31 de maio de 2010

Total Eclipse of the Heart - Bonnie Tyler

                                    
Desde criança que gosto de músicas do anos oitenta. Creio mesmo que foi a melhor década para a música pop. Baladas épicas como este Total Eclipse of the Heart não me deixam indiferente. Gosto do som, do mistério inerente à letra e à sonoridade e daquele ar muito 80's. Há pouco tempo pensava que existiam poucos jovens a gostar deste tipo de músicas, mas tenho constatado que são bem mais do que eu imaginava. São músicas imortais que marcaram não só uma década como também várias gerações.
Esta é uma das minhas músicas favoritas desta época. :)

30 de maio de 2010

Convenções Seguidistas

Resolveram organizar uma festa de despedida, ou deveríamos chamar de finalistas? Nunca gostei deste tipo de iniciativas. Em primeiro lugar, uma festa pressupõe a comemoração de algo e eu nada tenho para comemorar. Em segundo lugar, ao festejar a minha conclusão do secundário, parece que foi um feito extraordinário, difícil e, por isso, merece ser devidamente celebrado. Para mim, estes três anos não tiveram nada de especial. Não tive a mínima dificuldade ultrapassada que mereça, por esse facto, ser festejada.
Eu gosto de organizar as minhas próprias festas. À partida, e devido à minha personalidade, detesto tudo o que envolva um grande número de pessoas. Não se coaduna comigo o facto de fazer o que todos fazem. Faço aquilo que quero e gosto. Geralmente, abdico de coisas só pelo simples motivo de serem escolhidas ou ambicionadas por todos. Tenho uma aversão a tudo o que é popular e cobiçado de uma maneira geral. E também não gosto da forma em que estas festas estão organizadas. Música, diplomas, conversas, diálogos e danças... Por exemplo, em relação à dança: eu odeio estereótipos. Por que razão eu terei de dançar com uma colega quando não quero? Detesto pegar na mão da menina e convidá-la para dançar. Eu gosto que peguem na minha mão e que me convidem para dançar. Assumo que gosto de ser o centro das atenções nestes eventos e que fico tremendamente ofendido quando não o sou. No entanto, ser-me-ia muito fácil roubar as atenções para a minha pessoa, mas não o irei fazer. Deixem-nos brilhar ao menos uma vez.
Vou apenas por uma questão de respeito às minhas professoras. Gosto imenso delas, são umas queridas. Mas não irei dançar de forma alguma. Danço com quem quero e quando quero. E não estou minimamente disposto a dançar com meninas só porque «é bonito e é assim que deve ser». Menino sou eu e não faço disso cartão de visita. Estou arrependido de não ter convidado um amigo para ir comigo. Adorava dançar com ele em frente a todos. Seria o máximo. Imagino as expressões de revolta e admiração. Adoro chocar sempre mais um pouquinho.
Já estou a ver a mancha de igualdade que irei encontrar. As mesmas convenções e os mesmos protocolos oficiais. Tudo em nome dos bons costumes. Gosto dos bons costumes no que diz respeito à etiqueta e à educação. Cumpro na íntegra esses requisitos. Mas as normas heterossexistas abomino veementemente.
Bom, cumpra-se esta tarefa devido ao meu bom nome. Já dei a minha palavra. Porém, serei fiel a mim próprio. A minha honra e personalidade não estão sujeitas a estas convenções seguidistas.

29 de maio de 2010

Um Pouco de Mim

Pensei em nós. Em tudo aquilo que deixámos por viver. Em todas as situações que não vivenciámos, nas risadas alegres que não demos e nos sonhos que escaparam como areia fina pelas nossas mãos. Pensei em nós como um todo e esse todo era muito mais do que alguma vez o real o foi. Era verdadeiro. É surpreendente como conseguimos preencher a matéria dos sonhos com o simples poder da nossa vontade.
Mas há coisas que o sonho não consegue tornar realidade. Não me traz a tua voz, o brilho dos teus olhos ou a alegria do teu sorriso. Falta sempre aquele pedaço de vontade e realidade que faz com que tudo seja possível. O sonho é poderoso, mas não passa de um conjunto de imagens sem cor, vida ou brilho. Caí em mim. Apercebi-me da verdade. Não estás aqui.
Dava um pouquinho de mim para que fosse tudo mais verdadeiro. Só um pouco mais verdadeiro. Dava um pouco de mim para viver o que deixámos por viver, para vivenciar as situações que faltaram, para dar as risadas que não dei e para colocar novamente toda aquela areia nas nossas mãos. Dava um pouco de mim para que estivesses aqui, para que dissesses que tudo era como anteriormente. Dava um pouco de mim para que trouxesses de novo o pedaço de luz que levaste contigo. Dava ainda mais um pouco se pegasses na minha mão e tornasses os meus sonhos em realidade. Prova-me que estou enganado.
Dava um pouco de mim para te ver agora.
E a noite é longa e não te traz.
Dava tudo para que me amasses só mais uma vez.

