31 de março de 2010

Acordo Ortográfico - Incongruências

Contrariamente ao que tinha programado, não tenho aproveitado as férias escolares para dormir mais descansadamente. Hoje acordei bastante cedo e aproveitei para fazer a lista dos artigos que me fazem falta. Geralmente a Ana sabe o que eu uso, mas nunca é demais dizer-lhe, não vá precisar de alguma coisa e  depois não há. Também vi se faltava alguma coisa para a mãe. Ela sai cedo de casa para a empresa e quando volta as coisas já têm de estar organizadas. Não sei o que seria de nós sem a Ana.
Quando a Ana voltou do hiper, trouxe consigo um folheto informativo de um medicamento que dizia o seguinte: "Pára todas as gripes e constipações!".
Nada de especial, parece... O problema é que o novo Acordo Ortográfico (ou será velho, visto ser de 1990?) contempla o verbo parar quando aplicado na 3ª pessoa do singular do Presente do Indicativo. Passo a explicar, com a aplicação do Acordo, o acento agudo deixa de ser grafado. A palavra "pára" e a preposição "para" deixam de ter um sinal que as diferencie. Passarão a escrever-se da mesma forma, tornando-se palavras homógrafas. Dizem, os defensores do Acordo sem quaisquer tipos de objecções, que nestes casos será o sentido da frase que distinguirá o tempo verbal "pára" da preposição "para". Neste caso concreto que referi: "Pára todas as gripes e constipações!", tanto o tempo verbal como a preposição fazem todo o sentido. Vejamos: "Para todas as gripes e constipações" / "Pára todas as gripes e constipações". Aliás, a última frase era a que constava no folheto.
Neste caso específico, o facto do acento agudo desaparecer faz toda a diferença. Como é que nós, enquanto leitores e só referindo esta frase que dei como exemplo, conseguimos compreender o sentido que a publicidade nos queria transmitir?  Como é que saberemos se, de facto, se trata do tempo verbal "pára" ou da preposição "para"? Incongruências...
Apesar de ser um grande defensor do Acordo Ortográfico, que defendi no post de 11 de Janeiro de 2009, coloco algumas reservas à aplicação efectiva do mesmo devido a casos semelhantes a este que mencionei hoje. O Acordo tem imensas falhas e pontos susceptíveis de criarem problemas de compreensão entre os falantes da língua. O objectivo de qualquer língua viva é o entendimento o mais claro possível entre as pessoas que a utilizam como meio de comunicação. Nesse sentido, deve ser simplificada para facilitar a compreensão mútua, mas deve garantir que as normas de funcionamento e inteligibilidade estejam asseguradas. No exemplo que referi não o estão.
Espero que exista uma dose de bom senso por parte dos nossos insignes linguistas e que estas incongruências sejam devidamente resolvidas para o bem-estar de todos e, principalmente, da nossa Língua Portuguesa, património comum de mais de 200 milhões de pessoas.

30 de março de 2010

Igreja Católica - Heresias

Recentemente, a Igreja Católica Apostólica Romana viu-se envolvida em mais uma polémica, desta vez relacionada com o abuso sexual de crianças. Estávamos perante a "ponta do iceberg". De alguns casos em países específicos, foram-se desvendando caso por caso, abuso por abuso, alguns dos quais já com nomes portugueses na Comunicação Social. Que sempre existiram abusos dentro dessa instituição e que sempre foram silenciados não é novidade alguma. A grande novidade é o alegado envolvimento da figura máxima da hierarquia católica neste silenciamento, o Papa Bento XVI. Segundo os media, o Cardeal Ratzinger terá sido permissivo com um padre americano acusado de violar crianças surdas de 1950 a 1974. Ficando devidamente provada, esta atitude constitui um crime gravíssimo.
Mais uma vez, a Igreja Católica peca por hipocrisia e por desrespeito para com quem devia proteger, ou seja, as crianças que estão sob a sua responsabilidade. É manifestamente sabido que, em todas as épocas e em todos os lugares, existiram e existem padres com preferências sexuais por crianças. Estes padres têm de ser devidamente investigados e punidos. Existe demasiada permissividade da sociedade relativamente a estes indivíduos. A fé cega torna as pessoas indiferentes ao que sucede nas suas paróquias. A visão do padre bom, homem santo e intocável tem de acabar. Não se tratam de homens santos, mas sim de homens, muitos dos quais criminosos e que devem ser julgados e, se for caso disso, condenados exemplarmente. A Igreja Católica pode - e deve - ser criticada. Existe uma separação constitucional entre o Estado e a Igreja, apesar da célebre Concordata. Há questões que se devem sobrepor à fé numa determinada religião ou instituição religiosa. São as questões de consciência e de moralidade. Existem pessoas boas e más em todas as confissões religiosas, e a Igreja Católica não é excepção. Estes escândalos sexuais só vêm denegrir mais a imagem de uma instituição que há muito demonstra a sua progressiva e inevitável decadência.

