30 de outubro de 2010

Simples na Sua Simplicidade


O nosso momento mais pessoal e íntimo chegou, se é que se pode chamar de «íntimo» a um almoço no bar da faculdade. De qualquer forma, foi algo em que participámos os dois. Foi a segunda vez que comi no bar da faculdade. Tenho tempo suficiente para, querendo, ir a casa almoçar. A situação dele é bem mais complicada porque tem de ir para Setúbal todos os dias. Ainda não se decidiu a arranjar um lugar para ficar por aqui. Já me passaram imensas coisas pela cabeça. Não tenho aquela familiaridade com ele, mas já pensei em falar-lhe da casa da avó, que tem muitos quartos, ou mesmo aqui em casa, no quarto de hóspedes. Não é uma questão de confiança, eu confio inteiramente nele. É mais um receio da minha parte de que ele se sinta fragilizado, pensando que eu penso que não tem capacidades por si próprio para arranjar um lugar para ficar. Eu só queria ajudá-lo. Ele é corajoso, decidido, mas ao mesmo tempo é tão indefeso, com um olhar perdido, abandonado e sozinho...
Bom, o nosso almoço de sexta foi uma graça. Ele é um cómico. Tudo tem graça, tudo pode ser alvo de sátira. Gosto disso. No bar, depois da enorme fila para o almoço, pegamos num tabuleiro, vamos andando e colocando as coisas (sopa, prato principal, sobremesa, etc...), até chegarmos à banca do pagamento. Tive de comer frango com batatas fritas. Os outros pratos eram intragáveis para o meu gosto.
Depois de nos sentarmos, começámos a comer. Ele tem uma forma, como hei-de dizer, tão diferente de comer. Come sem regras, ou melhor, não tem aquela atitude esmerada em segurar nos talheres, no guardanapo... Digamos, não tem aquele cuidado. Houve uma parte (escrevo e não evito um sorriso) em que eu cortava cuidadosamente a carne, preparando para levar o garfo à boca. Ele estava debruçado literalmente sobre o prato, comendo ruidosa e apressadamente, como se não comesse há séculos. Reparou que eu olhava para ele admirado. Olhou para mim, subindo o olhar, com a boca cheia de comer e com aqueles olhinhos de bichinho assustado e parou. Sentiu-se envergonhado, na certa. A partir daí, endireitou as costas e começou a comer com mais vagar e disciplina. Somos tão diferentes!...
Eu não me sinto mal na sua companhia; pelo contrário, sinto uma pureza e honestidade raras nos dias que correm. Ele é assim porque é a sua génese.
Depois do almoço, saímos da faculdade. A Ana veio buscar-me de carro porque, sou honesto, detesto andar de transportes públicos. Despedi-me dele. Queria abraçá-lo, agradecer-lhe por me ter proporcionado um almoço tão diferente.
Já no carro, pensei em apresentá-lo à mãe, à avó e, quem sabe, até às primas. Às primas é mais perigoso; tenho umas que têm uma queda por rapazes simples. Sei lá, gostam de transformá-los. :) Seriamente, penso em convidá-lo para estudar cá em casa num destes dias. Fazer um lanche, algo simples para ele se sentir à vontade. Algo simples como ele: simples na sua simplicidade.

29 de outubro de 2010

Carrie



Eu gosto imenso de filmes de terror. Porém, não gosto daquele terror banal e medíocre. O terror de que eu gosto não tem necessariamente de envolver um grande medo, com muito sangue, monstros sobrenaturais e fantasmas... Nada disso. Há aquele terror misterioso, místico e envolvente. É o meu terror de eleição.
Este filme, Carrie, data de 1976. Realizado por Brian de Palma (inspirado no livro homónimo de William Peter Blatty) e tendo como Carrie a fantástica Sissy Spacek, Carrie é um dos grandes clássicos do cinema de terror mundial, nomeado a dois prémios Oscar da Academia. Para mim, junto a O Exorcista, é o melhor filme de terror de sempre. Vi este filme com cerca de quinze anos, creio. Recordo-me perfeitamente. Li numa revista que ia passar àquela hora, a sinopse interessou-me e, sem os pais saberem, liguei a televisão de madrugada. Confesso que tive problemas em adormecer, mas adorei. Já foi assim com O Exorcista: ver às escondidas. :)
O filme retrata a história de Carrie, uma menina especial que é vítima de bullying por não preencher aquele protótipo de bonita e popular. Tudo muda quando o galã da escola se interessa por ela e a convida para dançar no baile de finalistas da high school. Os dois são os vencedores do baile. Ao receber a coroa de rainha do baile, Carrie explode de alegria. Todavia, uma colega maldosa prega-lhe uma partida que tudo muda, revelando uma menina com poderes ocultos...
Bom, deixo-vos com as cenas mais marcantes e memoráveis do filme. Aviso: as cenas são fortes e explícitas.

27 de outubro de 2010

O que me apetecia dizer-te ao ouvido...



Era tudo o que te queria dizer... assim, sussurrando...