28 de maio de 2010

Stress Antes do Trauma

É uma versão ligeiramente diferente do stress pós-traumático, mas as complicações que traz consigo são bastante parecidas.
O ano lectivo está a terminar e com ele termina também uma fase da minha vida. Estou na expectativa, é verdade. Mais ainda: estou ansioso pela minha vida universitária. A mãe já me disse que a vida universitária é totalmente diferente e eu estou necessitadíssimo de alargar os meus horizontes. Os primos e alguns amigos falam das vantagens do ensino superior, das amizades bem diferentes, do clima mais intelectual e alegre. No fundo, colocaram uma ansiedade bem forte dentro de mim. De facto, deve ser totalmente diferente do ensino secundário que, deixem-me que vos diga, é uma mediocridade. Preciso urgentemente de aprender coisas novas, assuntos mais elaborados e complexos, pois a minha cabeça necessita de algo que a coloque num outro nível de exigência. Sou ávido pelo saber e pelo conhecimento (acho que se nota). Esse detalhe torna-me numa pessoa inconstante com aquilo que sabe. Muitos dizem que tenho mais conhecimentos do que a grande maioria dos jovens da minha idade, no entanto, isso não é o suficiente. Quero mais.
Por todos estes motivos, ando em stress antes do trauma. O trauma serão os exames nacionais (que estão mesmo aí...), a semana e meia de aulas que ainda falta, o compasso de espera, a entrada na faculdade, etc.
Até já telefonei ao meu médico devido a alguns sintomas que sinto, nomeadamente, batimentos cardíacos acelerados, mau humor, irritabilidade, perda de apetite, pressão arterial mais elevada, enfim... Estou a tomar uns comprimidinhos para o sistema nervoso e até que estão a fazer efeito. Estou mais calmo.
É muita responsabilidade sobre mim. Não somos máquinas programadas para desligarem ao fim do dia. As preocupações mantêm-se no mesmo lugar, queiramos ou não.
Quando todo este período acabar, vou ficar off por uma semana. Não significa que me ausente do mundo, mas ausentar-me-ei, isso sim, de qualquer responsabilidade.

27 de maio de 2010

Vontade de Ti

Fiquei tão feliz quando soube que irias. Confesso que não esperava. E a verdade é que o dia ganhou um outro sabor, uma outra vida. Pelo menos, foi assim para mim.
Cheguei mais cedo do que o previsto, não fosses chegar primeiro do que eu. Queria ser o primeiro a olhar para ti, a desvendar a tua reacção perante a minha presença. Já tinhas chegado. Ironia do destino, pensei.
"Será que veio mais cedo com a mesma intenção que eu?"
Estavas assim, encostado ao portão, a mexer no telemóvel de uma forma concentrada e minuciosa. Eram sete e cinco da manhã. Sentei-me calmamente no degrau baixinho que suporta as grades metálicas.
"Repara em mim, repara em mim, repara em mim...", pedia ansiosamente entre murmúrios interiores.
Olhaste, fixaste-me. Tenho a certeza, senti-o. Tive, por um breve momento, um impulso para me dirigir a ti, quem sabe cumprimentar-te e falar um pouco. Evitei-o. Terias de começar. Senti que quiseste fazer o mesmo, no entanto, algo impediu-te.
Aos poucos, todos começaram a chegar, incluindo os teus amigos.
Durante a viagem, tentei ouvir o que falavas. Escutei as tuas piadas sem graça e as tuas manifestações de masculinidade.
O dia foi longo e eu sei que não te era indiferente. Querias agir com normalidade, mas não o conseguias na íntegra. Sorriste, por vezes, quando eu falava algo. No fundo, querias dizer:
"Não posso mais, mas estou aqui..."
Andámos juntos, lanchámos juntos. Rimos com as mesmas situações, vimos as mesmas imagens. Por vezes, olhavas sorrateiramente para mim. A cada olhar teu, nascia uma felicidade em mim.
Quando fomos comprar um gelado, deixaste cair o papel sobre o meu colo.
-"Oh, desculpa!", disseste.
Disfarçaste tão mal. Soou a algo como:
"Não me desculpes, quis mesmo que olhasses para mim e quis falar contigo..."
Durante toda a tarde, não te quis perder de vista e notei que abrandavas o passo para que eu te pudesse seguir.
À noite, no regresso, desejei que me tocasses. Estava à tua espera, silenciosamente esperando por ti. Não dormia, não dormias. Olhei e não te vi. Onde estarias? Ah, estás aí.
Esperei e esperei... Adormeci ao som de No One da Alicia Keys.
Sonhei meio acordado, com o teu beijo, o teu abraço e o teu afago.
Nada disso aconteceu.
A noite estava fria.
Mas esse não era o pior frio.
O gelo que tomou a minha alma doía bem mais.

