30 de agosto de 2010

Barbárie nos Nossos Tempos



Qual foi o crime cometido por aquela mulher? Adultério!, dizem os falsos moralistas. Reportemos a condenação imoral à nossa sociedade ocidental... Veríamos um sem número de mulheres a morrerem apedrejadas apenas por, alegadamente, terem sido infiéis aos seus esposos. O corpo não é pertença do Estado, mas sim de cada um como ser individual, racional e responsável pelos seus actos. Mesmo - mesmo - que o "crime" tivesse sido outro, a condenação à morte seria criticável. Porém, por um motivo tão pueril chega a ser ofensivo, por mais que tentemos minimamente compreender as bases religiosas que fundamentam estes actos.
No meio de tanta barbárie, a imprensa internacional continua a dar destaque a este caso, não o deixando cair no esquecimento típico das sociedades ávidas de novas e frescas informações. Quantas terão sido executadas antes desta mulher? E quantas ainda o serão no futuro? Em cada uma daquelas mulheres espreita mais uma Sakineh Ashtiani. Alguma será a próxima e a tolerância para estas práticas só poderá ser uma: zero! As tradições mudam com o tempo. A escravatura era uma tradição até à chegada das medidas abolicionistas; as lutas de gladiadores eram típicas na Antiguidade Clássica. Mudaram assim como a compreensão do Homem mudou. A evolução moral acompanha e é parte fundamental de toda a evolução humana. É o dever de cada um lutar contra estas injustiças.
Não fico feliz só por a pena desta mulher ser comutada para outro tipo de condenação; quero que todas estas mulheres respirem paz e liberdade, no respeito que a sua condição humana o exige.

29 de agosto de 2010

As Festivas



Ontem, enquanto estávamos na praia, passaram alguns homenzinhos a distribuírem uns papéis que anunciavam uma festa para a noite. É claro que a amiga da mãe quis ir à tal festa, não fosse ela uma festiva de primeiríssima qualidade. Como não quis ficar em casa sozinho, uma vez que não conheço ninguém por este lugar, decidi ir com elas.
Por volta das dez horas da noite saímos de casa em direcção à tal festa. O sítio, especificamente falando, tratava-se de um bar pertinho da praia. Estava cheio de pessoas. A mãe detesta misturar-se (tal como eu), mas já estávamos tão enjoados de repetir sempre a mesma rotina (praia - casa - restaurante - casa), que decidimos alterar pelo menos esta noite. O ambiente era leve e descontraído. Muito copo na mão, música daquela que eu detesto a desafiar o mais resistente dos tímpanos humanos e muita dança. A amiga da mãe foi logo buscar a sua bebida favorita, vodka com limão. Ela é aquele tipo bem típico. Loura, com quarenta anos, aparência de trinta e dois e idade mental de dez anos, vá lá, quinze... Casou aos vinte e oito com um empresário de cinquenta e muitos. Não resultou, pelo menos para ele, já que ela ficou com uma pensão fantástica e alguns imóveis. É uma emergente, na nossa linguagem. Uma nova rica, de forma a ser mais perceptível. As amigas da mãe não gostam muito dela por esse motivo, mas a mãe diverte-se na sua companhia e reconhece a sua fidelidade, depositando nela aquela confiança natural entre duas amigas.
A mãe bebeu o seu tradicional whisky e eu o não menos tradicional Ice Tea de limão. Não demorou muito até que a amiga da mãe quisesse ir dançar. Eu adoro dançar e, por isso, aceitei de imediato. No entanto, chegou a uma altura em que já estava a ficar com dores nas pernas. Mas ela continuava, com a sua energia inesgotável. Afastei-me e fui me sentar. Os homens reparavam imenso nela e na mãe. Verdade seja dita, a mãe continua óptima para a idade. Não tardou muito e a amiga da mãe arranjou uma companhia masculina para dançar. A mãe ficou comigo, sentada a beber o seu whisky, que a esta altura já ia no terceiro.
Confesso que estava bem saturado. Preferia mil vezes ter ficado em casa a ler um livro (Memórias de Adriano de Marguerite Yourcenar, que estou a adorar), a colher algumas flores do jardim da casa de praia da avó para fazer um arranjo ou até mesmo a escrever.
Para além disso, encontrei na festa aquele casal de namorados! Aquele da praia, em que um deles reparou em mim. Foi toda a noite a olhar para mim enquanto bebia, a afastar-se pensando que eu iria ao seu encontro, etc. Uma rapariga comentou com a amiga qualquer coisa sobre o meu cabelo e notei que ambas gostaram dele.
Bom, cheguei a casa às quatro da madrugada. A amiga da mãe bêbeda, como eu nunca a tinha visto (tanto!). A mãe também estava tocadinha... E eu, pobre de mim, sóbrio como uma gaivota ao alvorecer a aturar aquilo. Ainda pensei em deitá-la, mas ela é pesada. Ficou no chão mesmo. Está calor e pode ser que acorde com uma dor nas costas para aprender, o que eu duvido.
Com tudo isto, hoje não fui à praia, nem de manhã e nem irei de tarde. Estão enjoadas. Também estou a ficar um pouco cansado de praia. É sempre a mesma coisa... Mar, areal, sol... Sou muito pouco dado à rotina. Gosto de inovar. Mas uma das maiores inovações está para breve (faculdade). Ainda irei clamar por praia!

