10 de julho de 2010

Praia das Maçãs



Lembro-me de quando viajava até à Praia das Maçãs, num tempo que guardo com carinho. Era tão pequeno ainda, mas recordo-me das estradas circundantes que nos conduziam até lá. Do verde das árvores, do cheiro a mar e da linha do eléctrico que estava desactivada. Talvez o meu fascínio pelos eléctricos venha daí. Lembro-me de olhar para os carris, velhos e enferrujados, consumidos pelo matagal que os envolvia num abraço fatal. Os postes eléctricos, velhos e usados, erguiam-se moribundos nas beiras das estradas, com fios de electricidade, provavelmente desactivados, que pendiam sobre si.
Gostava de ir até à Praia das Maçãs. A senhora do colégio colocava-me o chapéu na cabeça, de forma a proteger-me do sol, e eu brincava, solto e leve, como um peixe que nada no mar. Por vezes, íamos até às piscinas. Existiam duas ou três, uma para os adultos e outra para as crianças. Tinha uma ligeira predilecção pela piscina dos adultos, talvez por estar mais perto dos adultos e das crianças com mais idade do que eu. Eram dias de tanta felicidade... Depois, da parte da tarde, fazíamos um piquenique num jardim público em Sintra. Ainda sinto o cheiro das árvores, do verde brilhante da Natureza. Ainda sinto os trilhos que percorria com os coleguinhas do colégio. O campo onde os meninos brincavam. As meninas, essas, não, preferiam ficar a dançar ou a brincar com bonecas. Eu sentia-me à parte deles. Não era como os meninos, no fundo, e apesar de ser muito pequenino, sabia-o. Não tinha a sua virilidade, a sua agressividade e não procurava impressionar as meninas. No entanto, também não brincava muito com as meninas. Ainda ouço a sua voz...
"Oh Helena, o que é que o menino tem? É tão diferente. Não se dá com os meninos e fica a apanhar umas pinhas e umas flores. O que se passa com esta criança?"
No fundo, elas não sabiam que eu as escutava. E não imaginavam de que eu lembrar-me-ia destas palavras tantos anos depois. Mas era tão feliz, assim, único. Tinha inveja da Ana Cristina porque o Rui gostava dela... Que inocência e perspicácia, mesmo com cinco anos. Por vezes, colocava algumas flores na minha mochila para dar à mãe, quando chegasse a casa.
Ainda fui, todos os Verões, à Praia das Maçãs, nas férias do colégio. Depois, como num passe de magia, deixei de ir. Voltei, contigo, há uns anos atrás. Pedi e levaste-me até lá. O sonho e o passado misturaram-se com o presente feliz e ideal. Foram os melhores dias da minha vida. Foste mais do que um herói; trouxeste-me a minha infância de volta. O eléctrico já funcionava, o ambiente era outro, mas nada estragou aquele quadro imaculado que estava lá atrás. Por tantos e tantos motivos, ainda acredito em ti, na pessoa que és. Tiveste esse dom de me tornar novamente na criança que fui. E se a minha infância foi feliz...
São momentos como estes que vivi que me fazem recordar de tudo com imensa saudade. Afinal, quando fui contigo, também já é passado. Mas as imagens, essas, ficam para sempre.
Um lugar especial, um pouco de mim, um pouco de nós, ficou escrito na Praia das Maçãs.

1 comentário:

  1. Há lugares assim, que ficam marcados para sempre nas nossas recordações.
    O meu chama-se Figueira da Foz.

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