Mariah Carey - Touch My Body

25 de outubro de 2010

Sentir-te de Perto


É tão bom acordar pela manhã e saber que um objectivo nos espera. É tão bom saber que temos algo a conseguir, alguém a encontrar, um rosto para sorrir e, quem sabe, uma boca para beijar. Não necessariamente todos estes requisitos. A ordem é meramente processual e variável.
As minhas manhãs são únicas. Únicas como eu. As janelas de minha casa são amplas como duas portas abertas ao futuro. Sinto os raios vivos do Sol ou o bater suave da chuva. Sinto-me cá dentro como se estivesse lá fora. Saio da cama. Passo pelo espelho e agito freneticamente o denso cabelo despenteado. Surges-me no pensamento. Caminho em direcção ao banheiro. Barbeio a cara, ligo a água e tomo um banho quente e perfumado. Sinto o cheiro da tua pele misturado com o aroma do gel que escorre pelo meu corpo sedento do teu. Visto o roupão sobre o corpo molhado. Passo a toalha no cabelo humedecido. Vou para o quarto de vestir. Retiro a roupa do closet e imagino-te sem roupa, sentado no sofá de apoio, com apenas uma pequena toalha a envolver a tua cintura. Aliso e arranjo o cabelo com a escova progressiva. Depois de vestido, dirijo-me à mesa da sala de jantar para tomar o café da manhã. A mãe já está de saída para a empresa. Sirvo o café com uma pinga de leite e como o meu croissant com compota de maçã. Imagino-me a tocar com os lábios na tua pele. Trinco o croissant delicadamente, assim como o faria com o teu tesouro mais bem guardado. Retiro o guardanapo do colo e limpo os lábios, adivinhando os sucos do teu ser. Hoje é a Ana que me leva à faculdade. A mãe tem reunião. Vou à sala de estar e pego nas minhas coisas. Passo pela cómoda de entrada e dou um toque na franja do cabelo com a mão. É o teu rosto que quero ver.
Na rua cai uma chuva ténue e quente. Os faróis dos carros aumentam a minha ansiedade.
Chego, por fim. Um amontoado de caras indecifráveis pairam sobre o meu caminho. Nada vejo e ninguém distingo.
Sim, estás ali, sentado a ler um livro. O espaço ainda está praticamente vazio. Se a minha pontualidade é britânica, a tua será alemã. Até que enfim posso sentir-te de perto. Um «olá», um «aperto de mãos» que não se querem largar e a paz que surge dentro de mim.
Gosto de ti.



Que todos os inícios de semana sejam assim, como este.

23 de outubro de 2010

Os Perigos de Uma Grande Cidade


Viver numa grande cidade tem inúmeras vantagens, pese embora o facto de ter imensos inconvenientes. Fala-se muito da poluição, do trânsito, da violência, mas há situações insólitas que, ao mesmo tempo, não deixam de ser perigosas. Lisboa já não é a cidade pacata de meados do século XX.
Ontem, ao falar com uma colega da faculdade, apercebi-me que estava triste, preocupada e cabisbaixa. Consegui que me contasse o que a preocupava. Então, disse-me que no dia anterior tinha ido jantar com umas amigas conterrâneas que, tal como ela, tinham vindo estudar para a capital. Como o jantar acabou tarde, apanhou um táxi que não a deixou bem à porta de casa. Fez o restante percurso a pé. Ao entrar numa rua escura, reparou que um carro seguia ao seu lado de forma lenta. O carro abrandou e alguém abriu o vidro da janela. Era um homem de meia idade. Ela, inexperiente, parou. O homem, então, perguntou-lhe: «quanto é que levas?». Apercebendo-se da situação, ela começou a correr, aflita, até chegar à porta do prédio. Ao cair na cama, chorou durante muito tempo porque pensou que o tinha provocado por andar com uma saia mais curta.
Fiquei perplexo, não com a situação em si, mas sim com o estado em que ela estava. Estava com medo de que o homem a começasse a perseguir e que lhe fizesse mal. Perguntei-lhe em que zona tinha arranjado casa. Intendente, foi a resposta. Tive de lhe explicar que, embora vivam pessoas de bem e honestas em tal lugar, é uma zona associada à prostituição, proxenetismo e consumo de estupefacientes. Ela não sabia. A falta de informação que dão aos estudantes é gritante. Também lhe disse que o homem nem sabe quem ela é e que, provavelmente, a associou a uma prostituta. Aconselhei-a a não andar na rua sozinha, principalmente à noite e, caso se sinta mais à vontade, a arranjar uma casa noutra zona da cidade. Uma rapariga que veio de uma aldeia em Trás-os-Montes a passar por isto!... Tive realmente muita pena dela. Estes homens são nojentos.
Claro que nós, habitantes da cidade, conhecemos as zonas proibidas. Aquelas que convém evitar. Para a tranquilizar, contei-lhe uma história que se passou comigo quando tinha quinze anos. Era raro andar na rua sozinho. Aconteceu de dia. Tinha ido a casa da avó e ao regressar apanhei o metro. Quando saí do metro, comecei a caminhar na rua. Um carro abrandou e parou. Um homem, também de meia idade, ofereceu-se para me dar boleia. Ora eu, que de tolo não tenho nada, continuei a andar, ignorando por completo a interpelação do sujeito. Continuou a caminhar em velocidade reduzida. Voltou a desafiar-me para o acompanhar. Parei, olhei para ele e só lhe disse o seguinte (sensivelmente por estas palavras): "Olhe, se continuar a incomodar-me, eu vou à polícia e dou o seu número de matrícula que até já fixei. Se sair do carro, começo a gritar e olhe que eu grito mais alto e agudo do que uma menina!"
Estávamos numa zona com pessoas por perto. O carro saiu disparado de tal forma que levantou poeira. Ahahahahahah. Hoje dá vontade de rir... :)
Bom, diga-se de passagem, eu era um perigo com quinze anos. :) Os meus jeans justos coladinhos ao rabito, a gravatinha do colégio que me dava um ar angelical, o cabelinho à emo que já usava (sim, sou um dos precursores dessa moda!) e as minhas t-shirts com o umbiguinho saliente faziam furor. Ai, saudades!... Não é que hoje não o seja (perigo), mas os tempos são outros, sou mais velho e menos ingénuo. Ahahahahahahah. :)
Voltemos aos assuntos sérios. Espero que a minha colega se decida pelo melhor. Ela é uma querida e não está habituada a situações semelhantes.
Lisboa tem encantos. Tem, vários. Mas também tem perigos, oh se tem.

