25 de outubro de 2010

Sentir-te de Perto


É tão bom acordar pela manhã e saber que um objectivo nos espera. É tão bom saber que temos algo a conseguir, alguém a encontrar, um rosto para sorrir e, quem sabe, uma boca para beijar. Não necessariamente todos estes requisitos. A ordem é meramente processual e variável.
As minhas manhãs são únicas. Únicas como eu. As janelas de minha casa são amplas como duas portas abertas ao futuro. Sinto os raios vivos do Sol ou o bater suave da chuva. Sinto-me cá dentro como se estivesse lá fora. Saio da cama. Passo pelo espelho e agito freneticamente o denso cabelo despenteado. Surges-me no pensamento. Caminho em direcção ao banheiro. Barbeio a cara, ligo a água e tomo um banho quente e perfumado. Sinto o cheiro da tua pele misturado com o aroma do gel que escorre pelo meu corpo sedento do teu. Visto o roupão sobre o corpo molhado. Passo a toalha no cabelo humedecido. Vou para o quarto de vestir. Retiro a roupa do closet e imagino-te sem roupa, sentado no sofá de apoio, com apenas uma pequena toalha a envolver a tua cintura. Aliso e arranjo o cabelo com a escova progressiva. Depois de vestido, dirijo-me à mesa da sala de jantar para tomar o café da manhã. A mãe já está de saída para a empresa. Sirvo o café com uma pinga de leite e como o meu croissant com compota de maçã. Imagino-me a tocar com os lábios na tua pele. Trinco o croissant delicadamente, assim como o faria com o teu tesouro mais bem guardado. Retiro o guardanapo do colo e limpo os lábios, adivinhando os sucos do teu ser. Hoje é a Ana que me leva à faculdade. A mãe tem reunião. Vou à sala de estar e pego nas minhas coisas. Passo pela cómoda de entrada e dou um toque na franja do cabelo com a mão. É o teu rosto que quero ver.
Na rua cai uma chuva ténue e quente. Os faróis dos carros aumentam a minha ansiedade.
Chego, por fim. Um amontoado de caras indecifráveis pairam sobre o meu caminho. Nada vejo e ninguém distingo.
Sim, estás ali, sentado a ler um livro. O espaço ainda está praticamente vazio. Se a minha pontualidade é britânica, a tua será alemã. Até que enfim posso sentir-te de perto. Um «olá», um «aperto de mãos» que não se querem largar e a paz que surge dentro de mim.
Gosto de ti.



Que todos os inícios de semana sejam assim, como este.

10 comentários:

  1. Uma delícia o post. Acho que terá continuação...
    Beijos.

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  2. «Trinco o croissant delicadamente, assim como o faria com o teu tesouro mais bem guardado»
    eu registei Mark, eu registei =D

    é incrível a forma com que tu transformas algo carnal, mesmo sexual em algo lírico. isso é lirismo. brincas com as palavras.
    gostei mesmo. =)

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  3. Espero que o R. quando trinque a carcaça também pense em ti ;)

    Estou impaciente pelo desenrolar dos acontecimentos. Eu, os teus leitores e, lá está, tu. Acho que já fazia falta um convite para um café... para estudar lógico.

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  4. E é só o início da semana :P.

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  5. Pinguim: E tu és um querido. :) Muito obrigado!

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  6. É bom saber que realmente te rendeste aos encantos do rapaz. Concordo com os comentários anteriores: é fantástica a tua capacidade de tornar todos os teus sentimentos num texto tão lindo.

    Espero que corra tudo bem.

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  7. Hoje, 20 de Outubro de 2012, escreveste novamente sobre chuva. Lembrei-me deste post teu, que já tinha lido, mas não comentado.
    Preferi comentar este... é maravilhosa a tua descrição de um sonho. Desejava estar nele.
    Só isso.
    Um abraço com todo o carinho :33

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  8. Hoje 20 de Outubro de 2012 escreves novamente sobre chuva. Lembrei-me deste teu post, que já tinha lido, e que acho magnífico.
    Preferi deixar o meu comentário aqui, porque é belo o que escreveste.
    Queria ser eu o personagem que contracena contigo. Sei que foi o R., nos teus sonhos.
    Todo o carinho, meu querido Mark...
    Um abraço apertado.

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