28 de agosto de 2010

A Vingança



«A vingança é um prato que se serve frio» .
Quantos de nós já ouviram esta frase? É talvez um dos ditados populares mais conhecidos. Não admira, uma vez que tudo o que é mau é facilmente absorvido pelo Homem. Mais facilmente aprendemos a fazer e a desejar o mal àqueles que nos rodeiam. O bem, oh!, é tão difícil de fazer...
A vingança é um sentimento predominante no mundo em que vivemos. Talvez um dos mais. Aprendemos, de pequenos, a vingar o rebuçado roubado com um pontapé no amigo; a dizer mal da professora, caluniá-la mesmo, devido ao facto de nos ter dado uma má nota; a contar mentiras sobre o colega de profissão porque este ascendeu a um cargo mais importante na empresa... Depois, existem aqueles que vão se tornando cada vez mais exigentes, aperfeiçoando a sua arte vingativa. Vivem consumidos pelo ódio e pelo desejo de verem o seu semelhante na ruína. Utilizam toda e qualquer artimanha de modo a conseguirem o seu intento. Vingam pequenas quezílias, transformando-as em questões de honra pessoal. Conseguirão a tão almejada paz de espírito? Não! Entrarão, por fim, num ciclo infinito de ódio e vingança. Já não é só o «carro do vizinho da direita que é melhor do que o meu; o do da esquerda também é...."
São triturados pela sua ganância em destruir o próximo. Enlouquecem com tanto ódio e com tanta sede de vingança. Querem vingar, no fundo, a sua própria incapacidade de conseguirem mais e melhor. Querem vingar-se deles mesmos. Querem vingar a sua vida abjecta.
Por isso, a vingança «é um prato que não deve ser servido em circunstância alguma».
Dá azia. Mudem os ditados. O mundo agradece.

27 de agosto de 2010

A Importância da tua Presença



Hoje dei por mim a olhar para uma fotografia tua que guardo com carinho. São pequenos pedaços como este que compõem o ser humano. É surpreendente a nossa capacidade de improvisarmos um pormenor, um simples detalhe, de forma a preenchermos aquele lugar vazio no nosso coração. Ao observar aquela mera fotografia, foi impossível não relembrar cenas que vivemos, lugares que frequentámos, sorrisos que partilhámos. O mar, só por si, tem o dom de me tornar mais melancólico. Aguça a minha atenção, focalizando-a no espaço físico que existe na minha mente. Olho para todo aquele infinito e lembro-me de ti.
A esperança permanece no meu ser. Agora, já não desejo amar-te como outrora. Gosto da tua presença e isso chega para mim, assim como chega para ti. É uma outra forma de amar, bem menos física, mas muito mais espiritual. É um amor sublime, que atingiu um patamar de pureza tal que não necessita de demonstrações palpáveis que atestem a sua existência. Creio que sei o nome que, usualmente, é utilizado para designar este sentimento que guardo em mim: Amizade. É esse o seu nome. É o que existe quando tudo o mais se esvaneceu à passagem do tempo. Um carinho imenso, recordações de afecto e o desejo, tímido, da presença.
Encerro um capítulo das nossas vidas. Guarda-o tu, também.

25 de agosto de 2010

O Surfista



Hoje teve um dia excelente para a praia. Confesso que adoro estes dias solarengos. Sobressai a cor do céu reflectida na água do mar. Claro que tem os seus inconvenientes: todos escolhem estes dias para irem à praia. Irritam-me imenso aquelas pessoas que a-d-o-r-a-m colocar as suas tralhas bem perto dos outros. Felizmente, devo ter um repelente natural anti-povo. :) Fico sempre bem isolado daquelas massas homogéneas de guarda-sóis e toalhinhas de praia.
Bom, cheguei à praia e, como é hábito, coloquei o meu protector solar, todavia, reduzi um pouco o factor de protecção, uma vez que a pele já está mais habituada ao Sol. Hoje levei um livro para ajudar a passar o tempo e para limitar as minhas estadias na água. É que eu estou quase sempre na água! Nunca vi. Adoro estar na água. É óptimo. O livro, como devem calcular, depressa ficou para trás. Fui para a água. Devido ao bom tempo, a água do mar estava repleta de pessoas. Escolhi um pedacinho mais isolado, se é que isso era possível. Estava muito bem nos meus mergulhos, quando vem uma onda (ali, na praia que frequento, há bastante ondulação) de tamanho apreciável. Aproveitei e mergulhei à sua passagem. Quando emergi da água, sinto cair algo em cima de mim. Era um surfista. Eu tinha reparado nas suas presenças, mas eles estavam bem longe. Aproximaram-se e eu nem me apercebi. Tive imensa sorte. Se tenho "levado" com a prancha, talvez não estivesse aqui a escrever... Vá lá, não me magoei muito. Ele era magro. Pediu-me imensas desculpas e perguntou-me se estava tudo bem. Fui educado, mas fiquei tão irritado, mas tão irritado que só me deu vontade de lhe dizer um palavrão daqueles bem feios. Lá se estalava o meu verniz. Não pode ser. Controlei o meu ímpeto.
Claro que não voltei àquela zona. Fui para perto da multidão... Melhor opção?... Devo ter uma espécie de íman, mas recolho montes de olhares. Sempre foi assim. Saí à mãe e ao pai. Nós somos diferentes, por isso, somos sempre muito olhados. Eu detesto isso. Quem me dera ser a pessoa mais discreta à face do planeta!... Hum, admito, às vezes é bom... às vezes, nem sempre. Desde um homem que estava com o namorado (sim, eu reparei que eram namorados...) que, mesmo com o seu mais-do-que-tudo deitado na toalha, não se coibiu de se meter comigo, ora olhando, ora piscando o olho e lambendo a boca de forma nojenta, blharghhhh!; a um rapaz que estava com duas amigas e, propositadamente, bateu com os braços e as mãozinhas nas minhas pernas; até outro, um africano, alto e musculado que, ao nadar, olhava com aquele olhar à engatatão...  foi um dia completo. Eu não gosto destas situações. Sinto-me mal. Perco toda e qualquer atitude espontânea que possa, eventualmente, vir a ter. Não é assim que me conquistam. Sou diferente até nisso. Fujo de engates como fujo de carnes vermelhas. Fazer o quê?... That's me.
Apesar de tudo, passei um excelente dia. Aproveitei a água. Comi um sandwich fantástico de atum, tomate e maionese feito pela amiga da mãe, que me prometeu que eu ia gostar. E não é que é bom?! Só comi um... 'Tá bem, comi dois, pode ser... :)
Voltei para casa mais moreno e mais feliz ainda.