22 de outubro de 2010

Como me Faz Sentir Bem


Os últimos dias têm sido intensos em emoções e em novidades. Conheço melhor a faculdade, os colegas e o funcionamento das coisas por lá. À parte disso, estou próximo de um colega, o R., que tem preenchido parte dos meus pensamentos. É claro que estou ali para estudar e não para namoriscar. Não tenho a certeza se já o disse no blogue, mas eu sou uma pessoa inteiramente racional e pouco emotiva. Claro que o inteiramente não deve ser entendido de uma forma absoluta: não sou uma pedra racional, no sentido literal. Digamos que não me prejudico em nome dos sentimentos que, porventura, possa sentir. Se gosto ou não, guardo comigo. Neste caso em concreto, gosto.
E gosto de tudo, principalmente da forma como me faz sentir bem. Não é amor, não é paixão; é mesmo uma empatia muito forte, com direito a tudo o que o amor e a paixão proporcionam. Fiz-me entender? Ele é tão divertido e brincalhão que eu sinto-me um ser desprovido de humor, o que não é verdade. Mas ele é imensamente cómico, daquele género de estar o tempo todo a fazer piadas, a mandar piadas para os professores, no fundo, a fazer-me rir. A mim e a quem nos rodeia. Distrai-me, confesso, mas eu gosto disso. Percebem agora o porquê de eu dizer que não era inteiramente racional? Sei que estou a perder alguma matéria, sei que ali não podemos nem olhar para o lado por um segundo, porém, não me afasto, não mudo de lugar, não deixo de me relacionar com ele. Estou ligado. Se fosse com outro colega, é evidente que nunca mais me sentaria ao seu lado. Para além disso, tem qualquer coisa que me prende. O olhar maroto que me lança, o piscar de olhos na brincadeira, o ar descontraído e informal, até a forma de colocar os braços sobre a superfície de madeira. Somos a fila mais animada de todo o auditório.
Ele é tão diferente de mim. Na educação, no modo de falar, de agir, de interagir com os demais. No outro dia perguntou-me se eu era «um menino tiozinho». Mas não pensem que o fez de uma forma grosseira. Ele tem um jeito de dizer as coisas que é impossível não rir ou não achar engraçado. Respondi-lhe que me achava uma pessoa normal. Disse-me que gostava da minha normalidade. Palavras para quê? Terei aquilo que lhe faz falta? Por outro lado, será que ele é o meu lado banal, comum, popular? Creio que sei a resposta. Eu sou o lado mais requintado que o preenche; ele é o elo que me liga aos demais. Brincou tanto com o facto de eu tratar a mãe por «a mãe», ao ouvir um telefonema meu, que nem imaginam. Brincou comigo, não criticou. No fundo, ele está em desvantagem, porque muitos de nós são assim. :)
Tenho vontade de o acompanhar mais, de o deixar fazer-me viver coisas que nunca vivi. Tenho curiosidade no seu mundo, na sua forma de encarar a realidade, da sua visão sobre o que o rodeia. Hoje, pela primeira vez, tive uma vontade incontrolável de encostar a minha cabeça ao seu ombro quando estávamos sentados num banco. Quis sentir o seu calor, o cheiro da sua pele. Quis senti-lo de bem perto. Ele também corresponde. Espera por mim quando é necessário, pega nas minhas coisas para me ajudar, guarda-me lugar quando chego atrasado, chega-se bem perto de mim ao ponto das nossas pernas se tocarem... Até é bem mais solícito do que eu.
Faz-me sentir bem, seguro. Torna aquelas horas mais fáceis e divertidas. Aos poucos, vai fazendo parte da minha vida e das pessoas que me são mais especiais.