Imagem - Auto-de-Fé da Igreja Católica (1683)

28 de março de 2010

Mariah Carey e Lady Gaga


Esta semana é muito especial porque duas das minhas intérpretes favoritas comemoram os seus respectivos aniversários. A Mariah celebrou ontem o seu 40º aniversário, sendo que a sua carreira perfaz este ano as duas décadas. A Lady Gaga, ou Stefani, para os mais íntimos, faz hoje 24 anos. Parabéns a ambas!
Muito sinceramente, gostava que a carreira musical da Gaga fosse mágica e em ascensão como foi a da Mariah. A Mariah foi líder indiscutível de vendas na década de 90, nos E.U.A. Tem 18 #1 na Billboard Hot 100, só ficando atrás dos Beatles. Este facto torna-a a artista mais famosa nos Estados Unidos e a que contabilizou o maior número de êxitos e de vendas de álbuns. A Mariah ganhou o Billboard Music Awards de Artista do Milénio, em 1999 e o World Music Awards de Artista Feminina Mais Vendida do Milénio, em 2000. Também ganhou em toda a sua carreira 5 Grammys, um número muito aquém do merecido...
A carreira de Lady Gaga, apesar de curta, já está recheada de êxitos. Dois #1 nos E.U.A, com Just Dance e Poker Face. Também recebeu dois prémios Grammys pelo seu álbum The Fame / The Fame Monster.

I love both. They're my inspiration, the light of my days and I can't spend a single day without listening to their songs. They're everything to me. :)

26 de março de 2010

Quando eu sonho...

Há umas noites atrás sonhei contigo. Sonhei que vinhas ao meu encontro e me pedias desculpas por tudo aquilo que fizeste de errado. Parecia tão real e não apenas um sonho ridículo e enganador. Ao acordar, fiquei com aquela sensação boa de sonho, principalmente quando é tão real quanto este sonho em concreto o foi. Era um prenúncio.
Vi-te ontem numa esplanada com uma rapariga. Confesso que todos os dias, em relação a ti, existe um dualismo no mínimo estranho. Se por um lado gosto de te ver, por outro lado prefiro que um possível encontro não aconteça. Quem era mesmo essa rapariga? Constatei que não é a mesma da última vez, muito menos a dos últimos tempos. Como estavam felizes! Pelo menos ela estava. Tu estarias? Não, não me viste. Que conveniente, ficaste de costas para a entrada. Infelizmente, tenho o dom de sentir a tua presença onde quer que estejas. Gostei particularmente da forma como a tocaste com a mão. A forma como a acariciaste e a iludiste. Sabes, ela pensa que é feliz. Imagino as histórias que lhe contas, a forma como utilizas as palavras para lhe dizeres que a amas. A forma como finges um amor.
É incrível como as situações se repetem no tempo. Era capaz de apostar o mundo em como já vi uma cena idêntica. Continuo - e continuarei - a não perceber de quem foges ou do que foges. Provavelmente de ti. Sabes, acho que és profundamente infeliz. E essa infelicidade é contagiosa. Naquele momento tive pena. Pena dos dois. Mais de ti do que dela. Ela encontrará, um dia, alguém que a ame. Tu continuarás a percorrer esse caminho errático que só te conduzirá à amargura e tristeza totais. Sabes isso. Senti-me bem por ter a mãe à minha espera no carro. Pude dar por concluído o nosso encontro, sim, encontro. Saí, mas não penses que saí feliz. Ainda sofro por ti. Só por ti. Nunca por mim. Nem uma lágrima escorreu no meu rosto. Nunca escorreu, nem nunca irá escorrer.
A propósito, não me envies mensagens de madrugada porque "precisas de falar comigo".
Não há nada que possamos dizer um ao outro. Descobri uma outra forma de viver-te. Vivo-te em mim, à noite, quando sonho contigo. Lá, és como eu quero. O meu sonho consegue filtrar tudo o que de mau existe em ti.
Estamos juntos, à noite, quando eu sonho contigo.

