo o tipo de relações humanas. No entanto, a racionalidade desmedida e sem controlo pode provocar condicionamentos à livre expressão do amor em toda a sua plenitude. O amor não é compatível com a racionalidade exagerada. Precisa de ponderação, é certo, mas de forma alguma deve ser um sentimento mecânico, totalmente racional e pensado. As emoções devem fluir normalmente. O amor extingue-se quando a razão ultrapassa os limites do admissível. Por esse motivo, a racionalidade exagerada destrói o amor, mesmo quando este parece forte e indestrutível.
É preciso um meio-termo para o amor. Não pode ser cego, mas também não pode ser pensado. Surge, explode dentro de nós. Depois, compete-nos a nós a colocação de métodos racionais para o manter.
O amor e a razão podem se confundir, não sendo totalmente opostos. Mais, completam-se.
«Quem é racional é feliz no amor!»

27 de abril de 2010

Apresentador com medo de... baratas!



Não tenho o hábito de colocar vídeos de humor, mas este parece-me único. É hilariante demais!!
Para além do caricato da situação, o senhor, digamos, saiu do armário em directo... :)

26 de abril de 2010

Músicas Mágicas

Todos nós temos músicas que acompanham as nossas emoções. A música tem uma capacidade única de preencher a nossa vida, tornando-se a banda sonora dos episódios que marcam a nossa existência. Não sei como será com as outras pessoas, mas eu tenho uma capacidade de associar cada música que gosto a um período da minha vida. Por vezes, ouço uma certa música e recordo-me de imediato das situações que vivi na altura em que comprei o álbum. Parece que estou a reviver de novo aquele acontecimento, com todos os pormenores e detalhes. Digamos que a música consegue desvendar a nossa memória de uma forma única. Há pessoas que sentem exactamente o mesmo, no entanto, nem tanto com a música, mas sim com alguns perfumes, roupas, paisagens e outros artigos que as fazem recordar de situações do passado.
Eu, por exemplo, tenho uma relação especial com algumas músicas. O single Dreamlover da Mariah Carey é a primeira música que marcou a minha infância. Sempre que a ouço, vêm-me à memória os lugares onde estive naquela época, a sala do infantário, os meus coleguinhas, etc. Sensivelmente pela mesma altura, a música Tears in Heaven do Eric Clapton também me marcou. Lembro-me com exactidão de estar na sala grande da avó a folhear um jornal (apesar de não saber ler...) e vi uma notícia na televisão sobre a morte de umas crianças. Não sei de onde surgiu a música, mas sempre que a ouço é a imagem que aparece na minha mente. Talvez a música estivesse a tocar na televisão...
Todas as músicas dos Queen marcaram a minha infância. O pai adorava-os. Por esse motivo, sempre que ouço os Queen recordo-me das mais variadas situações. Também as Spice Girls compõem a banda sonora da minha infância. Lá me relembro eu do colégio, dos colegas...
Muitas outras músicas marcaram esse período da minha existência.
Mais recentemente, o álbum The Emancipation of Mimi marcou a minha adolescência. Mais do que qualquer outro da Mimi (e todos marcaram decisivamente). Os singles It's Like That e We Belong Together relembram-me o colégio, e um colega em especial. Quando ouço We Belong Together lembro-me de um colega, não de turma, mas sim do mesmo estabelecimento de ensino. É automático. Ouço a música e lembro-me daquele longínquo Maio de 2005. Ele estava a jogar futebol e eu sentado num banco a vê-lo, com os headphones na cabeça e o álbum a tocar num leitor de cd's. Parece que o vejo, quando agarrou na bola e olhou para mim. Sorriu-me. Sim, sentia qualquer coisa. E esse sorriso ao som da música ficaram perpetuados na minha memória. Foi aí que começou a nossa longa história...
Isto sucede com imensas músicas e diversas situações. Já me disseram que é a minha memória visual e auditiva que, tenho a dizê-lo, é realmente muito boa. Ao ouvir algumas músicas, sou capaz de ver a página do livro que estava a estudar quando as ouvi. É como se fosse um flash. É óptimo e do mais gratificante que pode haver. Estas sensações fazem-me ouvir as músicas de forma a reviver cada situação, porque, de facto, é como se fosse um filme que passa no meu cérebro.
Como se constata, tenho uma relação privilegiada com as música, no geral, e com a minha memória, em particular.
São músicas que nos marcam até ao fim dos nossos dias e conseguem entrar no nosso lado mais pessoal. Ao ouvi-las, viajamos pelo mundo secreto das nossas paixões e recordamos a nossa vida num ápice mais rápido do que o próprio tempo.

25 de abril de 2010

25 de Abril - Dia da Liberdade

Há 36 anos caía o regime autoritário de direita mais longo do continente europeu. Com o seu fim, caíam também a polícia política (PIDE, renomeada DGS), a Censura (renomeada Exame Prévio), a terrível Guerra Colonial e todos os organismos e instituições de apoio ao Estado Novo.
Nascia, em seu lugar e pelas mãos do MFA, uma Democracia, débil, é certo, mas um regime liberal e pluralista baseado no respeito pelos direitos inalienáveis dos cidadãos. Retomaram-se os princípios liberais da I República, patentes na Constituição de 1911, consagrados definitivamente mais tarde na Constituição de 1976.
36 anos depois, dos 3 D's (democratizar, descolonizar e desenvolver), um não foi cumprido. Portugal continua a ser um país subdesenvolvido economicamente e com uma mentalidade predominantemente retrógrada e ruralizante.
É impossível contabilizar todos os benefícios que o 25 de Abril de 1974 nos deu. Podemos classificá-lo como um marco histórico na vida contemporânea portuguesa do século XX. A restituição de um dos direitos fundamentais do cidadão comum: a Liberdade.
E escrevo Liberdade com letra maiúscula. Esta simples palavra é capaz de levar e de dar a todos os povos a mensagem de esperança e fé de que a Humanidade necessita para continuar a seguir o seu caminho. Nenhum regime opressor merece que lhe prestemos respeito. Por esse motivo, é importante continuar a solidificar e fortalecer a democracia porque dela dependemos.
Há um longo caminho a percorrer. É necessária a elaboração de regras económicas mais justas e com uma distribuição mais equitativa da riqueza do país. Porém, também é obrigatória a educação de um povo, oprimido e conduzido ao ostracismo durante longas e pérfidas décadas. O impacto ainda hoje é visível. As liberdades que Abril trouxe não atingem todas as camadas da população portuguesa. O respeito e reconhecimento que todos, sem excepção, o merecem, ainda não é uma realidade.
O país reveste-se de cravos vermelhos, símbolos vivos da Revolução. Abril amadureceu, finalmente, depois dos trilhos difíceis que encaminhavam o país para outra ditadura, desta vez de esquerda, marxista-leninista como alguns o desejavam. Existiu o bom senso por parte de alguns homens que mudaram o rumo perigoso que o país seguia.
A integração europeia foi o pilar definitivo desse longo caminho pela afirmação de um estado participativo no novo quadro político mundial. Novas obrigações surgiram, e nem sempre Portugal as conseguiu superar.
A luta pela universalidade dos direitos constitucionais de todos os cidadãos continua.
No dia em que Portugal assumir as suas responsabilidades na defesa incondicional dos direitos dos seus cidadãos tornar-se-á um verdadeiro Estado de Direito.
É verdade que não vivi o 25 de Abril, só tendo nascido muitos anos depois. No entanto, respiro a Liberdade que a Revolução nos deu. E por isso lhe estou grato, não esquecendo a generosa e decisiva contribuição dos Capitães de Abril que trouxeram de novo os sonhos a um país isolado, fazendo nascer em seu lugar a esperança num futuro melhor.