19 de outubro de 2010

Perdeste-me de Vez


Foste um pedaço de mim. Foste um pouco da minha história. Foste a primeira pessoa que amei. Foste a pessoa que mais desejei, anseei, pedi para estar junto. Foste o meu primeiro beijo a sério, a primeira vez que saí com alguém que amava verdadeiramente. Fazes parte de anos da minha vida, de capítulos de um livro que julguei jamais encerrar.
Vivemos momentos felizes, momentos que jamais esquecerei. Tudo está guardado num lugar especial da minha pródiga memória. Recordo-me de cada pedaço da tua pele, do teu corpo. Do sabor da tua boca, do calor dos teus abraços, do cheiro do teu cabelo molhado. Recordo-me também dos beijos que demos, das carícias inocentes que trocámos, da primeira vez que entreguei o meu corpo à sede do teu corpo. Da tua mão a acariciar a minha nuca, provocando-me arrepios por toda a minha pele, do sussurar das tuas palavras tímidas no meu ouvido atento e apaixonado. Do teu hálito quente e húmido, adocicado que temperava os meus desejos profundos. Do brilho luminoso do teu olhar, cuja cor parecia-me modificar de tempos a tempos.
Tu em ti era parte de mim. Tudo em mim era um pouco de ti.
Contudo, o tempo e a vida revelaram um amor frágil, imprudente e inseguro. Ruiu, caiu como um castelo de cartas. E o amor que em ti edifiquei, transformou-se num amontoado disperso de destroços. O castelo caiu, mas o que sentia por ti ainda ficou. E ficou, ficou, ficou... Manteve-se bem mais do que eu imaginava. Da tua parte nunca soube. Pensei que sim, acreditei que não...
Sofria ao ver-te. Desejei que a tua avó vivesse bem longe da avó para nunca mais olhar para ti. Mas estavas constantemente na minha direcção, no meu caminho. Hoje, ao olhar para ti, nada senti, em cinco anos. Nem desejo, nem paixão e muito menos amor. Nada em ti mexe comigo.
Perdeste o teu lugar para alguém.
Perdeste-me de vez.

17 de outubro de 2010

Um Final Diferente


Este fim de semana foi passado integralmente a estudar, apesar dos dias de Sol que se fizeram sentir. Sol só mesmo pelas janelas da minha casa que, felizmente, são bastantes, amplas e deixam os raios penetrar fortemente por todas as divisões. Estendi os livros todos no chão do escritório da mãe, sentei-me e comecei a estudar. Adoro estudar assim, sentado no chão. É um hábito que adquiri desde pequeno. Não me sinto confortável na secretária. No chão, posso colocar todos os livros ao meu lado, juntamente com as folhas dos apontamentos, o que me permite uma maior organização. Felizmente, vivo numa zona calma e pacata. Os únicos ruídos provinham dos pássaros que dançavam alegremente, lá fora, ao ritmo da brisa suave do vento, exceptuando a Ana, hoje, com as limpezas gerais semanais.
Ontem, durante o estudo, recebi uma sms no meu telemóvel. Uma entre algumas. Uma que mereceu destaque. Lamentei não ter tirado o som. Era o meu colega simpático, que de hoje em diante apelidarei de R. Trocámos o número numa destas aulas. Vou passar o conteúdo integral das sms.


R: «Ola, td bem ctg? O que fzs? R.»
Eu: «Sim, esta tudo bem comigo. Estudo. Exceptuando isso, nada de especial. :)»
(Escrevo sempre as palavras, sem abreviar. Não gosto de o fazer. Mas deixei de abreviar há pouco tempo)
R: «Eu tb ja estudei um pouco mas agora sai de casa. Vim tomar café. Amanha vais às aulas?»
Eu: «Infelizmente ou felizmente, sim. :)»
R: «Lol eu até estou a gostar... N estas?»
Eu: «Sim, estou, mas ha muito para estudar e confesso que também gosto de parar.»
R: «Pois :) temos que combinar qlqr coisa. É pena vivermos longe...»
Eu: «É verdade.»
R: «Mas do longe se faz perto... Lol xD»
Eu: «Até faz. Haja vontade.»
R: «Eu estou a pensar em alugar um quarto ou assim em Lisboa porque nao vivo bem bem em Setubal. Assim é mt cansativo. Depois vimo-nos mais vzs. xD»
Eu: «Provavelmente. :) Estas a pensar em ver isso quando?»
R: «Amanha ou assim.»
R: «Queres vir cmg procurar?»
(Cinco minutos a pensar...)
Eu: «Sim, claro. :)»
R: «Obrigado xD»
Eu: «De nada ^^»
(É mesmo de quem não quer acabar com a conversa)
R: «Então até amanha. xD»
Eu: «Até amanha. :)»
R: «Abraco xD»
Eu: «Fica bem! ;)»


Eis o conteúdo interessante das nossas mensagens escritas. Confesso que fiquei satisfeito por saber que, à partida, vem para Lisboa. É bem melhor. Podemos estudar juntos. E, pronto, estou aos pulinhos para o ver amanhã nas aulas. ^^


É o indício de qualquer coisa...