23 de agosto de 2010

Obrigado, Brasil :)



Foi com alegria que constatei que o meu blogue recebeu mais de 1000 visitas vindas do Brasil. Fiquei feliz, uma vez que a minha relação com a pátria irmã já vem de longe...
O pai nasceu em Moçambique, creio que já tive a oportunidade de o dizer num dos meus textos. No entanto, com o início da Guerra Colonial naquele país e a consequente instabilidade política e social que se viveu, os avós depressa sentiram que outros tempos estavam a caminho, e bem rápido... Por isso, e ainda antes da Revolução de Abril, os avós e quase toda a família paterna rumaram ao Brasil, evitando as injustiças cometidas durante o processo revolucionário. Estiveram no Brasil, mais concretamente no Rio de Janeiro, durante alguns anos. Por esse facto, a adolescência do pai e os seus primeiros anos de jovem adulto foram passados em África e no Brasil.
O pai ficou marcado por estas experiências. O amor por estes países, as suas culturas e tradições marcaram-no decisivamente. Desde criança que o ouço falar do Brasil com todo o carinho. Enquanto os pais estiveram casados, o escritório do pai em casa estava decorado num misto da cultura africana e brasileira. Recordo-me de umas máscaras africanas que enfeitavam a parede, bem como uma estatueta que representava a Iemanjá, entre outros artigos. Também me recordo de uma época em que a mãe decidiu mudar a sua mobília de quarto. O pai encomendou uma mobília importada, de uma madeira africana exótica! Demorou mais de um mês a chegar e foi caríssima. O pai (é) era muito extravagante.
Dessa forma, cresci embebido nessas culturas que sempre me fascinaram. Li, por influência do pai, Machado de Assis, Jorge Amado, Mia Couto, etc, adquirindo um gosto acrescido pelo Brasil e por Moçambique. Aliás, o pai tem a cidadania moçambicana e não se sente muito português. É compreensível. Esteve em Portugal, efectivamente, em 1982, salvo umas férias em 1966.
É como se eu tivesse um elo qualquer que me liga ao Brasil. Creio mesmo que muito do meu lado mais irrequieto e quente vem por influência paterna. A mãe diz que eu sou o resultado de todas estas influências.
Desde a criação deste blogue, um dos meus objectivos foi o de chegar aos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), Brasil, Timor e também aos restantes países do globo. Fico realizado ao saber que o povo irmão brasileiro visita o meu blogue. Por vezes, recebo comentários carinhosos do outro lado do Atlântico, o que me coloca um sorriso nos lábios. Os meus textos são apreciados e, muitos deles, úteis em termos históricos, culturais e artísticos. Ainda bem que assim o é.
Obrigado, mais uma vez! :)




Lots of Love, Mark

22 de agosto de 2010

Sinais dos Tempos



Hoje tenho estado ligeiramente nostálgico. Passei o dia a ler e a escrever, de forma que evitei a praia. Escrevi um texto sobre o divino e o sobrenatural, quem sabe inspirado no dia em que faz treze anos desde a morte da bivó. Uma amiga da mãe, que veio passar uns dias connosco, deu por mim a escrever e sentou-se ao meu lado, talvez esperando que eu falasse alguma coisa. Estava concentrado demais para deixar escapar uma única palavra. Quando, finalmente, fiz uma pausa, perguntou-me o motivo de tamanha introspecção. Falei-lhe sobre o significado que estes dias têm para mim, da perda de duas pessoas que me eram especialmente queridas. Fiz algo que nunca tinha feito anteriormente: mostrei-lhe o rascunho de uma das minhas crónicas (quem sabe a ser publicada aqui).
Leu atentamente, reparei. Escrevi sobre Deus, o significado da alma e do mundo post mortem. A mãe não estava presente, o que intensificou, de certa forma, o momento. Recebo a pergunta mais despropositada que alguma vez ouvi.
- "Mas tu ainda acreditas em Deus?"
Fiquei sem reacção. Não sabia que a crença, ou não, em Deus, dependia do contexto temporal em que se vive. E, se dependesse, todos acreditariam em Deus. Creio que ainda é mais comum acreditar do que não acreditar. Será que está na moda não acreditar em Deus? Senti-me desprotegido, estranho. De facto, são os sinais dos tempos a aproximarem-se violenta e impiedosamente. Um dia será antiquado acreditar em Deus. E rematou:
- "Um jovem tão novo não devia ligar tanto à religião..."
Como explicar-lhe a diferença entre a crença e a religião? Acreditar em Deus não está relacionado com a prática de uma religião. No Ocidente, principalmente católico, associa-se Deus à Igreja Católica Apostólica Romana. Já para não falar da expressão "jovem tão novo", uma redundância totalmente inadmissível. Um jovem velho?
Fiquei decepcionado com ela. É um facto que desde que a conheci constatei a sua forte aptidão para o desporto e a sua fraca tendência para a cultura, literatura, no fundo, a sua mediocridade intelectual. Às vezes, questiono a vocação da mãe para fazer amizades. Que vazio humano. Se a senhora não acredita em Deus, necessariamente deve respeitar quem acredita. Aliás, as questões de fé não são questionáveis. Ela não se apercebeu, tenho a certeza, mas demonstrou uma intolerância subtil e um germe de preconceito que começa a fazer-se sentir no seu interior.
Por Deus, mata-se e morre-se. E assim continuará, até ao dia em que todos se aperceberem de que o respeito pela liberdade religiosa é uma meta prioritária.
Paradoxalmente, junto a crença com a célebre frase de Karl Marx, salvaguardando as devidas diferenças entre a crença em Deus e a Religião.
"A religião é o ópio do povo."