24 de abril de 2010

Gostas de mim? E eras capaz de dizê-lo a toda a gente?

Quero que digas bem alto que me amas. Que me abraces fortemente contra o teu peito. Que me beijes com essa sofreguidão irracional que caracteriza quem ama alguém. Que vivas intensamente o que sentes sem medo dos olhares indiscretos e cruéis. Quero sentir o mesmo que ela, e que a outra, e mesmo que aquela ali. Quero que vivamos o mesmo que eles. O mundo também é nosso. Se quiser, quero correr como eles correm. É mais do que a palavra, do que o olhar e do que as mãos; é a livre expressão daquilo que existe em nós. Quero viver aquilo que eles vivem, da forma como eles o fazem. Assim mesmo. É assim o amor. Retirar as correntes sociais que nos prendem de uma vez. Lançá-las no caos da desigualdade e do preconceito. Queimá-las no fogo da justiça.
Também quero os passeios na praia, com a água do mar batendo nos nossos pés descalços, numa tarde quente de Verão. Sentir a tua sinceridade descomplexada e livre. A nossa espontaneidade perante a vida e as situações do quotidiano. Afagar o teu cabelo e mostrar-te que o mundo é o que quisermos que ele seja.
Nunca me fizeste sentir o mesmo que ela sentiu. Sim, ela. E por isso invejo-a, odeio-a. Imagino quando te toca, quando te tem e quando te vive.
Acima de tudo, dizes a toda a gente que a amas.
Quero esse infinito, não mais do que isso.
E quero que o digas a toda a gente.

22 de abril de 2010

Entre Vidas

Ontem, da parte da tarde, vi um anúncio na SIC sobre a série Entre Vidas. Ao que parece, a nova temporada já está aí, novinha em folha. Fiquei feliz. Eu adoro aquela série. Por vários motivos: em primeiro lugar, o pai acredita no Espiritismo e sempre me falou sobre a vida para além da morte; em segundo lugar, adorei o enredo e as interpretações da Jennifer Love Hewitt e, essencialmente, do seu marido na série, David Conrad, que acho fantástico. Também gostava do cenário da cidade onde eles habitavam e do pormenor simpático da loja de antiguidades.
Hoje, ao consultar a programação, não consegui ter acesso ao horário em que vai ser exibida. No anúncio dizia que será de tarde. De tarde, quando? Deveriam ser mais objectivos.
Espero que esta temporada mantenha todo o enredo misterioso que envolvia as temporadas anteriores. Tenho um fascínio pelo sobrenatural desde há muitos anos, praticamente desde que me conheço. A passagem para o mundo espiritual intriga-me bastante, pois cada vez mais procuro bases que sustentem a veracidade dessa teoria. Seremos efémeros como suspeitamos, ou teremos uma eternidade espiritual que nos permite as reencarnações cuja última finalidade será a purificação total? São as chamadas dúvidas existenciais ou de fé.
Espiritualidade à parte, a série é do melhor que há. Até para quem não acredita em nada.

21 de abril de 2010

A Nuvem

Ao olhar para aquele céu de fim de tarde lembrei-me de ti. A tua imagem simplesmente apareceu no meu imaginário. Eram a união perfeita, tu e aquelas nuvens luminosas e amarelas que observei pela janela. Subitamente, uma vontade de estarmos juntos rompeu em mim de forma dolorosa. Aquela impaciência descontrolada quase que tomava conta do meu discernimento. Onde estarias? O que farias? Mil pensamentos ecoaram na minha cabeça. Uma só certeza encontrei: a de querer estar perto de ti. Imaginei as milhares de coisas que poderíamos fazer. A vontade de ter ver naquele preciso momento era maior do que tudo. São instantes irrepetíveis. Tive a sensação de que tudo atingiu um ápice vertiginoso que se foi dissipando ao sabor do tempo, acompanhando a passagem das nuvens. Era um prenúncio de chuvas. Mas que bela analogia que me ocorre. As lágrimas, geralmente, acompanham a tristeza. Pois bem, de seguida choveu. Que impulso tão forte que se deu em mim durante aqueles minutos. Que vontade incomensurável de que entrasses pela porta e me tomasses nos teus braços. Quero-te. Vivo de episódios despoletados pelas mais diversas situações. Não compreendo o motivo que levou a lembrar-me de ti ao observar as nuvens de final de tarde. Era um quadro perfeito. Talvez tenha uma sensibilidade única para associar e sentir o que a maioria ignora. Talvez... Sei que o senti. E sei que fiquei triste. Todavia, essa tristeza vinha acompanhada de esperança e de força. E essas sensações perduravam à medida que mantinha o meu olhar fixo no horizonte celestial. Queria-te ali, naquele momento. Queria ser absorvido por aquela luz solar, timidamente escondida atrás daquelas nuvens. Talvez estivesses nelas.
As nuvens falaram comigo, usando a sua linguagem mágica, naquele fim de tarde primaveril.
Anunciaram a tua chegada a mim e levaram-te com a sua passagem.