16 de outubro de 2010

Platão e a Justificação dos Totalitarismos



Platão (séculos V a.C - IV a.C), filósofo grego e um dos homens que mais influenciou o período da Grécia Antiga, distinguiu-se por ser um dos discípulos mais famosos de Sócrates, o Grande Filósofo.
Todavia, Platão haveria de marcar a Antiguidade Clássica e o futuro da Humanidade com as suas ideias muito próprias e específicas. Platão contestava fortemente o modelo democrático. Na sua concepção, o Estado deveria intervir em todos os assuntos que dissessem respeito aos cidadãos (desde a educação à política de matrimónios). Estávamos perante a ideia de um Estado Paternalista, sendo que Paternalista não tem uma acepção positiva, mas sim de controlo efectivo e total. Platão defendia também que só os racionais, ou seja, os sábios, deveriam governar a Pólis. Era uma ideia em que prevalecia a preservação da raça e a sobreposição dos direitos de uns sobre os direitos de outros. A lei, segundo o mesmo autor, era para ser obedecida cegamente, porém, tinha posições absolutamente contrárias à ideia de Constituição, contrariamente ao seu discípulo, Aristóteles. No fundo, Platão reduzia a nada a vida humana. O seu desprezo pela vida levou-o a afirmar que «... a partir da morte se começa a viver». A salvação, o etéreo consistia e fundamentava-se na alma.
Daqui podemos retirar todos os fundamentos que levaram ao florescimento dos totalitarismos do século XX. O anti-semitismo de Nietzsche embebeu em Platão a sua origem, originando a febre doentia de Hitler décadas mais tarde. Mas não só; também Mussolini, Oliveira Salazar, Franco, Estaline, Mao e os demais ditadores haveriam de encontrar em Platão a justificação para o domínio do Estado e do Sábio na vida dos cidadãos, reduzida a um mero instrumento.
Por isso se diz que Platão foi o pai dos totalitarismos.

14 de outubro de 2010

O Colega Simpático (II)


Retomando o meu último texto sobre o colega simpático, dou agora continuidade aos desenvolvimentos. Ele é, de facto, uma pessoa especial. Tem uma veia humorística acentuada e uma boa-disposição invejável, mesmo em horas matinais.
Hoje, ao chegar à aula, confesso que estava ansioso para o ver. O anfiteatro condensava cada vez mais e mais pessoas e nem sinal da sua presença. A fila que ocupei estava praticamente preenchida exceptuando poucos lugares. Os meus olhos fixavam-se no horizonte apenas para tentar avistar a sua presença. Quando o vejo. Tinha sido engraçado se me levantasse e acenasse com as mãos, mas jamais iria mostrar interesse. Não pelos outros, até porque nunca fui complexado, mas por ele. Ele viu-me e encaminhou-se para se sentar ao meu lado. De repente, o lugar imaculado que guardei foi ocupado por uma estúpida, patética e idiota que agarrou na minha mala, pediu uma licença invasiva e foi logo se sentando. Fiquei tão furioso. Resultado, sentou-se num lugar mais acima. Cerrou os lábios como quem diz: «Deixa lá...» e seguiu o seu caminho. Lancei um olhar ultra venenoso para a tipinha do lado.
Segundo tempo, já sem problemas, sentou-se finalmente ao meu lado. Bom, está na altura de o descrever sucintamente. Para mim é muito interessante. Veste roupa informal, jeans, ténis e t-shirts. Tem um ar diferente. É desembaraçado, o que se chama vulgarmente de «desenrascado». Depois, adoro os relógios enormes que utiliza diariamente. Gosto de tudo. Da forma como coloca a mochila nos braços, do seu ar viril e do seu jogo de conversa. Foi uma aula muito engraçada. Ele é bem atrevido, apesar de eu nunca ter sido tímido ou algo semelhante. Só não gosto de ser eu a ir atrás, se é que me faço entender.
Poderia descrever cada detalhe das nossas conversas, das gracinhas, etc, mas deixo à vossa imaginação, sabendo que estávamos numa aula, logo, o espaço de manobra era manifestamente pouco. Já combinámos uma hora de estudo para um destes dias. É que eu já tenho os livros todos e ele não. Diz - e com razão - que são muito caros e que agora não tem dinheiro para isso ( ninguém é perfeito, ahahahahah :D ). Brincadeira à parte, eu não estou a gostar muito do rumo que as coisas estão a tomar. Está a ficar muito sério e isso não é favorável à minha pessoa auto-suficiente e lúcida.
Para além disso, também conheci um rapaz que vive perto da avó e é do que mais se assemelha comigo na educação e sobriedade, apesar da nossa classe estar bem representada. Mas é chatooooooo.... quer saber tudo.
Bom, amanhã é dia de aulas e quero estar fresco, sem olheiras e com a pele óptima, por isso, nada melhor do que uma boa noite de descanso.


Este ataque de vulgaridade deve advir de um vírus que peguei de alguns que andam por lá. Vou dar conta disto para voltar ao meu estado normal. Prometo. :)