25 de março de 2010

UCP

O dia de ontem, quarta-feira, foi agitado e surpreendente. Como sabem, andei indeciso relativamente ao curso superior que quero seguir e, nesse sentido, tentei procurar ao máximo as melhores saídas para mim. Há umas semanas atrás, recebi um convite para ir ao Dia do Candidato - Licenciatura de Direito na Universidade Católica. Aceitei, claro! Em primeiro lugar, é uma Universidade de renome e com excelentes referências.
Hoje lá fui eu, todo pimpolho, à UCP. Resumindo, em uma palavra, ADOREI! Foi espectacular.
Bom, em primeiro lugar, à entrada, deram-me um saco vermelho com umas cenas  lá dentro, do género, uma caneta, um bloco, uns folhetos informativos, etc... A senhora foi muito simpática. Reparei que éramos cerca de cem. Às 14 horas, entrámos no auditório 2, onde tivémos uma palestra com alguns professores e alunos veteranos sobre a faculdade, o curso, a modalidade, as exigências... Também esteve presente uma professora norte-americana que falou, como é evidente, em inglês. Aliás, soube que o inglês, em Direito, é uma peça obrigatória na UCP. É claro que percebi o que a senhora disse, mas irei precisar do inglês técnico, base essa que ainda não tenho.
Depois, lá pelas 17 horas, foi a hora do lanche. Tinha imensa comida. Bolos, ice tea, croissants. Eu comi só um pãozinho e bebi um ice tea de manga. Por último, fomos visitar as instalações. Visita guiada pelos estudantes, embora não tenha tido a noção do ano em que estavam. Foram todos super simpáticos, senti-me bem, incluído. Fiquei mesmo com uma excelente impressão. Um dos rapazes era... o ideal. Simpático, moreno, giro, divertido, brincalhão e disse uma coisinha que me deixou intrigado. :) Estávamos a ver uma associação, ou lá o que era, e ele fez sinal para que entrássemos noutra divisão. Como estava imediatamente atrás dele, deu-me passagem e, quando passei, disse o seguinte, baixinho mas audível: -"E que colegas giros que vamos ter cá...". Eu, que sou um pouquinho tio, olhei para trás com aquele ar que só eu sei fazer de surpresa/mistério. E ele? Sorriu, mas um sorriso matreiro. Ok, ok.. :) Mas, nem tudo eram rosas, e alguns eram verdadeiros cactos. Lol Também existia lá um loirinho muito simpático, que por acaso explica super bem. Já para não falar das senhoras, que foram encantadoras, sempre com um sorriso amigável. Eu não sou muito de criar grandes intimidades à primeira impressão, mas um rapaz começou logo a falar comigo. Fomos juntos até ao metro. Era simpático, mas estava quase careca.. :/ E tinha só 17 anos. Os olhos até eram engraçados. Falava e falava, mesmo a meter conversa. :) Enfim...
Bom, a última palavra é a minha. Eu ainda estou indeciso com a História!!! Estou mesmo baralhado. A mãe já disse que adorava que eu entrasse na Católica, seja em História ou Direito. Que sabem receber bem, sabem. Foram excelentes.
E, digamos, para além da nota 11 (numa escala de 0 a 10) que atribuo a tudo, eles têm uns estudantes muito simpáticos e atenciosos. Só por ter ouvido aquilo dito por um deles, era motivo mais do que suficiente para gostar do ambiente. :)
Rezo, para que estes meses passem depressa. Estou ansioso pela minha vida universitária.

22 de março de 2010

Toranja

Há uns seis aninhos atrás (era eu um adolescente chato e mimado, adjectivos que ainda me definem...), saía o single Carta, extraído do álbum Esquissos, da banda Toranja. Lembro-me da Leninha comprar o álbum e colocá-lo a tocar. A princípio não liguei muito, todavia, com o tempo, passei a gostar. Especialmente do vocalista da banda, Tiago Bettencourt, que acho um músico excepcional, simpático, dedicado e muito giro! Sim, é verdade. Acho-o completo. Tem tudo no seu devido lugar. E a barba de não sei quantos dias confere-lhe um charme irresistível.
Hoje estive a dar um vistinha d'olhos pelos meus cd's, quando reparo no álbum dos Toranja, que a Leninha fez o favor de deixar em casa depois do seu casamento. Coloquei-o a tocar e as minhas memórias voltaram num ápice. Já se passaram seis anos! Soube, entretanto, que os Toranja suspenderam a sua actividade enquanto banda, o  que me entristece um pouco. Espero que voltem. Mas, parece que o Tiago tem outros projectos musicais. Tenho de me informar sobre isso. Com ou sem os Toranja, a sua voz é fantástica.
E que fantástica era a música Carta...