20 de abril de 2010

Férias Americanas

Há alguns dias atrás pensei nas férias de Verão. Como é hábito, eu e a mãe costumamos ir para o Algarve ou Vila Nova de Milfontes, onde a avó paterna tem casa. Apesar dos pais estarem separados, a avó faculta-nos a casa sem quaisquer tipos de problemas. Os primos, por vezes, vão connosco. Alguns anos vamos com amigos da mãe e até já foram alguns amigos meus. Digamos que é a parte boa. Nunca me recordo de ter ido só com a mãe. Mas, já estou cansado dos mesmos destinos todos os anos. Começo a perder o entusiasmo.
Ontem, durante o café da manhã, perguntei à mãe onde iríamos de férias neste Verão. A resposta foi a esperada: Algarve. Disse a verdade à mãe. Já estou farto. Realmente farto. Gostava de ir para fora, conhecer outros lugares, outras culturas.
Enquanto estiveram casados, os pais viajavam para o exterior. A mãe conhece alguns países em lazer e em negócios. Eu nunca ia devido à minha bronquite asmática. O meu médico e pediatra aconselhava a que não saísse do país, sempre com receio que eu tivesse alguma crise asmática. Resultado: só conheço Espanha (qual é o português que não conhece?) e Berlim, na Alemanha (fui, com oito anos e porque foi numa altura em que a mãe e o pai zangaram-se!). Eis a minha vida internacional. Estive para ir à terra do pai, Moçambique, mas, com medo da Guerra Civil que existia na época, os pais cancelaram a viagem. Não conheço nada.
Persuadida pelo meu discurso, a mãe convenceu-se e, para minha alegria, disse que este Verão vamos viajar para o estrangeiro. Fiquei felicíssimo. Perguntou-me qual o meu destino de eleição. Só existe um, apesar de ter vontade de conhecer outros países: Estados Unidos da América.
Eu adoro os E.U.A. Ao contrário da maioria das pessoas, que adoram a América Latina para passarem férias, eu não. Tenho um fascínio pelos Estados Unidos. O meu desejo era viver lá. Por vezes, penso em ser um advogado de sucesso e, quem sabe, trabalhar na ONU, em New York. Também podia viver num simpático rancho texano, que não me importava absolutamente nada. Conhecer New York, Los Angeles, San Francisco... :)
Já disse à mãe e bem mais do que uma vez: quando receberem empresários estrangeiros na empresa, ligue-me, que vou a correr. É evidente que a mãe pensa que quero apenas alargar os meus horizontes. Mal sabe ela que o que eu queria era que algum empresário me levasse de vez para a América.
No entanto, é muito raro aparecer algum norte-americano na empresa. Muitos ingleses, alemães, espanhóis... E esses não me interessam! Ahahah!
O pai diz que sou uma cópia da tia Milu (já falecida). A tia, farta da vida intelectualmente medíocre do Portugal ditatorial, casou com um inglês e foi para os E.U.A. Quando vinha a Portugal, passava horas a contar-me pormenores sobre os Estados Unidos. Ficava fascinado ao ouvi-la.
Por isso, já decidi o meu destino de férias. E não me importo de repetir todos os anos, afinal, os E.U.A são um país enorme e lindo.
Onde é que anda esse princípe americano à procura do seu amor?
I´m here, sweetheart!

18 de abril de 2010

O Atrevimento

Há pessoas atrevidas e há aquelas pessoas que não são tão atrevidas. Entre elas, há uma espécie que oscila entre o atrevimento e o humor.
Ontem, depois de uma festa em que estive presente da parte da tarde, dirigi-me ao Amoreiras porque não queria ir para casa. Como não estava nada programado, decidi ir sozinho. Ver umas montras e apanhar ar, ou seja, ar de consumismo. Aquele ar típico das sociedades modernas. Enquanto caminhava pelas lojas, vêm na minha direcção três rapazes mulatos. Ao passarem por mim, um deles agarra no meu braço e diz-me surpreendentemente:
-"Olha, dá-me o teu número."
É evidente que não obteve resposta. Continuei a caminhar calmamente. E não é que veio atrás de mim, voltando a agarrar no meu braço.
-"Olha, desculpa, dá-me lá o teu número. Quero voltar a ver-te."
Era impossível manter a minha indiferença.
-"Desculpa, o meu número? Podes largar o meu braço? Lamento, não falo com estranhos!"
Os amigos continuaram a andar, deixando-o para trás. Ele deveria ter uns 22 anos, vestia uma t-shirt lilás e tinha uns ténis da Adidas da mesma cor. Tinha uns olhos verdes fantásticos e o cabelo era claro, apesar de ser mulato. Insistiu:
-"Ok, desculpa, deves pensar que sou um psicopata e que te vou fazer mal, mas só quero mesmo voltar a ver-te. Talvez para irmos beber um café. Por favor!"
Bom, que desespero, pensei.
-"É o seguinte, eu não te conheço e, por isso, não te dou o meu número."
Tirou um papel e uma caneta de uma mochila e escreveu o seu número, dando-me o papel de seguida.
 -" 'Tá bem, então, fica com o meu número e, se quiseres, manda-me uma sms. Tenho de ir. Os meus amigos 'tão à minha espera. Gostava de falar mais contigo. Xau, beijinho."
Eu fiquei literalmente boquiaberto a olhar para ele. Já me sucederam situações semelhantes, mas nunca nenhuma assim com tanta insistência. E o beijinho final é uma verdadeira pérola. Lol
À medida que ia andando, pensei em deitar o papel para o lixo, no entanto, acabei por não o fazer. Assumo que achei alguma graça à sua atitude e ao seu atrevimento. Até eu, que não sou conhecido por ser tímido, era incapaz de abordar alguém desta forma.
Quando já estava de saída, visto que não comprei nada, ainda passaram por mim mais uma vez. Voltou a olhar para mim e piscou-me o olho.
Detesto tudo o que diz respeito a engates e tenho mesmo um princípio: não falar com estranhos em situação alguma, muito menos marcar encontros. Actualmente, é um perigo. Não pode existir nenhum tipo de cedência. Tem de existir um primeiro contacto que evolua para uma amizade. Tudo tem o seu devido tempo.
Ao chegar a casa, rasguei o papel e deitei-o no lixo. Ponto final.
Rejo-me por alguns princípios dos quais não abdico.
Um desses princípios é o devido respeito por mim próprio.