12 de outubro de 2010

Comunismo, Capitalismo, Abismo


Que a Europa e o mundo, de um modo geral, caminham para o fim não é novidade para ninguém, creio. Os modelos estão esgotados, as sociedades estão desgastadas, o Estado Social morre a cada dia, os extremismos ressurgem vindos do nada...
O Comunismo idealizou uma sociedade sem classes, igualitária, assente no predomínio estatal, na propriedade comum e no controlo efectivo de todos os meios de produção. O comunismo em si, a sua génese, começou antes do seu grande impulsionador, Karl Marx. Robert Owen e Saint-Simon já preconizavam um modelo assente nestes moldes socialistas. Mais moderado, é certo, Saint-Simon (1760-1825) defendia um socialismo de base cristã, a propriedade privada e até mesmo o bem estar social. Como podemos observar, o extremismo veio depois. A verdade é que o socialismo e a sua concretização ou o seu ideal - o comunismo - tiveram aplicações práticas já no século XX, com a corrente marxista, nomeadamente no Império Russo em 1917, posteriormente URSS, assim como em todos os países que adoptaram o modelo soviético ou se inspiraram nele.
O Capitalismo nasceu com a Revolução Industrial Inglesa e assenta predominantemente no domínio da propriedade privada. Com a Revolução Industrial, a economia mundial mudou. Surgiram fábricas, o sistema bancário moderno, o operário e as suas condições de trabalho, a extrema valorização da moeda como motor da Humanidade. As trocas comerciais ganharam um ritmo nunca antes alcançado com a liberdade dos mercados e o liberalismo económico. As antigas ordens sociais deram lugar às novas classes sociais com mobilidade dentro da própria sociedade. Já não importa em que seio nascemos, mas sim que patamar de poder e prestígio atingimos. É o domínio socio-económico da classe burguesa, quadro que se mantém até aos dias de hoje no mundo ocidental.
Com a queda do modelo soviético, a supremacia do Capitalismo vingou. Porém, o modelo está a esgotar-se mais rápido do que o imaginado. As estruturas de suporte ao sistema moderno ocidental dão sinais de ruína. Podemos dizer que o Capitalismo enfrenta a sua mais dura crise de que há memória.
Pois bem, se os modelos estão esgotados, qual será a saída para a crise de valores que atravessamos? Não sou optimista por Natureza, mas também não sou pessimista. Apelido-me de realista. A Humanidade caminha para o abismo. Que engraçado: o sufixo é o mesmo. É a ruptura, o verdadeiro fim. Não me peçam datas. Não sei quando acabará, mas seguramente não será com uma invasão alienígena ou com um terramoto planetário. O Homem basta-se para se destruir a si próprio.
Que se comecem a escrever livros sobre o nosso próximo modelo económico: o Abismo.

11 de outubro de 2010

O Colega Simpático



Quem disse que a faculdade abre os nossos horizontes estava certo, não obstante ainda não ter descoberto se tudo é o lado positivo em si ou se, pelo contrário, também há lados negativos... Saberei com o tempo, disso não tenho dúvidas.
Bom, hoje estava eu numa aula interessante, por sinal, apesar de se escrever bastante, quando me apercebo que um dos colegas que estava atrás de mim falava distraidamente com alguém ao lado. Confesso que até me incomodava um pouco, uma vez que naquelas aulas o Professor Doutor fala muito e temos mesmo de estar atentos. A verdade é que também falo com as minhas colegas, por isso, creio que é um mal geral. No intervalo entre essa aula e a seguinte, ficámos no anfiteatro. O nosso grupo é demais. Uma das minhas colegas é o máximo. A certa altura, ela diz que uma amiga lhe disse, e passo citar (pode ferir mentes mais susceptíveis. Sinto um misto de excitação e desconforto: vou escrever uma asneira no blogue, yupi!!!), «como fazer um broche com um iogurte» (vejam o que conversam os alunos do Ensino Superior!...). Ela falou alto o suficiente para que o tal colega que estava atrás desatasse a rir. Lá começou a aula, e o colega dizia piadinhas baixinho sobre o sucedido para nos fazer rir. Sempre que eu olhava para trás, ele contemplava-me com um sorriso de orelha a orelha. E eu, que já tenho certa experiência nestes assuntos, decifrei o conteúdo do olhar...
Quando a aula acabou, senti necessidade de ir ao banheiro. Nunca utilizei um (que palavra horrível) urinol na vida. Em primeiro lugar, raramente vou a banheiros públicos; em segundo lugar, quando vou opto sempre por aquelas divisões independentes. É mais higiénico e seguro... Desta vez, as divisões estavam fechadas, logo, não tive outra opção. Adivinhem que me aparece ao lado? O colega que estava atrás na aula... Entre nós, apenas um urinol nos afastava.
-"Então, 'tás bom?" - perguntou.
-"Sim." - respondi de forma fria e simples.
-"'Tás a gostar do curso?" - continuou.
-"Hum, hum." - acenei, discretamente.
Fui lavar as mãos. Seguiu-me.
-"Epá, podemos estudar juntos. Torna-se mais fácil. És de onde?"
-"Lisboa." - respondi.
-"Que sorte. Quem me dera. Sou de Setúbal. Vais pr'ó mesmo lugar no anfiteatro amanhã?" - indagou.
-"Não tenho lugar fixo mas, provavelmente, sim."
-"Ok, não te importas que me sente ao teu lado e das tuas amigas?" - perguntou-me, receoso.
-"Claro que não. Até porque o anfiteatro não é meu." - disse, sorrindo.
Tentou apanhar-me de seguida, mas eu escapei prontamente, não deixando de avançar um pouco.
-"E se fosse?"
-"Podias sentar-te à mesma." - saí do banheiro.
E pronto, estuda-se pouco e engata-se muito. Lol Pelo menos tentam, já que eu não gosto muito disso. :)
Mas a idade (LOL) tem me ensinado algumas coisas. Nem sempre podemos ser frios e afastar as pessoas. Já o fiz em situações semelhante e, apesar de não me ter arrependido, olhando para trás, vejo que podia ter aproveitado mais. É simpático, engraçado e podemos estudar juntos. :)