20 de agosto de 2010

Há Sempre um Adeus



Nada é eterno. Temos sempre, durante a nossa vida, de dizer adeus a alguém. A um amigo, a um familiar, a um conhecido... Todos partimos, sendo que a definição do local da possível chegada remeter-me-ia para questões filosóficas e religiosas, situação que quero evitar neste post, de forma a manter uma pureza singela das palavras. A morte, ou partida, é tudo o que temos de certo na nossa existência. Aliás, faz parte dela. Evitamos ao máximo este assunto. Não é próprio para se falar numa noite com amigos ou familiares. A morte, essa, está distante, quanto mais longe melhor. Ninguém a aborda; todos a temem. Concordo, em certa parte, com esta tendência natural do ser humano. A manutenção da vida e a sua defesa afastam peremptoriamente toda e qualquer ideia de morte. A vida importa, a morte não. Mas a morte existe e é um facto com o qual temos de lidar. Inevitavelmente, lidamos com a nossa morte e com a morte dos que nos rodeiam. Por isso, defendo a tese de que não existe uma morte, mas sim várias mortes. Cada uma amadurece-nos e ajuda-nos a lidar com a próxima. É um processo normal e, em muitas dessas vezes, não temos a percepção de como tudo sucede.
Sou apologista de que a morte deve ser encarada normalmente. Devemos falar nela, abordá-la naturalmente. Não digo que o façamos em situações complexas e despropositadas, não. Porém, devemos falar de quem partiu com carinho, relembrar quem já não se encontra na nossa companhia e, essencialmente, preservar todos os bons momentos que sobrevivem à morte corpórea. As nossas recordações, patentes em fotografias, cartas, escritos, vídeos, etc, vencem a morte e resistem-lhe para todo o sempre. Existe sempre algo que nos traz de volta a pessoa amada. Só morre quem nós queremos que morra. As pessoas continuam vivas em nós, por vezes mais vivas do que quando efectivamente o estavam. Começa em nós, o processo de preservar essas memórias e esses testemunhos daqueles que nos precederam na partida.
Não deixemos que a morte nos traga o medo de viver. Antes, tenhamos o trabalho de a perceber e de olhar para ela de forma descontraída. Afinal, somos efémeros como o tempo.






Ao Nuno (9-8-1970 / 20-8-1999) e à bivó Palmira (2-4-1908 / 22-8-1997), todo o meu amor e carinho pelos bons momentos que vivemos. Lots of Love, Mark

19 de agosto de 2010

Não Te Quis Perder



Não, eu sei que a culpa não foi minha. Se ambos errámos, a maior parte da culpa foi inteiramente tua. Podia ter dado certo. O principal existia. Estávamos preparados para desafios e aventuras arriscadas, vivências que preenchem o espaço vazio e criam momentos propícios à paz e à tranquilidade.
Hoje, olho o mar e penso em que parte falhaste tu. A justificação que não recebi, procuro-a eu, olhando para todos os cantos do espaço sideral. Podias estar aqui, a meu lado, vendo o que eu vejo, vivendo o que vivo, sonhando o que eu sonho. Estarás num outro lugar, numa outra companhia, longe da minha vista mas não do meu coração. Os ditados populares desconhecem as forças superiores ao conhecimento humano. Bobo, quem pensou que as razões da lógica conhecem as do coração. Estas últimas escapam ao alcance da compreensão racional e metódica. Porventura, quanto mais longe, mais perto. És mais paradoxal do que poderias imaginar, não é verdade? Existem capacidades desconhecidas em cada um de nós. A tua, é a de transformar a distância numa perturbadora presença.
Não te quis perder dessa forma tão ridícula e rápida. Resta um vazio em teu lugar. Abre bem os olhos e vê a pessoa que és. Enfrenta essa realidade. Tens defeitos, muitos.
Já te perdi uma vez. Voltei a encontrar-te para te voltar a perder. Nada mais direi. Neste momento estás em mim. Não te quero perder agora.