17 de abril de 2010

O Vento


Se há fenómeno que sempre suscitou o meu interesse, esse fenómeno é o vento. O vento tem uma misticidade própria. É sombrio, avança como uma força autoritária pela nossa pele como se quisesse desvendar os nossos segredos mais profundos. Eu nutro pelo vento um sentimento de amor/ódio. Amor, porque é mágico, selvagem e forte nas suas correntes poderosas; ódio, porque consegue colocar o meu cabelo imenso e comprido no ar, o que me desagrada e muito, chegando a colocar-me furioso pelo resto do dia. Sim, é um facto, sou terrivelmente vaidoso, mesmo sabendo que o excesso é o mal de todas as paixões (Ratzinger chamar-lhe-ia pecado mortal...).
O vento é assim, poderosamente devastador. Leva consigo as nossas palavras mais absurdas e falsas pelos seus caminhos de eternidade inalcançável. Também leva os nossos sonhos, tantas e tantas vezes desfiados nos miradouros, testemunhas dos sofrimentos humanos. Impõe as suas regras, ditando-as ao sabor da sua vontade. Arrasa florestas de betão se assim o quiser, mostrando a autoridade superior da Mãe Natureza. É um prenúncio fatal das chuvas que saciarão a sede dos campos que alimentam a fome de pão dos homens. O trigo é seu filho e as montanhas são a sua mãe. É o senhor das tempestades dos desertos e da fúria dos mares agitados que amedrontaram os Antigos. Ao passar por nós, leva consigo um rasto de sentimentos e de ideias. Leva a inspiração e o som doce e melodioso da música. É fácil observar a sua dança pelos ramos das árvores, fazendo balançar as folhas verdes.
É verdade que consegue irritar-me. Mas fá-lo como se brincasse ironicamente com alguém que não o pode deter. Ninguém pode. A paciência e a engenharia humanas são as suas maiores adversárias.
Quanto a mim, resta-me uma enorme dose de paciência e mãos suficientemente hábeis que consigam colocar o cabelo de novo da forma que eu gosto.
O vento é único na sua força brutal, profunda, temida e incontrolável. Os anos são impotentes à fúria da sua passagem. Com ela, vai um pouco de nós, das nossas vontades, dos nossos sonhos e da nossa vida.

16 de abril de 2010

O Pequeno Toque

A vida é feita de pequenos toques. Toques, à partida, sem qualquer tipo de simbolismo, mas que fazem toda a diferença. O beijo dado no momento certo, o abraço inesperado, a palavra de conforto, a mão que ampara e protege... Somos seres sociáveis, necessitando de afectos. Perdeu-se a vontade de ajudar com o conforto a quem mais precisa. Tornámo-nos seres desprovidos de sentimentos, frios, até mesmo insensíveis ao sofrimento alheio.
Também existe o medo do afecto. O medo das falsas interpretações e da calúnia suja e mórbida. A distância com que as pessoas se cumprimentam causa-me alguma impressão. Principalmente homens. O único lugar socialmente admissível em que dois homens podem extravasar os seus sentimentos é no estádio de futebol. Nesse lugar, tudo é correcto e nada é reprovável, o que inclui, evidentemente, os abraços calorosos e os beijos inesperados. Fora daí, é tudo uma mariquice, para não usar outro termo pejorativo mais ofensivo...
Esta visão profundamente estereotipada reprime as emoções e a espontaneidade social.
O mesmo não sucede com o género feminino. As senhoras beijam-se, abraçam-se, que ninguém o toma como um sinal de homossexualidade. Está correctíssimo. Podem e devem fazê-lo. Desde quando um beijo é um sinal claro de amor e paixão profunda? É, sim, um sinal de afecto e de estima.
Eu não beijo todas as pessoas com quem travo algum tipo de contacto, mas beijo, isso sim, as pessoas que me são queridas. Era só o que faltava! Reprimir os meus sentimentos e tornar-me num frustrado de primeiríssima qualidade. Bom, também é verdade que convivo num meio social mais aberto, jovem, alegre e mesmo elitista, sem esses tabus sociais que minam as relações interpessoais. Somos o que somos e não adianta fugirmos disso. Tudo o resto é pura ilusão.
Recordo-me de um amigo que conheci quando tinha 16 anos. Era um querido, super simpático. Um dia, quando nos estamos a despedir, em vez do tradicional aperto de mão, dei-lhe um beijo redondinho na cara para sua surpresa. Sabem que mais? Disse-me que também há muito que queria, mas estava com receio da minha reacção. É claro que podemos beijar outros rapazes. Não é feio, não é exibicionismo; é afecto.
Depois, claro, podemos discutir se é correcto um beijinho ou dois. Cada pessoa tem os seus critérios. Eu opto por um. Só um beijo leve na face. E não é necessário colocar o lábio todo na cara, que molha imenso e é deselegante! Só um leve toque na pele com os lábios, suave.
Acima de tudo, beijando ou não, o importante é sermos verdadeiros connosco e com a pessoa a quem cumprimentamos. É preferível um abraço sentido a um beijo do mais falso que há.
O toque, aquele pequeno toque, seja qual for, é que jamais poderá ser esquecido.