21 de março de 2010

José Carlos Ary dos Santos

Um dos maiores e mais conhecidos poetas do século XX, José Carlos Ary dos Santos primou pela ousadia e irreverência num país dominado pela ditadura ultraconservadora de António O. Salazar. E se é verdade que sempre foi um militante anti-fascismo, também é verdade que as obras mais conhecidas pelo grande público devem-se à sua participação no cançonetismo português. Alguns desses poemas emblemáticos encerram todas as memórias colectivas de um povo, como a Desfolhada, interpretada por Simone de Oliveira; ou a Tourada, na voz de Fernando Tordo. A genialidade de Ary dos Santos trespassou as suas orientações políticas e o estigma por elas produzido; até mesmo algumas famílias de direita, católica e conservadora admiraram a sua capacidade como compositor e poeta. A sua capacidade de auto-definição, as suas lutas políticas e, até mesmo o facto não esconder a sua orientação sexual, fizeram dele um homem inesquecível para o panorama triste e sombrio do pós 25 de Abril.
O pai, imbuído naquela esquerda, embora burguesa, sempre teve um grande carinho por Ary dos Santos. Conheceu-o nos anos 70 e, ocasionalmente, falava-me dele e da sua personalidade forte e determinada. Os ventos da Revolução ecoaram também sobre ele. José Carlos Ary dos Santos era assim: único e mítico e, nesse sentido, mantém-se vivo na memória de todos os que admiravam a sua extraordinária capacidade de intervencionismo social.
Ary faleceu em 1984.

20 de março de 2010

Everyday is so wonderful...

O desenho e o cd dos Queen jazem em cima da mesa à sua espera. Mais um ano em que não apareceu para o-almoço-simpático-só-nós-os-dois-neste-dia-tão-especial. Em todo o dia aguardei pelo seu telefonema, quando lhe enviei uma mensagem para o voice mail por estar incontactável. À tarde, telefonei-lhe novamente e atendeu uma senhora cuja voz eu nunca tinha ouvido. Disse-me que era uma "amiga especial". Não existindo outra alternativa, deixei o meu recado à "amiga especial". Não pedi nada, apenas um telefonema, um beijo telefónico e, quem sabe com muita sorte, uma visita para entregar os presentes.
O tempo passou e nada mudou. Nem eu mudei, que continuo a acreditar nas reuniões extra, nas deslocações prioritárias, nas horas imprescindíveis...
O cd vai aguardar embrulhado, a voz de Freddie Mercury não se irá ouvir por estes dias; o desenho vai para a gaveta. O seu destino é tão inútil quanto o facto de existir.
Passou um dia bom? Espero que sim. Fico satisfeito com a sua felicidade.

...and suddenly, it's hard to breathe...

Não é por morrer uma andorinha que acaba a Primavera.
Muito menos quando ainda está a começar.

18 de março de 2010

A Timidez

A timidez é uma das características pessoais mais conhecidas e talvez mais comuns. Muitas pessoas consideram-se tímidas. É bonito dizer-se que se é tímido. Dá um certo estatuto de pudor, em certa parte compreensível. E depois, existem as pessoas que são realmente tímidas. Aquelas pessoas que ficam envergonhadas facilmente e em quase todo o tipo de situações. Há apresentadores, actores que se consideram tímidos, muito embora desempenhem papéis muito pouco associados à timidez.
Da minha parte, não sou tímido. Nunca o fui. Também não utilizo este facto como bandeira associada à minha pessoa, simplesmente não o sou. E esta falta de timidez é verificada nas mais diversas situações do dia-a-dia. Gosto de perguntar o que penso, de forma a dissipar as minhas dúvidas. Um sociólogo, amigo da mãe, disse-me que é uma maneira que eu, inconscientemente, utilizo para explorar a minha curiosidade. Por exemplo, eu tenho um colega moçambicano. Existe, como sabem, o mito de que os moçambicanos têm uma certa vantagem sobre os outros povos em termos de proporção peniana. E eu? Perguntei ao rapaz se era verdade, em plena aula. Noutra situação, questionei um senhor Testemunha de Jeová se, caso o casamento homossexual fosse aprovado, era capaz de casar com outro homem, rico, de forma a salvar um filho doente que precisava de dinheiro para encontrar a cura. Cura que não envolvesse sangue, claro. Lembro-me que esta pergunta foi feita numa sala cheia de gente e eu, na época, tinha 14 anos. Fui repreendido por "falta de vergonha. Parece impossível, um menino tão educado.". Aquele ano foi prolífero em situações bizarras, pensando bem. No Verão, tive calor e quis mostrar o umbigo. O que fazer? Cortar a t-shirt mais gira, oferecida pela irmã da mãe, vulgarmente conhecida por tia. O engraçado é que ninguém se chocou. Também não estava nem aí. Entre muitas situações que o tempo não refreou, antes pelo contrário. Sou assim desde bem pequenino e duvido que mude, mas também não quero. Apesar de odiar tabaco, também me recordo de ter dado uma valente puxadela num cigarro da tia Bé, quando tinha 7 anos e já asmático. Lembro-me da tia e dos outros familiares todos aflitos porque "o menino 'tava sem arzinho". Mais recentemente, quando a mãe decorou a sala nova, no dia em que os homens trouxeram os móveis, perguntei a um deles se não queria despir a t-shirt  porque estava a suar em bica. E ainda lhe disse que era um desperdício estar com ela vestida. A reacção do homem foi rir. Riu demais, até... E não é que despiu? Outra vez, fui com a Ana a uma peixaria (um horror!) e, como levava O Contrato Social de Rousseau na mão, comecei a falar do livro a uma peixeira.
Não tenho emenda, de todo.
Mas é muito divertido.