Quiçá o meu post mais vulgar e banal. Mas às vezes sabe bem. :)

10 de outubro de 2010

Por Entre a Chuva


Não há nada melhor do que caminhar por entre a chuva. Senti-la na nossa pele. Sentir a liberdade de correr sem pressas e sem medo do que os outros possam pensar. Geralmente, nos filmes, as cenas mais românticas ou as cenas com chuva são associadas ao amor, à paixão e ao desejo profundo. Tudo isso sucede porque a chuva tem um encanto que lhe confere uma misticidade única. O brilho das luzes dos automóveis reflectido nas poças d'água aumenta a cor e a luz de uma cidade à noite. O som da chuva a cair nos beirais, o seu toque na janela ao acordar principiam um dia que se deseja mágico e feliz.
Não me incomodam os dias cinzentos e chuvosos. Por motivos de saúde, não é muito aconselhável que caminhe por entre a chuva. Quando a idade e a responsabilidade estão em lados opostos tudo é possível. Já caminhei por entre a chuva. Já senti o seu sabor a percorrer os meus lábios. Vivi intensamente esses momentos únicos. Contudo, o coração mantinha-se aquecido, impenetrável ao negro exterior. A chuva era um mero detalhe que embelezou o meu dia.
Caminhar com liberdade é o essencial. Caminhar por entre a chuva é uma sensação de corte com o normal.
Do lado de cá, tudo parece um fumo que se esvai com o pensamento.
O som continua.
A chuva cai lá fora.
A vida aguarda por viver.

7 de outubro de 2010

Um Beijo Roubado


Há quem diga que não há nada melhor do que um beijo roubado. Um beijo frenético, solto e selvagem, quebrando barreiras de preconceito e de rotina. Um beijo daqueles que retiram todo o ar dos pulmões e nos deixam sem fôlego. Um beijo acompanhado por um forte abraço, um aperto bem vigoroso contra o outro corpo diante de nós. O beijo roubado, sem programação, é sempre mais genuíno, mais verdadeiro. Dizem que o beijo roubado revela os nossos verdadeiros sentimentos. Para quem dá é o risco incalculado. Uma bofetada ou uma declaração de reciprocidade amorosa? Para quem recebe é a surpresa, seguida da indignação ou da confissão de amor.
Da minha parte, nunca roubei um beijo a alguém. Mas já fui surpreendido por um beijo inesperado. Devo dizer que é a melhor das sensações. Bom, no meu caso foi óptimo, até porque gostava da pessoa em questão. No entanto, o bom, bom, é mostrarmos alguma surpresa. Comigo funcionou. Fingi uma perplexidade que não sentia, de forma alguma. Ficou assim com uma expressão de receio e excitação. Estava a adorar aquilo. Mantive a dúvida e, por fim, rendi-me a toda a emoção que pairava no ar.
Por isso, agora com mais maturidade digo sempre: um beijo roubado é sempre bom. Até mesmo quando não gostamos da pessoa que nos roubou o beijinho. Um dia, quem sabe!, queremos um desses beijos e nada. Então, é bom aproveitar enquanto ainda temos algo que possam roubar.

6 de outubro de 2010

Amália, Onze Anos Depois...




...a saudade permanece...

23-07-1920 / 6-10-1999


 (Texto do 10º aniversário sobre a morte de Amália, post de Outubro de 2009, aqui).

5 de outubro de 2010

Centenário da Implantação da República (1910 - 2010)


Hoje comemoram-se os 100 anos desde a implantação da República em Portugal, no dia 5 de Outubro de 1910.
Tal como hoje em dia, a viragem do século XIX para o século XX não foi fácil no nosso país. A qualidade de vida do operariado e da classe média deteriorava-se a cada dia, aumentando assim o enorme descontentamento. Para a descrença da Monarquia, também em muito contribuiu o célebre Ultimatum inglês, vinte anos antes, em 1890. A enorme humilhação a que os portugueses foram sujeitos aumentaram os sentimentos republicanos patentes em discursos e manifestações, nomeadamente a fracassada Revolta do 31 de Janeiro de 1891. A instabilidade vivida na época era agravada pelo sentimento de abandono que os portugueses sentiam. O rei D. Carlos era conhecido pelo seu gosto na pintura, oceanografia e até mesmo pelas recentes inovações tecnológicas que faziam antever um século promissor, menosprezando dessa forma os problemas reais do país. A 1 de Fevereiro de 1908, o rei e o seu filho primogénito, D. Luís Filipe, foram assassinados num atentado no Terreiro do Paço (Lisboa), do qual apenas a rainha D. Amélia e o príncipe D. Manuel escaparam ilesos. A monarquia tinha os dias contados.
Haveria de cair, efectivamente, a 5 de Outubro de 1910, aquando da Implantação da República nos Paços do Concelho de Lisboa. Os revolucionários formaram um Governo Provisório liderado por Teófilo Braga. O primeiro Presidente da República Portuguesa seria Manuel de Arriaga.
Os tempos da I República não foram nada fáceis. Até ao seu «fim», com o golpe de Estado de 28 de Maio de 1926, sucederam-se 7 eleições gerais para o Congresso, 8 para a Presidência e 45 governos. Uma instabilidade sem precedentes. Todavia, iniciava-se uma nova era para Portugal, abrindo os caminhos que nos levariam até à actualidade.