14 de abril de 2010

Through The Rain



Ideal para dias de muita chuva como hoje. :)
No clip, Mariah conta a história de uma rapariga branca que está apaixonada por um rapaz afro-americano, e que tudo faz para lutar contra o enorme preconceito racial existente nos EUA, nos anos 50-60. No fim, apercebemo-nos de que esta história é real, afinal, a mãe da Mariah é branca e o seu pai, que já faleceu, era afro-americano. Também ela vivenciou o preconceito racial quando era criança. A história é absolutamente encantadora.
Through The Rain (Charmbracelet, 2002) - Mariah Carey

13 de abril de 2010

Aulas de Condução

Apesar de ter carta de condução, nunca tive a preocupação de começar a conduzir de forma a não perder a prática. Nunca me senti suficientemente seguro para estar ao volante de um carro e sair por essas estradas perigosas e cheias de condutores irresponsáveis. Quando necessito de ir a algum lado, a mãe leva-me. Quando não pode, a Ana também sabe conduzir. Muitos dos meus amigos têm carta e, em última hipótese, chamo um táxi ou vou de metro e autocarro (raro).
Agora decidi mudar. Pedi um carro à mãe, mas ela disse-me que só me comprará um carro se eu der mais algumas aulas de condução para ganhar de novo a prática automobilística. Assim foi.
Ontem fui à escola de condução onde tirei a carta. A senhora da recepção reconheceu-me de imediato. Bom, eu também sou inesquecível... Disse-lhe que gostaria de comprar algumas aulas de condução porque há algum tempo que não conduzia. Disse-me que não havia qualquer tipo de problema e perguntou-me qual era o instrutor que queria. Escolhi o que sempre me acompanhou. Ele era fantástico. Tinha uns trinta e poucos anos, era careca, mas era simpático. E, acima de tudo, tratava-me por menino que, apesar de usualmente ser tratado dessa forma por quem me conhece, estranhei sê-lo por parte de um instrutor de condução. A escola também tem índices razoáveis de sucesso e eu mesmo recomendei-a a uma amiga da mãe que decidiu tirar a carta devido ao facto do marido ser canadiano e estar sempre em viagem pela Europa.
Comprei dezasseis aulas de condução. Eu sei que é imenso, mas antes assim do que sair por aí sem a mínima experiência. Começo amanhã, da parte da tarde, devido às aulas que já começaram...
Portanto, amanhã não saiam de casa. :)

12 de abril de 2010

Quero...

Quero correr mais do que o mundo, atear fogueiras de amor em todos os corações. Quero viajar pelos destinos das emoções, sempre tendo o incerto como certo. Quero colher flores de todas as cores e com elas fazer jardins de belezas naturais. Quero ver a luz branca do luar através do vidro dessa janela mágica de vitrais exóticos. Quero perseguir o vento enquanto este me toma na imensidão do seu abraço. Quero andar à garupa de um cavalo marinho e com ele conhecer os mares no embalo das correntes que nos levam até ao desconhecido. Quero que me tomes nesse tapete mágico e que me mostres tudo aquilo que ainda só vi nos meus sonhos mais profundos. Quero voar pelas nuvens de algodão branco que encontro ao olhar para o céu azul. Quero sentir o sabor da maresia nos meus cabelos enquanto coloco pequenas conchas marinhas no meu cesto de palha. Quero sentir o sol na pele e o seu calor em mim. Quero o medo da noite escura e a paz do reencontro com o infinito. Quero descer a escadaria da imensidão, ultrapassando os degraus de pedra fria. Quero caminhar descalço pelas ruas de prazer que invadem os segredos da tua mente. Quero aquela música que é só minha, mas também quero partilhá-la com as multidões de soldadinhos de papel. Quero colher frutos de paz da Árvore da Vida e com eles simbolizar a reconciliação com os Céus. Quero conhecer o castelo de bandeiras brancas que construíste no cimo da montanha que é tua. Quero sentar-me no banco do jardim que plantaste para mim. Quero abraçar as penas macias do cisne branco que existe no lago da minha imaginação. Quero entrar na sala luminosa com cristais cintilantes ao toque da luz pálida de início de manhã. Quero viajar até atingir o brilho da estrela que me acompanha com o seu afago próximo e longínquo. Quero o poder da realidade e de materializar o que não é palpável.
Quero tudo isto, quero os sonhos que partilho em ti e ainda me quero a mim.

11 de abril de 2010

O Presente

Amanhã é o dia do aniversário do primo Samuel. Faz 25 anos. Geralmente compro sempre os presentes com algum tempo de antecedência mas, não fosse a minha fantástica agenda de acontecimentos sociais e familiares, tenho a certeza de que não me recordava. O Samuel é um querido, ficaria, de certo, bem desapontado em relação a mim. Convidei a Só para vir comigo. Ela tem uma intuição óptima para comprar presentes. Não é que eu não tenha, no entanto, ela tem sempre ideias inovadoras. Sugeri que fôssemos ao El Corte Inglés, mas ela convenceu-me a ir ao Colombo. Deus sabe como eu odeio aquela coisa medonha. As únicas lojas em que comprei alguma coisa foram a Bershka, a Massimo Dutti e a Salsa. Nunca comprei nada naquela coisa para oferecer. Em toda a minha vida fui lá raríssimas vezes. Enfim...
Quando chegámos, obrigou-me a entrar em tudo o que é loja de roupa. Fi-la voltar à Terra, lembrando-lhe que estávamos ali para comprar o presente do Samuel. Andar com a Só é uma caturreira, apesar de todos os seus devaneios pós-adolescência. Sentámo-nos num banco a pensar no que comprar. O Samuel é o típico rapaz de 24 anos, alto, moreno, magro e de namorada incerta. Já conheci tantas... É sensivelmente o mesmo que o Pedrinho, embora menos presunçoso. Um perfume seria óbvio demais; roupa é do mais deselegante que se pode oferecer quando não sabemos o gosto certo da pessoa em questão... Não restavam muitas hipóteses. Até que a Só dá um palpite fantástico. Um livro. Que ideia estupenda. O Samuel gosta de ler, creio. E se não gostar, um livro é sempre um livro. Fomos à Fnac. No entanto, fiquei a pensar que talvez não fosse uma ideia assim tão boa. E se ele não gostasse minimamente? Até que passei por uma biografia do Michael Jackson. Eu sei que o primo gosta dele. Aproveitei e trouxe também, para mim, um livro de poemas da Florbela Espanca, que acho que é do melhor que há. Eu sou assim; tenho de trazer sempre um miminho para mim.
Depois de comprarmos os livrinhos, ainda tive de passar no McDonald's, onde a Só se lambuzou com um menu. Comeu aquilo tudo. Eu não quis nada. Engorda imenso. Nem morto. E depois, estou a pensar em aderir ao vegetarianismo. Ganhei fobia a tudo o que é carne.
Ainda pensei que naquela coisa existisse papel fantasia, mas nada...
Quando chegámos a casa, embrulhei o livro num pouco de papel fantasia que estava esquecido numa gaveta, coloquei um laço e prontinho. Amanhã vamos à casa da tia, onde estarão vários primos e os avós. Vai ser um lanche informal, apenas para festejarmos o seu aniversário. O Samuel, há uns anos, não era nada de especial, opinião minha, mas agora 'tá giríssimo. Espero que goste do presente. O melhor presente que ele poderia ter era uma namorada nova. Esta última tem um ar vulgar, de perua... Nem quero imaginar onde ele a terá ido arranjar.
Pensando bem, é o presente ideal: ele lê as legendas, ela vê as fotografias, que duvido que saiba ler (exagero...^^).