15 de março de 2010

Preto ou Branco

Admito que não tenho uma grande capacidade de lidar com todo o tipo de pessoas; há um certo tipo de pessoas com as quais eu não consigo estar, onde se incluem, como é evidente, preconceituosos, homofóbicos/homófobos (conforme o gosto...), xenófobos, etc.
Ontem a mãe recebeu umas amigas cá em casa. Não tenho por hábito ouvir as suas conversas enquanto tomam o chá. Falam daqueles assuntos banais, como o vestido desta, o divórcio daquela...
Porém, ontem, fiquei com elas a falar. Algumas amigas da mãe têm interesse e dois palmos de testa; outras, no entanto, são tão ocas que dão dó... Uma delas é assim. O pior nem é a verborreia mental que exala por todos os poros da pele; o pior é mesmo o preconceito absurdo que demonstra.
Estavam a falar, quando a senhora  se lembra de dizer o seguinte: - "A prima de uma amiga envolveu-se com um preto! Meu Deus! Eu até conheço a mãe dela. Foi um desgosto tão grande. Criada com tanto amor e carinho. E ela até é gira "pa" andar com um preto.".
Fiquei possesso. Não me contive e respondi: - "Não vejo o menor problema! Isso é um terrível preconceito! Há pessoas boas e más em todos os povos. E, em relação ao facto de ser "gira", fique a saber que há africanos muito interessantes.".
Ficou envergonhada. Pudera! Mas mesmo assim ripostou: -"Claro que os há, mas era capaz de namorar uma preta?". Pensei: "'Tadinha da pequena, quer ver se me apanha em algum ponto!".  Respondi-lhe: -"Uma africana talvez não, era um caso para meditar, de resto não sei!". Para bom entendedor..., já diz a voz do povo.
Eram cinco, mais a mãe. Ficaram atónitas, sem a mínima reacção. E continuei: - "Há africanos giríssimos; o que dizer do Shemar Moore, da Naomi Campbell, do Tyson Beckford, entre muitos outros?".
Finalizou: - "Está tudo muito bem, mas para mim, não!".
Levantei-me e saí.
Depois do chá ter acabado, a mãe foi ter ao meu quarto e disse-me que concordava em absoluto comigo, mas que tinha sido evitável aquela confrontação. Disse também que a senhora em questão é conhecida pelos seus preconceitos infundados e explícitos.
A questão não está no preconceito exclusivo dessa senhora; o problema é que esta é mais uma das opiniões profundamente discriminatórias que existem por aí. Esta senhora julga as pessoas consoante a sua cor de pele, estrato social, provavelmente, orientação sexual, etc. O seu grau de cultura geral é baixíssimo, as suas habilitações, idem; mas tem o amado esposo (com dinheiro), que lhe dá a sensação, puramente ilusória (pobre coitada), de superioridade. As outras amigas da mãe, onde a mãe se inclui, são pessoas normais. Não usam nada do que têm como arma social. Resumindo: nova rica.
Já o disse: quando essa senhora  estiver em casa, avise-me, para eu não sair do quarto.

13 de março de 2010

Museu e Praia

Apesar da segunda palavra do meu título ser bastante sugestiva, praia não significa propriamente que tenha estado na praia, com direito a banhos e tudo. Estive na praia, sim, mas de passeio, na sexta-feira. Foi divertidíssimo. Estive em Sesimbra e a manhã estava óptima. Foi fantástico. A meio do dia, o céu ficou com nuvens, mas o bom tempo manteve-se o suficiente para passar um dia muito agradável. Fui com a Só e o Di. Fomos almoçar fora e dar uma volta. Confesso que já tinha imensas saudades da praia e das caminhadas à beira-mar. Faz muito bem à saúde, incluindo a saúde mental. Saí leve e descontraído.
Hoje fui a uma visita de estudo inserida na disciplina de História. Fomos ao Museu das Comunicações. Foi tão giro! Adorei. Vi de tudo: desde um telégrafo dos mais primitivos, remontando aos finais do século XVIII até à Televisão Digital Terrestre e às últimas inovações tecnológicas. A guia da visita, ou seja, a senhora que nos acompanhou, era simpática, mas não a achei suficientemente informada para esclarecer as nossas dúvidas...
Fiquei deslumbrado com o que vi; eu sempre valorizei tudo o que é antigo e que, por isso, tem alguma história. Nesse sentido, adorei ter acesso a telefones do início do século XX, a equipamentos de filmar primitivos dos primeiros tempos da RTP, a rádios antigos, etc. Tirei imensas fotografias, incluindo esta que coloquei no post. Se tiverem oportunidade, visitem este museu. Vale a pena.
É uma viagem fascinante pelos primórdios da informação que mudaram o mundo e a forma com que nos comunicamos.