17 de agosto de 2010

Ondas do Mar



Ontem foi o meu primeiro dia de férias. Bom, férias a sério, porque já estou de férias desde o término das aulas. Já tinha ido à praia duas vezes, mas foi tão desinteressante, devido ao facto de ter escolhido dois dias da fantástica primeira quinzena de Julho. Dois dos piores dias, por isso, ontem foi oficialmente o meu primeiro dia. Confesso que o que mais gosto na praia é o mar. Adoro sentir as ondas a baterem-me na pele. Toda a força e o poder do mar. Gosto de olhar o mar até perder de vista o seu fim. A sensação de infinito é surpreendente, mesmo sabendo que do outro lado do mar existe sempre terra (ou quase sempre...). A praia estava agradável, uma vez que não estavam assim tantas pessoas. Coloquei o meu protector solar, de factor elevado, e estendi a minha toalha sobre a areia. É claro que não aguentei muito tempo até ir à água. Entrei bastante bem, até para mim, que costumo fazer imensas caretas para entrar. Estava morna, morna mesmo. Tão saborosa. Mergulhei e não evitei uma risada de alegria.
"Se morresse agora, morria feliz...", foi o pensamento que invadiu a minha cabeça. Estive cerca de uma hora na água. A mãe já estava impaciente. Também, não há protector solar que resista a tanta exposição à água. Estavam algumas pessoas na água, mas eu, geralmente, sou muito distraído e não presto atenção a quem vem e vai, e sou assim mesmo no quotidiano. Estou eu e não me importo com quem está ou não. Notei, no entanto, que um rapaz olhava para mim insistentemente. Era moreno, já estava bastante bronzeado e tinha os cabelos escuros. Não era muito atlético, mas notavam-se uns abdominais que queriam nascer para o mundo. Não dei importância e continuei nos meus mergulhos. Começou a aproximar-se de mim a sorrir.
"Que lata!" - pensei.
Mergulhou e, ao emergir da água, disse-me um "Olá" sorridente e meigo. Correspondi da mesma forma.
Bom, passado um bocado estávamos a falar da praia, da temperatura da água e a mergulharmos na rebentação das ondas. Perguntou-me o nome.
-"Mark." - respondi-lhe, porém, não perguntei o seu.
-"Eu sou o Pedro. Mark, que nome giro. É inglês ou quê?" - questionou-me.
-"É, nasci na Inglaterra..." - disse, sorrindo. Deu-me tanto gozo inventar isto, mas senti-me culpado por estar a mentir. Mas também, não se pode dizer tudo a um estranho. Falámos e falámos e constatei que estava a prolongar o seu tempo na água. Não demorou muito para que eu saísse. Ainda o vi a caminhar em direcção à sua toalha e reparei que estava sozinho. Fiquei a olhar para ele durante uns momentos, com a cabeça deitada na toalha. Sorri, não sei se da situação, se da historieta que contei. Provavelmente nunca mais o verei. Foi mais um encontro imediato de terceiro grau. Hoje fui à praia de manhã cedo. Não o vi. Será que o verei amanhã? :)

16 de agosto de 2010

Incapacidade de Fazer Directas



Tenho uma incapacidade inata para fazer directas. Sei que não é um motivo de vergonha, mas a verdade é que, por vezes, faz imensa falta. Todos os amigos que tenho fazem directas. A mãe, inclusivamente, já me tem dito que quando era nova chegou a fazer algumas, principalmente na sua época de estudante. O pai também fez, segundo sei, e até a avó materna (!!!) chegou a estar duas noites seguidas sem dormir quando era jovem. Eu não sou capaz e sinto-me um pouco estranho devido a isso. Chega a uma certa hora e tenho uma necessidade enorme de dormir. Só me recordo de ter feito uma directa e não foi uma directa na íntegra, real e verdadeira. Foi em 2005, nas vésperas de uma viagem a Espanha. Deitei-me às quatro da madrugada para acordar às seis. Sim, eu sei que uma directa consiste no acto de estar 24 horas sem dormir, ininterruptamente e, para ser ainda mais real, com noites perdidas em bares e afins. Mas eu nunca o fiz. A minha experiência mais próxima foi esta que relatei. E, às seis da madrugada, o pai teve de me levar ao colo até ao carro, literalmente. Estava quase morto de tanto cansaço. Foi o que deu entusiasmar-me com a viagem. Desde aí, nunca mais fiz nada parecido. Quando me deito tarde, durmo até tarde. Porém, continuo a sentir-me um alienígena neste aspecto. Não encontro uma alminha que também não seja capaz. É um pouco constrangedor. E algumas pessoas chegam a ir à praia sem dormir. Fantástico. A sério! Admiro. Sou incapaz. Claro que tenho a medicina do meu lado, apoiando-me quando afirmo que faz muito mal à saúde não dormir, no mínimo, oito horas por dia. Bom, também para estar todo o dia com umas olheiras enormes e uma cara de zombie, prefiro ser assim como sou. Decididamente, essas aventuras não são para mim. Agora com a faculdade já avisei: os meus futuros colegas que estudem, estudem, estudem muito; eu, de certeza que não estarei noite alguma sem dormir. No way! Faz imenso mal à pele, cansa, envelhece prematuramente e não consigo, de todo, nem com café.
Continuamos a lutar, sem glória, contra as máquinas. Será que ninguém repara que somos animais? Não somos como um computador, que é capaz de processar dados durante dias e dias e dias... Não! Temos necessidades naturais e uma delas é repousar, de forma a recarregarmos energias para o dia seguinte.
Às vezes, acho que penso demais e arrisco de menos.