9 de abril de 2010

Semipresidencialismo

Os regimes semipresidencialistas pressupõem uma distribuição das responsabilidades governativas entre o Chefe de Governo (no caso português, o Primeiro Ministro) e o Chefe de Estado (no nosso caso, o Presidente da República). Este tipo de regime político pode acarretar alguns problemas governativos, pois não raras vezes o Presidente da República e o Primeiro Ministro são eleitos por partidos políticos diferentes e de ideologia oposta. É o caso português.
Em Portugal, o Presidente da República não é apenas uma simples figura decorativa, na medida em que partilha com o Governo as responsabilidades governativas, com o seu poder de veto ou de promulgação de determinada lei. O Presidente da República pode, ainda, pedir a fiscalização preventiva de qualquer lei ao Tribunal Constitucional, órgão que detém essa competência. Não obstante, o mesmo não significa que um diploma da Assembleia da República fique terminantemente excluído; ao ser apreciado qualquer diploma no sentido da constitucionalidade, o Presidente da República pode vetá-lo ou promulgá-lo. Qualquer diploma declarado inconstitucional não poderá ser promulgado. Ao vetar, o diploma "desce" novamente à Assembleia da República, podendo ser aprovado novamente e definitivamente com uma maioria absoluta de deputados, ou, em casos especiais, com uma maioria de 2/3 de deputados. Se se tratar de um diploma do Governo, o veto presidencial é efectivo.
No caso específico do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o parecer do Tribunal Constitucional não é vinculativo. A lei ainda não foi promulgada. Sendo objectivo e directo, ainda não existe a figura jurídica do "casamento civil entre pessoas do mesmo sexo". Nenhum gay ou lésbica pode, neste momento, casar com alguém do mesmo sexo.
A lei está agora nas mãos de Cavaco Silva, que poderá decidir-se pela promulgação ou pelo veto político. Se se verificar esta última situação, existirá um impasse temporal que fará com que a promulgação final demore mais tempo, atrasando todo o processo. Será uma questão de tempo, mas sem dúvida extremamente prejudicial, tratando-se de direitos inalienáveis de qualquer cidadão. Nem que o impasse temporal durasse um dia. Será, caso se venha a verificar, um prolongamento da injustiça e do preconceito.
O Presidente da República tem agora 20 dias para analisar o diploma, optando pela promulgação ou pelo veto político, este último com as consequências acima citadas.
Só no fim de todo o processo estar concluído é que existirão motivos sobejamente válidos para reconhecermos o grande avanço civilizacional que Portugal efectuou.

8 de abril de 2010

Faz-me acreditar em ti...

Acordei ao som da tua sms. O relógio marcava as quatro da madrugada. Soube, instintivamente, que eras tu. Quem mais me acordaria a essa hora? Desta vez pediste para falar comigo nem que fosse pela última vez. A verdade é que perdi o sono com a tua impaciência. Prometi a mim mesmo que não deixaria que me afectasses novamente. Seria totalmente impenetrável às tuas solicitações e ao poder irresistível que exerces sobre quem queres. É uma das tuas facetas. Consegues levar o barco até ao teu porto. Comigo teria de ser diferente. Era a hora de terminar aquilo que há muito deveria ter acabado.
Quando recebi a tua segunda sms, fui ao teu encontro em pijama. Em Abril as noites ainda são frias. Não foi o frio que me gelou a alma, mas sim o reencontro. O brilho do teu olhar consegue superar os ventos gélidos dos pólos. Estavas assim, simplesmente tu, encostado ao carro que tanto aprecias e  em que tantas miúdas boas devem ter adorado passear. O fumo do cigarro que expiravas apressadamente tornava o ambiente solitário e misterioso. Estava preocupado, não fosse a mãe acordar e passar no meu quarto para ver se estava bem.
És tão simpático, quase que poderia acreditar de novo em ti. Tiraste o casaco e colocaste-o sobre as minhas costas. Sim, sou eu. Estou de madrugada na rua para ouvir-te mais uma vez. Sentes a minha fraqueza? Desfiaste as tuas palavras melodiosas e ardis como o gato que mia para ser engraçado. Não responderei à pergunta "Ainda me amas?", porque é demasiadamente ridícula para que tenha uma resposta. O vento suave trouxe consigo um cheiro vulgar. Naturalmente o perfume barato de algum engate mentirosamente verdadeiro. Era bonita, ao menos?
O carro estava meticulosamente limpo. Tiveste o bom senso de não colocar aquelas bandas estranhas a tocar. Ouvi o que tinhas para me dizer. Afastei a tua mão do meu braço as vezes suficientes para que percebesses de que não se trata de um jogo. Também é verdade que, por várias vezes, baixei o olhar de modo a não ceder à tentação dos teus olhos e à vontade estranhamente louca de te beijar. Não adianta chorares. Consigo ser frio, mais frio do que a noite cerrada que nos abraçava no seu engodo traidor.
Antes de sair, dei-te um beijo. Não por ti, por mim. Talvez o último, quem sabe. Foi parecido com o primeiro, mas com muito menos ilusões. Despi o teu casaco e saí do carro. Será que esperarias que entrasse ou partirias indiferentemente? Esperaste que entrasse. Porquê? Porque não partiste de uma vez? Afinal, gostas de mim um bocadinho... Quero acreditar que sim, seja verdade ou mais uma mentira.
Deitei-me com o teu sabor em mim, abraçado ao urso gigante a quem dei o teu nome. Pedi para sonhar que fosses tu. Abracei-o com todas as forças que o meu corpo poderia despender.
Só eu sei como quis acreditar em ti.