11 de março de 2010

O Recomeço

O "amigo" chegou ontem. Como estava combinado, fui esperá-lo à gare dos autocarros com a mãe. À chegada, cumprimentou-nos com o seu sorriso habitual. Estranhei-o. Parecia outra pessoa. Não é de relativizar; o sofrimento dos últimos tempos imprimiu-lhe um ar desgastado.
Tomámos o lanche numa pastelaria simpática e combinámos a tão desnecessária romaria às pensões desta cidade. Tudo seria evitável se as pessoas fossem compreensivas. A mãe decidiu vir connosco, pois achou que não era uma boa ideia deixar-nos sozinhos à procura do inesperado. Senti-me confortado.
Depois de entrarmos em algumas pensões, ele escolheu uma que lhe pareceu a indicada. Nem se poderá chamar pensão; trata-se de um quarto alugado por uma senhora idosa que não tem meios para pagar os seus remédios, fazendo escolhas entre a alimentação ou a saúde. Menos mal.
Nunca tinha entrado em lugares semelhantes, mas pude testemunhar  as más condições e a insalubridade que existe por aí. Senti-o apático. Não raras vezes, perguntei-lhe se tinha reflectido o suficiente sobre o assunto e se, de facto, aquela era a atitude que racionalmente queria tomar. Disse-me que sim.
Terá outras preocupações, com a despesa do quarto e a alimentação. A mãe garantiu que iria tentar arranjar-lhe um emprego, tentar. É difícil. Não tendo carta de condução, não sabendo falar inglês ou espanhol, é muito complicado para a mãe conseguir que o coloquem como um simples estafeta na empresa. Era essencial outras qualificações.
Quando cheguei a casa, senti-me imundo. Fui tomar um banho bem demorado para tirar aquele ar de pensão barata e miséria de cima de mim. O que a homofobia pode fazer. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, sentia os pingos a caírem em círculos redondos como se estivéssemos num dia de chuva. O terror para ele tinha começado, ou teria acabado? Perguntei-me. Enviei-lhe uma sms, perguntando como se estava a sentir. Descobri, por ele, que merecia ser feliz. Senti uma sensação de invasão a percorrer-me a mente, como se de uma força maior se tratasse. Ele teve, por breves segundos, o condão de decidir a minha vida e o meu destino. Era como uma força interior que permitia o acesso à felicidade, um desejo de alegria eterno. No fundo, presenteou-me com a única coisa que lhe resta: os desejos do bem para quem também lho fez.
Recompensou, mesmo sendo só um "amigo", com algumas aspas.

10 de março de 2010

Os momentos banais trarão felicidade?

Ela estava à espreita...
Era perseguida...
Quem a perseguia?
A norma...
Quem é a norma?
O que não queremos, mas TEMOS de fazer...
Porque temos de fazer?
Porque é exigido!
Talvez me domine por fora, mas por dentro, nunca serei possuído!
Como tens tanta certeza?
Porque estou vivo!!
A força dela é maior.
Não, não é. A minha Natureza é a maior força que habita em mim.
Posso lutar com ela, mas nunca contra ela...

8 de março de 2010

Mariah Carey - Uma das razões que me leva a adorá-la



Esta performance data de 1992, no GRAMMY Awards do mesmo ano.
A música chama-se If It's Over e foi extraída do álbum Emotions, de 1991. É considerada uma das melhores prestações Live! da Mariah e até mesmo da história do GRAMMY Awards.