14 de agosto de 2010

Reflexões Sobre Um Simples Diário



Desde criança que tenho um diário. Trata-se de um pequeno diário, um livro da minha vida. Um lugar seguro, onde sei que posso confiar todo o meu lado mais íntimo e pessoal. Porventura, até tenho mais do que um diário. Tenho vários, devido ao facto de escrever várias vezes, o que me levou a armazenar uns dez. Não escrevo todos os dias, no entanto, escrevo o mais importante. Os meus diários antigos estão guardados na casa da avó. A avó tem uma arrecadação fantástica, bem ao lado da adega pessoal do avô. Os tios, os primos e restantes familiares pedem à avó para guardar algumas coisas na arrecadação, que fica atrás do jardim. Meu, estão lá umas caixas, onde armazeno alguns brinquedos de infância. Nem são muitos, uma vez que desde pequeno me ensinaram a doar os brinquedos usados - mas em bom estado - para as crianças que têm menos posses. São brinquedos que me dizem muito. Para além desses artigos, estão lá os meus diários. Desde que tenho o blogue, as minhas energias são despendidas aqui, portanto, a escrita no diário não é tão frequente. Porém, os factos mais pessoais são confiados àquelas páginas.
Hoje, a falar com uma amiga de uma prima, abordou-se a questão dos diários, quando eu disse que ainda escrevia num. Ela riu-se, melhor, sorriu, de forma sarcástica que não gostei nem um pouco. Perguntei-lhe o motivo de tamanha admiração, quando ela me diz que são «coisas de criança» e que sempre me achou «um nadinha enjoado demais». Assim, na minha cara. Fui muito diplomata. Virei as costas e saí. À prima, mais tarde, disse o que pensava. Desde quando ter um diário revela imaturidade? Confesso que engoli um sapo, como se diz em linguagem popular.
Um detalhe no qual tenho reparado, é que tudo o que foge ao vulgar e ao comum é mal interpretado. Não somos todos iguais. Cada um tem a sua sensibilidade e a sua forma de viver a vida. Graças a Deus que não sou igual à maioria. Agradeço sempre. É bom ser diferente. Ser sensível, mesmo sendo rapaz. Não é o facto de sermos brutos, rudes e autênticos selvagens que nos torna mais homens. A nobreza de carácter não é visível nessas trivialidades. Grandes Homens e Mulheres estão no interior de quem menos esperamos. Isso sim compõe o ser humano, e não aquilo que a sociedade atribui a cada um.

12 de agosto de 2010

Nick Carter



Sabem o que são aquelas pessoas que, por um motivo ou por outro, acabam por ficar na nossa memória, mesmo que não tenham sido especialmente importantes? Foi o que aconteceu com o Nick Carter. Durante a minha infância, ele representava para mim o protótipo da «pessoa ideal», em todos os aspectos. Talvez tenha sido por isso que acabei por gostar de alguém que partilha com ele o tom de cabelo e estou em dúvida se também em relação à cor dos olhos. Bem diz a Só, que vou acabar por casar com alguém da Escandinávia...
Bom, o Nick, com o passar dos anos, ganhou uns quilos e perdeu parte «daquilo», seja lá o que era.










PS: Ainda me recordo de coleccionar posters dele, juntamente com as minhas colegas do colégio. Elas sonhavam em ser as namoradas dele. Eu... Bom, eu... eu... (...)



10 de agosto de 2010

Presença Ausente



Hoje, ao olhar para a janela, desejei que entrasses com toda a força dentro do meu mundo. Senti a falta da tua voz, como um pedaço de lembrança que se soltou do interior do meu ser. Conseguia escutar o som dos teus passos. Olhei para tudo o que estava ao meu redor como se fosse a última vez que visse as mesmas coisas, as mesmas cores; sentisse os mesmos cheiros, os mesmos odores do quotidiano. Pensei que vinhas libertar-me do meu mundo cristalino, mas, por vezes, sufocante. O dia ainda não tinha acabado. Havia tanto para viver e tantos raios de sol quente para desfrutarmos em cada centímetro da nossa pele... Chegarás amanhã?
Afinal, tudo não passou de uma doce ilusão. Estava no meu quarto. A meu lado, o mesmo caderno de apontamentos diversos, a mesma caneta de pompom vermelho e suave. Do outro lado da cama, as mesmas almofadas coloridas. O Simba fitava-me com o seu olhar de desilusão. O dono estava ali, despido dos seus sonhos e das suas vontades. Ah, como era bom se o pudesse personificar, dando-lhe um folêgo humano, tornando-o no meu melhor e mais fiel amigo. Sempre o tive sob uma visão antropomórfica. Porém, não passa de um leão fofo de pelúcia.
Adormeci de tarde. Adormeci demais. Perdi-me mais um pouco. Recuperei, despertei e vivi, para voltar a me perder novamente.