7 de abril de 2010

Ultraje aos Símbolos Nacionais

Sou e serei sempre o primeiro a criticar Portugal quando as situações assim o exigirem. Reconheço que este país necessita de uma revisão profunda de forma a responder às necessidades legítimas dos seus cidadãos. No entanto, e apesar de tudo, continuo a respeitar o país que me viu nascer e ser-lhe-ei fiel até ao exalar do meu último suspiro. Por estes motivos, condeno veementemente as atitudes de alguns cidadãos de Valença que hastearam bandeiras do Reino de Espanha nas suas janelas.
Vivemos em democracia. A democracia possibilita-nos imensas formas de lutarmos pelos nossos direitos. Porém, o respeito pelo nosso país é inviolável e o dever de zelarmos pela nossa soberania também. Apesar de não constituirem um crime à luz da lei porque foram hasteadas em casas particulares, este tipo de atitudes deveriam estar previstas no nosso Código Penal. Trata-se de um ultraje a um símbolo nacional e um atentado à soberania portuguesa.
Espero que da parte das forças da autoridade não haja a mínima complacência caso alguma bandeira de Espanha seja hasteada num edifício público ou num monumento nacional. Seria o cúmulo do desrespeito e da irresponsabilidade.
Um país que lutou durante séculos pela sua soberania não merecia cidadãos assim. Homens como Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira, D. Henrique, Marquês de Pombal, envergonhar-se-iam se assistissem a todo este espectáculo degradante. A pátria continua a ser confundida com os executivos que a governam. É esta falta de patriotismo que conduziu o país à situação em que se encontra.
Fico realmente triste ao saber estas notícias. Mais do que triste, profundamente envergonhado.

5 de abril de 2010

Jonathan Rhys Meyers

Ontem fui almoçar a casa da avó. O típico almoço de Páscoa em família. Estivemos quase todos presentes, exceptuando alguns tios que não puderam vir. Depois da tarde de confraternização, fui com a Leninha para a casa dela. Apeteceu-me. Estou de férias, logo, não tenho necessariamente de dormir em casa. E a Leninha é uma irmã fantástica, apesar de ter 33 anos. Tem um espírito jovem e parece-me mesmo que os anos não passam sobre ela.
Quando chegámos, colocou um DVD que comprou em Espanha da série Os Tudor. Ela sabe que eu adoro História. Eu já tinha visto um episódio há algum tempo atrás, mas só ontem é que prestei a devida atenção. O actor que interpreta a personagem Henrique VIII é o Jonathan Rhys Meyers e é fantástico. Ao vê-lo, qualquer um/a quer ser a Ana Bolena, salvo a parte em que é decapitada. Lol Eu acho-o um actor óptimo e tem uns certos atributos que o destacam imenso. :)
Não é fantástico?

3 de abril de 2010

Páscoa

É inegável a importância da matriz judaico-cristã na minha formação individual. Ela existe e está presente. Lembro-me da polémica em torno da inclusão de um preâmbulo destacando a herança cristã no projecto da Constituição Europeia. Aliás, um dos motivos que levou a laicíssima França a chumbar o referendo sobre a mesma. Não o medo de uma possível federação europeia, nada disso; o que motivou os gauleses foi o receio de um atentado à sua laicidade estatal. Lá se foi o sonho de um grande passo na construção de um novo mundo bipolar. O Tratado de Lisboa é manifestamente mais comedido.
A tradição judaico-cristã está presente em todos os sectores das sociedades ocidentais. Portugal surgiu nesse contexto religioso, com as famosas cruzadas da Idade Média que propiciaram a Reconquista Cristã. Já o Império Romano tinha sido fortemente influenciado pela Cristandade, a ponto de se tornar a única religião do Império, com Teodósio I. Por todos estes motivos, estranhei o medo infundado dos extremistas laicos sobre a matriz judaico-cristã. A História não a desmente. Todavia, o facto de reconhecer essa matriz como forte impulsionadora da história ocidental, não impede que seja laico e um profundo crítico das religiões cristãs. Apenas reconheço a sua importância no mundo ocidental.
Jesus marcou indelevelmente a história mundial. Até a contagem do tempo ganhou um outro significado. Gostemos ou não, acreditemos ou não, Ele está presente no nosso quotidiano e na forma em que nos organizamos. Somos envolvidos nas festividades religiosas a Ele associadas, onde se inclui, evidentemente, a Páscoa.
Com um significado equiparado ao Natal devido à sua importância, a Páscoa representa a Morte de Cristo. Segundo a matriz cristã, Jesus morreu para a remissão dos nossos pecados. Durante estes dias de Semana Santa, assinalamos a morte de Jesus e festejamos a boa nova da Sua Ressurreição e Ascensão junto ao Pai, Deus, O Criador.
Factos são factos. Podemos concordar ou discordar, mas eles existem. É assim que estamos organizados, crentes e não crentes.
As amêndoas, os coelhinhos e os ovinhos de chocolate surgem como forma de compor a festa em si. É o merchandising, digamos. Faz parte. Há alguém que seja totalmente indiferente a estas festas litúrgicas? Duvido. Os filmes, a televisão, até mesmo o facto de vivermos num país católico, torna a hegemonia religiosa num facto de inquestionável abrangência. As típicas mensagens "Boa Páscoa" ou "Páscoa Feliz" estão praticamente automatizadas na nossa cultura e no desempenho dos nossos papéis sociais.
Aprendi, por motivos familiares (católicos e conservadores, não em todos os aspectos...), a respeitar profundamente quem acredita e vive com fé este momento de introspecção.
Boa Páscoa a todos!