4 de outubro de 2010

Quando o ar falta... (II)



A noite de ontem foi horrível. Como já o disse no blogue, eu tenho bronquite asmática desde os oito meses de idade. Não é a pior das doenças mas é incomodativa e já me causou sérios problemas. Apesar de ser acompanhado por um dos melhores alergologistas do país (o Drº José Rosado Pinto, a quem presto este tributo), de vez em quando tenho crises graves. A última dessas crises foi a 21 de Fevereiro (por acaso até relatei no blogue).
Acordei eram quatro da madrugada com imensa falta de ar. Este tempo chuvoso e ventoso agrava a situação. Saí da cama e fui até à sala de estar. Sentei-me, baixei a cabeça e fiquei assim durante um bom tempo. Estava mesmo aflito. Tive de acordar a mãe. Ela foi imediatamente buscar a minha medicação em caso de crise, o Bricanyl, um pó que aspiro quando já não suporto mais. Felizmente, é um medicamento forte que provoca um alívio imediato. Voltei ao quarto e deitei-me na cama com a mãe à cabeceira. Ainda me perguntou se queria que ligasse ao Pedrinho (o meu irmão) para irmos ao hospital, mas eu não quis incomodar o rapaz que estava a dormir certamente. Ou não, sábado à noite ele tem por hábito sair com amigos. Vou explicar: a mãe também me podia levar no seu carro, mas ela gosta de ficar ao meu lado enquanto alguém conduz, não vá eu sufocar (lol, é o que lhe digo na brincadeira). Melhorei.
Esta doença já me causou tantos dissabores. Já levei vacinas vindas da Alemanha, já tomei todo o tipo de medicamentos... Disseram-me que poderia passar com a mudança de idade... até hoje...
Para piorar, aí por volta das seis da manhã comecei a chorar, o que é prejudicial à minha condição. Lembrei-me de quando tinha crises no colégio e uma certa pessoa estava ao meu lado, abraçava-me quando estava aflito (escondidos quando ninguém via...), acompanhava-me até a mãe ou o pai me virem buscar, tirava-me o medicamento da mochila, telefonava-me para saber se estava melhor... Inconscientemente, dei por mim a chorar com saudades desses tempos e da pessoa também, por que não dizê-lo. Sei que podia pegar no telefone e ligar-lhe. O tempo é outro e já se passaram alguns anos, mas não me desligaria o telefone na cara. Se bobeasse ( adoro esta conjugação verbal brasileira :) ) até vinha ter comigo. Porém, não. Algumas atitudes são impossíveis de esquecer, por mais que me custe.
Amanhã não sei se irei para a faculdade. Tudo depende de como acordar. Mas na minha mala vai o aerossol, que remédio.

3 de outubro de 2010

Ambição vs Sinceridade



Ontem, durante uma aula na faculdade, fizemos as apresentações dos alunos. A princípio estranhei, uma vez que ainda não tinha acontecido alguma apresentação na faculdade. No entanto, notei que este professor era bastante acessível e simpático, o que nos coloca bem mais à vontade. Trata-se de um senhor na casa dos cinquenta, magro e com um sorriso constante no rosto. Gostei dele. Começou por falar do programa da cadeira, seguido do seu método de ensino, das taxas de aprovação, dos livros aconselhados, até que chegou a altura das apresentações. Começámos um por um. Até chegar à minha vez, ninguém era de Lisboa. Senti-me estranho por ser da capital, o que é realmente estranho. Bom, disse o meu nome, idade e os meus objectivos. Foi, no fundo, uma apresentação-síntese. Uma das minhas colegas, muito gira por sinal, que estava sentada mais atrás, começou a fazer a sua apresentação. É loura e tem um estilo que combina o sóbrio com o informal. Mal a vi, apercebi-me do seu espírito livre e irreverente. Vi nela um pouco de mim. Lá disse de onde vinha (por acaso de Lisboa), a idade, e quando chegou aos objectivos disse que, e passo a citar, «quero ter um cargo importante» e que «tudo o que for abaixo de ministra não me interessa.».
Foi o suficiente para ser mal interpretada. Ouvi logo uns zum-zuns e uns murmúrios vindos de toda a sala. O professor reagiu com um sorriso e nada disse que pudesse constranger aquela aluna. À saída, pude testemunhar como as pessoas são mesquinhas e maldosas. Disseram que ela era convencida, que tinha a mania, entre outras delícias...
Eu não me manifestei, mas comecei a falar com essa colega. Não a conhecia e o facto de ter sido marginalizada levou a que me aproximasse dela. Ela tem todo o direito em pensar como pensa e em querer atingir mais e melhor. Foi sincera e a honestidade é um grande trunfo. Creio que é esse sentimento menor e conformista que germina no nosso país que leva a que poucos ambicionem muito. Podia ter sido discreta? Sim, sim, mas o que é a discrição? Compartilho da sua opinião. Também estou ali para chegar alto, bem alto, quanto mais alto melhor, de preferência Juiz-Presidente do Supremo. Ambiciono, acredito em mim e nas minhas capacidades. E a ambição, controlada e medida, é o motor do desenvolvimento. O mundo foi, é e será dos que ousaram.