7 de agosto de 2010

Compras de Verão


Hoje fui ao El Corte Inglés. O dia foi inteiramente dedicado a umas comprinhas de Verão. Fui com a mãe, uma amiga da mãe e a filha, que não conhecia pessoalmente, apenas de «ouvir falar». Temos o hábito de, antes de irmos de férias, comprar artigos que fazem sempre falta. No nosso caso, decidimos que precisávamos de comprar algumas coisas diferentes.
Chegámos da parte da tarde, depois do almoço. Subimos de imediato ao piso da moda, aquele que mais nos agrada. Foi a vez da mãe ver alguns artigos para ela. Comprou um biquíni fantástico, preto, uma vez que a mãe tem a pele bastante clara. Também comprou umas peças de vestuário que acompanham bem esta época balnear. Comprou umas saias indianas que ela adorou e uns lenços próprios para colocar à volta da cintura. Tudo muito fashion e com padrões divertidos. A mãe é muito elegante e formal, devido ao facto de ser empresária, contudo, gosta de manter um ar jovem e divertido, geralmente em alturas mais lúdicas, digamos. A amiga da mãe e a filha também compraram muita coisa. Nunca pensei, mas conseguem ser mais consumistas do que eu (o que é difícil). Essa filha da amiga da mãe é muito gira. É um ano mais velha do que eu. É alta, com o cabelo comprido, liso e castanho. Tem uma cintura delgada e uns peitos bem proporcionados. É o que se chama «uma bomba». Muito interessante, mesmo. Para além disso, é bastante solícita. Perguntou sempre a minha opinião e mesmo não me conhecendo, depressa mostrou um à vontade inexplicável. Era só sorrisos e brincadeiras. Eu correspondi. Para o fim, já estava com a mão à volta da cintura dela, com carinho e na brincadeira, é claro, mas a mãozinha estava lá... ;) Pode ser que venha a ser a nora da mãe... Quem sabe? "LOL"
Foi chegada a vez de eu comprar as minhas coisas. Comprei uma sunga preta, que a minha do ano passado desagradou-me. Sim, eu uso sunga desde pequeno. Nunca gostei muito de bermudas, apesar de ter algumas e de já ter usado. Nas férias de 2006, usei bermudas. Porém, esta sunga é mais atrevida... Revela muito. Fica uma proeminência, digamos, mais visível. E atrás, o rabinho fica mais volumoso. As bochechinhas ficam redondinhas. A filha da amiga da mãe disse que gostou... Se ela o diz... Também comprei umas t-shirts curtas, daquelas que deixam o umbigo de fora. Adoro-as! Acho que até já o disse aqui. Comprei umas havaianas, mas para estar na praia! Andar na rua, na cidade, de havaianas, é do mais horrível que pode existir. É possidónio. Comprei também um perfume, o Big Pony, da Ralph Lauren. Adoro os perfumes da Ralph Lauren. Até hoje, o meu perfume favorito foi o Romance.
Nem demos pela passagem das horas. A hora do lanche há muito que tinha passado. No entanto, bebemos um chá com umas torradas em pão integral. A mãe bebeu uma cerveja. Fiquei arrependido de não ter pedido um sumo de laranja fresco, mas enfim...
Chegámos a casa com imensos sacos. Na rua estava um calor insuportável. Dentro do shopping e mesmo dentro do carro, devido ao ar-condicionado, ninguém sentiu as elevadas temperaturas. A melhor notícia estava para chegar. A mãe contou-me que vamos de férias sem o marido dela, um inédito em cinco anos. Estranhei, mas disse-me que o motivo estava relacionado com o facto do Sr.º Dr.º fazer muita questão que passássemos as férias com ele. A mãe está indecisa, se bem que eu adorava passar férias com o Martim. O Dr.º vai para Vilamoura, que adoro e onde já estive diversas vezes. Bom, resta esperar que a mãe entre de férias, o que já não vai demorar muito.

6 de agosto de 2010

D. Maria I - A Piedosa / A Louca



D. Maria I é uma figura ímpar da História de Portugal. Foi a primeira rainha de jure, sucedendo a seu pai, El-Rei D. José I. Nesse sentido, D. Maria I foi a primeira mulher a governar em Portugal de forma legítima. As historiografias portuguesa e brasileira não têm sido correctas para com esta rainha. D. Maria I foi uma monarca por excelência, diplomata, corajosa e decidida, não obstante o seu forte pendor religioso.
D. Maria I nasceu a 17 de Dezembro de 1734, em pleno reinado de seu avô, D. João V. A pequena Maria, como filha primogénita do herdeiro da coroa, o princípe D. José, ficou em segundo lugar na sucessão ao trono, logo a seguir ao seu pai, recebendo o título de Princesa do Brasil, título até então atribuído aos herdeiros do trono do sexo masculino. O seu avô alterou estas leis e agraciou a sua neta com este importante título honorífico. D. Maria cresceu no luxo e no fausto da Corte do seu Magnânimo avô, o que influenciou a sua educação. Com a subida ao trono do seu pai, e pelo facto de não nascerem filhos varões, D. Maria assumiu cada vez mais um papel de destaque. Em 1760, D. Maria casa com o seu tio paterno, D. Pedro, assegurando a legitimidade da coroa portuguesa. Sublinhe-se que a princesa, para a época, casou muito tarde. Em 1755, dá-se o Terramoto de Lisboa, facto que perturbou a princesa D. Maria e provocou a ascensão de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, pessoa pela qual D. Maria nutria um profundo desprezo e rancor. Em 1758, a execução de importantes membros da fidalguia portuguesa, os Marqueses de Távora e o Duque de Aveiro, implicados numa tentativa de regicídio, afectou fortemente a estabilidade emocional de D. Maria.
D. Maria ascende ao trono com a morte de D. José I, em 1777. Uma das suas primeiras medidas foi afastar o Marquês de Pombal da governação do Reino (o mesmo já tinha pedido a demissão). Instaura-lhe um processo que não chega a conclusões definitivas. Muitos pretendiam o julgamento e a execução do Marquês, porém, a rainha contentou-se com o seu desterro para o vilarejo de Pombal, proibindo-o de regressar à Corte. Os primeiros anos da sua governação foram benéficos e ficaram conhecidos para a História como a Viradeira, ou seja, um retrocesso nas políticas pombalinas. A nobreza recuperou algum poder, bem como a Inquisição, que estava fortemente diminuída. No entanto, em 1786, morre o seu marido, o rei D. Pedro III, facto que a abalou fortemente. Em 1789, despoleta a Revolução Francesa, que acaba com o Antigo Regime e com o Absolutismo Régio. A rainha, absoluta, ficou chocada com a execução de Luís XVI, em 1793. Todavia, a fatalidade que mais contribuiu para a sua instabilidade mental foi a morte precoce do seu filho primogénito e herdeiro da coroa, o princípe D. José. A partir de 1792, a rainha perdeu a razão de forma permanente, obrigando D. João (filho secundogénito), futuro João VI, a assumir a regência em nome de sua mãe. Desengane-se quem pensa que D. Maria morreu poucos anos depois. A rainha viveu mais 24 anos, tempo suficiente para se dar conta (terá dado?) das invasões francesas e da subsequente fuga para o Brasil. Haveria de morrer em 1816, com 82 anos de idade, uma longevidade raríssima naquela época. Viveu longos 24 anos no seu mundo especial...
No Brasil, a rainha é recordada pela sua loucura e, de facto, existem episódios muito caricatos. Conta-se que a rainha adorava ir ver o mar no Rio de Janeiro, mas tinha o péssimo hábito de se querer despir, acto que em muito constrangia as suas aias. Morreu longe do seu Portugal, onde cresceu a ver e ouvir as óperas, as árias e as peças teatrais que em muito marcaram a sua juventude. Um ano antes de morrer, em 1815, foi agraciada com o título de Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
D. Maria I é uma das minhas monarcas favoritas. Adoro-a inexplicavelmente. Tenho uma curiosidade em saber o que pensava durante tantos anos de loucura, como via o mundo. Nunca o irei saber. No entanto, admiro a honra e o respeito daquela época. Um rei só o deixava de ser pela morte. Deixou de governar, efectivamente, em 1792, mas D. João, o seu filho, manteve-se como regente, assinando e decidindo em nome da sua mãe. Muito idosa e louca, um ano antes de morrer, em 1815, foi aclamada rainha novamente, devido ao facto do Brasil ter ascendido à categoria de Reino Unido a Portugal.
D. Maria é muito relembrada no Brasil, felizmente. Ficou na memória do outro lado do Atlântico. Por cá, poucos se recordam dela. Os portugueses são, em geral, um povo que desconhece a sua História, aliás, um povo que não sabe nada, a não ser de futebol, falta de educação e álcool. Da minha parte, recordar-me-ei sempre daquela que foi a primeira Rainha de Portugal.