2 de abril de 2010

Ingratidão

Se fosse viva, a bivó Palmira completaria hoje 102 anos. Faleceu em 1997. Não sei bem porque motivo, lembrei-me de ir ao cemitério de forma a estar mais perto dela. Para além de duas vezes avó, era uma boa amiga. Pensei que talvez alguém da família quisesse vir comigo. Telefonei aos tios, disseram-me que não podiam; uma prima está grávida e não quis vir, outro primo foi passar a Páscoa à Serra da Estrela, o outro tinha um jogo particular de ténis com os amigos... Liguei para vinte números familiares e ninguém podia. Pensei em convidar a Ana (prima), mas não fazia muito sentido, pois ela é prima materna e a bivó é da parte do pai. Embora não tivessem qualquer laço de sangue, conheciam-se e a bivó gostava muito dela, mas decidi que era melhor não. Também não liguei para nenhum amigo porque não é propriamente um programa de tarde muito divertido. Duvido que alguém viesse. Quanto muito a Só, e e... Liguei ao pai. Mais uma vez o telefone estava em voice mail... Decidi ligar à mãe dele, à avó paterna, filha da bivó.
-"Estou sim, avó?, tentei durante toda a manhã ligar para o pai; a avó sabe onde ele está?" - perguntei eu, na expectativa.
-"O pai está no Porto. Foi passar lá a Páscoa com o tio Zé. E, para a semana, provavelmente vai à Alemanha. Passa-se alguma coisa que eu deva saber?" - respondeu, autoritariamente.
-"Não, deixe estar. Era algo sem importância. Um beijinho, boa Páscoa." - disse eu, desligando o telefone de imediato.
O pai, mais uma vez, não me telefonou a dizer que não estava cá. É capaz de ir à China sem que eu saiba.
Fui sozinho. A mãe guardou uma chave do jazigo de família do pai, mesmo depois do divórcio.
Na rua do cemitério existem imensas floristas. Comprei um bouquet de orquídeas, as flores preferidas da bivó. Entrei no cemitério. Estavam lá imensas pessoas, talvez por ser feriado e dia Santo. O jazigo fica numa zona mais sossegada, onde não estava ninguém. Abri a porta, mas não quis entrar. Depositei as flores dentro do jazigo e fechei a porta. Ainda é grande. Muitos dos familiares que lá estão nem os conheci. Dos que conheci, estão lá o tio Lourenço, o tio Heitor, o tio Antonino e a tia Milu, para além da bivó, claro. Meditei um pouquinho em sua memória e saí.
Foi uma mulher dedicada à família, sempre preocupada com o bem-estar de todos. É desta forma que retribuem todo o carinho que ela nutriu por eles em vida. Ingratos, todos eles.
Quando alguém morre, cai no esquecimento.
Esquecem-se, porém, que um dia também morrerão.

1 de abril de 2010

Paraíso Inalcançado

Deitei-me porque a cabeça pedia-me descanso. As consequências de meses de estudo não são imediatas; o corpo ressente-se mais tarde. Não puxei as cortinas, deixando o sol penetrar pelo quarto, batendo com todos os seus raios de final de tarde sobre o meu rosto. Depressa adormeci. Senti um ruído a dissipar-se, mas estava longe. Adormeci antes que pudesse decifrar do que se tratava.
Lembro-me de um jardim infinito, de um verde irreal e fresco. As flores eram de diversas cores e formas, mas recordo-me dos lírios roxos em tamanha quantidade que pareciam um tapete homogéneo de beleza e cor. Estava uma brisa suave, mas suficientemente agitada para fazer balançar o meu cabelo. A brisa trazia em si um perfume misterioso. Um aroma agradável de paz e sossego perpétuos. Não estava ninguém perto de mim. No entanto, consegui avistar algumas pessoas ao longe, no que me parecia ser um parque de diversões, mas não um parque qualquer: um lugar calmo e sereno. Olhei em redor. Senti-me abandonado, embora estivesse calmo e de bem comigo mesmo.
Quase como aparecendo do nada, vislumbro um rapaz. Tinha caracóis louros, da cor do ouro. Os seus olhos verdes diziam-me para não ter medo. Veio ao meu encontro. Parou diante de mim e, numa linguagem calma e pausada, disse-me:
-"Não tenhas medo. Aqui estás em paz..."
Não percebi onde estava nem quem ele era. Quando me preparava para falar, pegou-me na mão e começámos a correr. Corremos imenso, mas não estava cansado, nem sentia o peso do corpo. Era como se estivesse num lugar paradisíaco, em que a gravidade não tem a mínima influência, apesar dos nossos corpos estarem assentes em terra firme. Parámos junto a uma lagoa, ou talvez um lago. Largou a minha mão. Olhei para ele e comecei a caminhar em direcção à água. Vi claramente o meu rosto reflectido no espelho d'água. Era eu, definitivamente. Reconheci o meu sinal redondinho na bochecha, os meus lábios e os traços gerais do meu rosto. Olhei de novo para o rapaz e perguntei-lhe quem era.
-"Sou quem queres que eu seja. Um amigo..."
Dirigi-me ao seu encontro, deixando a lagoa para trás. Peguei na sua mão. Senti o seu aperto forte. Olhei em redor e vejo que não estamos sozinhos. Instantaneamente, apareceram pessoas vindas de todos os lados e nenhuma delas reparava no facto de estarmos de mãos dadas. Sorriu para mim e abraçou-me. Cheirava a alfazema. Senti-me incrivelmente protegido e amparado. Lembro-me de pensar nos pais, nos avós, na Só, nos amigos, nos primos; nada era suficientemente forte para me fazer abandonar aquele lugar.
Acordei. Estava no quarto da mãe. O sol já não batia no meu rosto. Chamei pela mãe. Não respondeu. Levantei-me, corri em direcção à sala de jantar e vi a Ana a colocar a mesa. Disse-me que a mãe chegava mais tarde e que já tinha avisado que não vinha jantar. Não lhe contei o meu sonho. Apenas lhe pedi um comprimido. Acordei com uma sensação estranha no estômago.
Fui para o meu quarto. Freud explicaria o meu sonho como sendo um conjunto de recalcamentos que foram exteriorizados pelo meu inconsciente enquanto dormia. Visto que o superego não permite que o faça em estado de vigília, o meu id transborda tudo quando estou a dormir. O pai dar-lhe-ia outra explicação, bem mais espiritual.
Apesar de tudo de bom que vi naquele sonho, acordei angustiado.
Não sei se gostaria de voltar a viver naquele paraíso inalcançado.