7 de março de 2010

Triste Planeta Azul

A Terra começa a dar sinais de fraqueza... Está farta de nós. Farta de ser maltratada ao longo dos séculos por guerras infundadas (que a marcaram decisivamente) e, principalmente, desde o advento da Revolução Industrial.
Não somos bons terráqueos. Não somos bons amigos. Não somos bons em nada.
Até somos bons, a destruir, a semear o ódio, a desflorestar, a poluir, a matar...
Vivemos num planeta com um sentimento de posse jamais observado. Quem somos nós, afinal? Existimos há cerca de 40.000 anos. Será que esse período de tempo dá-nos o direito de utilizar todos os recursos do planeta como se ele fosse exclusivamente nosso? É evidente que não. Os dinossauros habitaram a Terra durante muito mais tempo, logo, nesse sentido, teriam muitos mais direitos do que nós sobre ela.
Nenhuma outra espécie marcou de tal forma a Terra como nós. E continuamos com a ideia da eternidade e da infalibilidade. Jamais acabaremos. Quanta pretensão! Se um meteorito colidisse com a Terra como outrora, os benefícios para a mesma seriam mais do que muitos. Extirpar da face da Terra tamanha raça (humana) seria o maior dos desejos do planeta. Está realmente farta de nós. Se pudesse falar, tenho a certeza que concordaria comigo.
Mas pode usar outras armas, de modo a expulsar e destruir o filho ingrato. Com sismos violentíssimos, com cada vez mais frequência; com tufões, ciclones e furacões devastadores; com cheias que tudo arrasam à sua passagem; com maremotos gigantescos que inundam cidades e matam inocentes e culpados...
Chegámos ao ponto de não-retorno. Nada do que possamos fazer evitará o que se segue.
Os nossos séculos estão contados. Será péssimo para a raça humana, mas o ciclo terrestre é mesmo assim.
Seguir-se-ão outras espécies, outras formas de vida.
A Terra, sem os humanos, voltará a ser o lindo planeta Azul.

5 de março de 2010

Fuga de Si

Ontem, durante o jantar, expus a situação do tal "amigo" à mãe. Como era de esperar, também ela não aceitou que ele viesse cá para casa, com uma diferença; eu pensava que o motivo seria de outra ordem, porém, a mãe disse que não aceitava simplesmente porque não podia compactuar com esse preconceito ridículo. Disse, e com razão, que ele não devia fugir, mas sim dar a cara, enfrentar a situação, afinal, não é ele que está errado. Os homofóbicos que o perseguem, esses sim, estão errados.
A mãe também perguntou a opinião da Lena e do Pedrinho (os meus irmãos que, apesar de já não viverem connosco, é-lhes sempre pedida a opinião...). Concordaram com ela e eu também acabei por concordar. É o lógico e o certo. Não é admissível que ele fuja da sua vida, enfim, de si próprio.
Hoje, apesar de ter ficado de lhe dar uma resposta há uns dias atrás, telefonei-lhe e disse-lhe o que tínhamos concordado. Ele compreendeu mas, de qualquer forma, está decidido a vir para Lisboa. Predispus-me a ajudá-lo a encontrar um sítio digno para ficar e, provavelmente, um emprego. Chega na quarta-feira. Combinei com ele de procurarmos um hotel ou pensão onde ele possa ficar. É a primeira vez que me sujeito a tal situação, mas é por uma boa causa...
Também soube, ontem, que a mãe amanhã vai dar um jantar cá em casa, em que vêm gestores, empresários, etc... Q'horror! :/ Quando são jantares com amigos é divertido, agora com os gestores... São todos homens de meia-idade (50, 60's...), chatos, convencidos e fumadores inveterados. Já estou a imaginar o cheiro dos charutos e os copos de whisky e brandy nas suas mãos... A mãe também não se faz de rogada, e bebe, fuma... E agora, que o meu adorado e muito estimado  padrasto está de viagem, imagino a festa... Haja paciência!
Bem que ela podia convidar alguns office-boys lá da empresa.. :) São simpáticos, divertidos, giros (alguns...)...
Pois, mas não têm dinheiro.
A palavra mágica que faz girar o mundo.
Infelizmente.