4 de agosto de 2010

Tédio Visual



Nunca fui uma pessoa muito dada à mudança e à inovação, mas apenas em alguns aspectos. Em relação ao look, gosto de variar, e confesso que até o faço mesmo quando não é necessário. Como já o disse uma vez no blogue, eu tenho um cabelo muito bom, tanto em quantidade como em qualidade. Felizmente, creio que é uma sorte nos dias que correm. Vêem-se imensos rapazes (e raparigas!!!) carecas ou com pouco cabelo. E as idades? Dezoito, dezanove, vinte, etc. Às vezes, fico mesmo surpreendido. Um amigo da mãe, biólogo, diz que as mutações socioeconómicas e a alimentação transgénica têm uma influência decisiva na alopécia (queda de cabelo).
Hoje fui ao cabeleireiro com mãe. Nós já o frequentamos há bastantes anos e a mãe só confia os seus cabelos nas mãos daquelas pessoas. Enfim, é um salão conhecido da nossa praça. Elas aconselham-me em relação ao estilo a adoptar, corte de cabelo, etc, apesar de eu ter sempre uma opinião definida e, segundo elas, acerto várias vezes. Já usei o cabelo de imensas formas. O meu cabelo é, por tendência, encaracolado. Por isso, durante os meus catorze, quinze anos, usei-o encaracolado, com aqueles caracóis definidos, bem enroladinhos. E esqueça quem pensa que consegue obter o mesmo efeito sem ir ao cabeleireiro. Eu tinha os caracóis lindos e soltos porque estava lá dia sim, dia não. Depois, aos dezasseis, comecei a usá-lo com extra-volume. Parecia que tinha saído de uma máquina de secar. Enfim, estava in. Recentemente, optei por usá-lo liso, com recurso à escova progressiva sem a qual não viveria. É uma das minhas melhores amigas (menos....). Porém, já o usei ruivo, aos treze; louro e liso, por volta da mesma idade. Ainda me recordo da cor. Era um louro acastanhado, parecia cor natural. Na altura, tive uma birra terrível com a mãe, que lá se convenceu e comprou-me umas lentes verdes. Como tenho a pele bem branca e os lábios de um vermelho intenso, parecia um inglês, holandês, anyway, gostava da reacção que provocava nos meus colegas...
Todos me dizem que tenho um cabelo óptimo para trabalhar, lamentando o facto de ser rapaz, ou seja, diminui um pouco a liberdade artística do cabeleireiro. Não posso (ou não devo...) sair por aí com um apanhado lindo, composto por madeixas de cabelo a caírem pelas costas. Seria ridículo.
Bom, hoje coloquei uma tonalidade mais acastanhada, de forma a aclarar um pouco. Mantive o mesmo corte, liso e intocável. É evidente que tanta mudança exige cuidados acrescidos. É preciso hidratar o cabelo, mantendo-o leve e solto, com vivacidade permanente. Aconselhem-se com o vosso cabeleireiro.
Mudar a imagem é essencial, se necessitarmos disso, é claro. Parece que renascemos, com uma nova identidade a surgir. É uma sensação boa, no entanto, há coisas mais importantes na vida de qualquer um de nós. É um detalhe que ajuda, se ajuda.