4 de março de 2010

Aventura na Secretaria


Ontem, fui entregar o Boletim de Inscrição dos Exames Nacionais na secretaria. Precisamente no último dia, ou seja, o dia da confusão geral. Eu também sou um pouquinho preguiçoso. Já tinha os papéis há imenso tempo e só ontem é que decidi, finalmente, entregá-los na secretaria. Lá fui eu, todo pipi, entregar os papéis sem estarem preenchidos. :) Quando a senhora me viu, disse: -"Ai, ainda não está preenchido, então 'tá bem!". Fiquei com uma cara... Tudo a olhar para mim. E eu respondi, inocentemente: -"Sabe, é que eu estou com dúvidas a colocar os códigos e assim...". Querem saber a resposta (e com alguma razão, confesso...)?: - "Mas eu também estou a ver o espaço da Identificação e o resto em branco!". Ok, decididamente ela tinha razão. Lol
Vim até cá fora com outro rapaz e sentámo-nos numa mesa a preencher os papéis (ele também ainda não o tinha feito). Não o conhecia. Deve ter estudado em anos anteriores. Bom, também era mais velho do que eu. Eu espreitei a data de nascimento.. ;) Fartava-se de rir para mim. Por acaso tinha um sorriso fixe, mas decididamente, não! Lol
Voltei, para que a senhora me ajudasse a preencher os papéis. Depois de esperar, lá me ajudou a colocar os códigos (639 - Português; 623 - História A. LOL), as cruzinhas, etc... Depois, pergunta-me: - "E a fotocópia do B.I ou Cartão do Cidadão? 'Tá onde?". Pensei: "Oh my Goodness!". E disse: -"Sorry, não sabia...". Ficou perplexa: -"Então, vai a correr tirar a fotocópia e traz o B.I, também!".
Tirei a fotocópia e, finalmente, entreguei os papéis. O amarelo ficou para mim. Deu-me um recibo, ou lá o que é, e prontinho.
O rapaz que preencheu os papéis comigo ainda lá ficou. :)
Agora, o resto é comigo. Tenho de estudar... Quanto a isso, não há problema. Gosto de estudar.
Até já estou a definir um plano de estudo. Para dois exames nacionais torna-se necessário. :)

3 de março de 2010

Twitter

É uma opinião quase unânime: -"Twitter?! Ah, é interessantíssimo!"; Outros... -"Ai, adoro!"; e ainda há quem... -"Já não vivo sem ele".
Perante estas evidências, demonstrações de qualidade e diversão mais que garantida (?), também eu aderi ao fantástico (dizem...), ultra (é o que consta...), mega (sim, sim, é bom...) super (tanto?..) Twitter, dedicado ao blogue.
O botãozinho correspondente está no lado esquerdo do meu blogue. Se quiserem, podem seguir.. :) Assim aproveitam e ensinam-me um pouco sobre o Twitter, que eu ainda não estou totalmente familiarizado com ele. :P

2 de março de 2010

Mais uma vítima do preconceito


Ontem recebi um telefonema de um "amigo" com quem falo de vez em quando. Coloco amigo entre aspas porque, de facto, não o posso considerar um amigo íntimo com quem tenha uma relação especial. Conheci-o em 2002 (era tão pequeno ainda), na casa da avó no Alentejo. Ele vive lá, nasceu lá, enfim, é filho da terra. A avó conhece a família dele e alguns dos seus familiares chegaram a trabalhar para a avó. Existe uma relação de proximidade.
Ele é mais velho do que eu dois anos. Nas férias do Natal, Páscoa e, por vezes, Carnaval, costumava ir passar lá esses períodos de tempo. A família dele é carenciada e, como a avó os conhecia, ele tinha o hábito de vir brincar comigo e com os primos. Até aqui nada de especial. Acontece que ele é gay e, já naquela altura, era imensamente discriminado. Alguns anos mais tarde, em 2006, revoltava-me o que eu assistia. Na rua, as pessoas gozavam descaradamente com ele. Homens, mulheres, até crianças, instruídas com a maldade dos pais. Por vezes, eu e os primos saíamos com ele. Passado pouco tempo, só eu e a Ana resistimos. Os primos (rapazes) tinham vergonha de o acompanhar. Em qualquer lugar onde entrava, era vítima de homofobia. O motivo, embora de forma alguma desculpabilizante, era o facto de estarmos num local isolado do interior. A Ana não aguentava e, não raras vezes, respondia aos homofóbicos. O rapaz vinha sempre a chorar para casa, profundamente envergonhado, mas contava com o nosso apoio. Na altura de regressar, demos-lhe o nosso contacto telefónico, e-mail, de forma a ele poder desabafar com alguém (até o irmão o gozava!!!).
Mantivemos o contacto. Em 2007, não aguentando a pressão, ele foi para Inglaterra trabalhar, mas deu-se mal. Voltou. Para onde? Para a terrinha! Voltou a discriminação, o gozo, segundo me contava. O pai não o aceitou, teve de alugar casa. Ninguém lhe dava emprego... Um rol de horrores.
Ontem telefonou-me. Perguntou-me se podia passar uma temporada em minha casa. Não soube o que lhe responder. Por mim até pode, mas não sei se a mãe vai aceitar. Já vários amigos dormiram cá em casa, mas viver é outra coisa. Implica uma convivência diária, uma confiança que ainda nem temos. Disse-me que não vai incomodar, nem dar despesa. O problema não é esse, é mesmo a falta de intimidade. Fiquei de lhe dar uma resposta amanhã... Já perguntei à Ana, e ela disse-me que o melhor é ser directo e objectivo: Não dá!
Mas tenho pena dele.
Que mundo este, em que uma pessoa tem de sair da sua própria casa, do seu ambiente e da sua família devido ao preconceito abismal que ainda existe.