26 de maio de 2010

Fantasy


"I'm in heaven
With my boyfriend
My laughing boyfriend
There's no beginning and there is no end
Feels like I'm dreaming but I'm not sleeping..."




(Genius of Love - Tom Tom Club)

Would that it were true....

25 de maio de 2010

Prova o Meu Mel

Sei que as minhas palavras te soam a mel. Sei que te confundes no poder que ainda consigo exercer sobre ti. Sabes que eu sei que tens medo de ceder à tentação que ainda represento para ti. Evitas todas as situações que possam causar-te algum embaraço. Porém, quando estás perto de mim, sentes o poder irresistível do meu mel, desse mesmo doce que habita em mim.
Quando quiseres, sabes que podes vir provar o meu mel. Serei sempre esse doce mágico que esperas ao procurar-me no meio dos sonhos que tens e negas a todo o momento. Foges da inevitabilidade que sabes existir. É mais do que uma perda de tempo: é uma luta perdida.
Sabes que sou o ser mais doce que conheceste. Prendi-te com esse mel, esse que queres tanto provar. Mas podes vir, como sempre. Estarei aqui à tua espera, tu sabes isso. Quando a tristeza e o desconforto tomam conta das tuas acções, voltas como um ser perdido e abandonado que procura um pouco de doce para a sua vida. Esse mel que encontraste em mim é a uma fonte que sabes inesgotável e que procuras incessantemente. Não evites o olhar. Eu sei que é isso que queres. Vem, e eu poderei tornar os teus dias bem mais selvagens e adocicados, nessa combinação aparentemente contraditória, mas que pode ser bem real. Vejo como me olhas. Sinto como me queres. Exalas desejo e eu respiro esse mel que te faz pedir silenciosamente por mais.
Sou teu.
Gosto disso.

23 de maio de 2010

Sabes o que é gostar de alguém?

Quando gostamos de alguém as palavras não são necessárias. Não necessitamos de gestos de carinho, demonstrações de afecto ou actos públicos de amor incondicional. Quando gostamos de alguém a presença é o suficiente. A presença da pessoa amada. Que estranho sentimento é este. É um sentimento altruísta e generoso. Nada pede em troca, apenas um ligeiro conforto para o nosso coração. E esse conforto não exige demasiado. Uma simples presença, um olhar denunciador e uma crença forte no momento. É um sol que nasce e torna os dias bem mais luminosos. Uma qualquer esperança, castrada à nascença, que se dissolve e aumenta ao passar do vento e das horas. Um querer soltar barreiras de moral, essas mesmas barreiras bem mais sólidas do que qualquer material alguma vez construído pelo Homem. É acreditar em ti e em mim. Pedir algo mais, mas conformar-se com o pouco que existe. É ouvir a tua voz e sorrir perante as palavras mais ridículas que saem da tua boca. É um achar graça a todos os teus movimentos e a todas as tuas atitudes. É olhar-te sem querer mostrar que ainda penso em ti. É uma ilusão de superioridade e indiferença que cairia ao mínimo toque teu, ao poder invisível da tua mão. É procurar-te por entre as multidões, mesmo que o teu verdadeiro eu jamais seja encontrado. É invejar as situações mais banais e as pessoas mais previsíveis. É um querer abdicar de tudo por nada. Querer descer ao mesmo patamar que te agrada. É a constante permissividade e devoção total.
É estar perto de ti e não te poder tocar. É olhar o teu cabelo e sentir que não o podemos afagar com a mão. É estar tão perto de ti e simultaneamente tão longe. É desejar o teu abraço, o teu toque e o teu beijo. Depois, ao olharmos para o céu, vimos a distância entre o sonho e a realidade. É sentir o teu cheiro, o som dos teus passos e amar as mais perfeitas imperfeições.
Tudo isso é gostar de ti.
Sabes o que é gostar de alguém?

21 de maio de 2010

Sempre que chamares por mim...

Seguiste o teu caminho. Esse caminho que desejei tenebroso. A mágoa era bem maior do que a racionalidade. Hoje penso de uma outra forma. Deixaste esse passado lá atrás. É assim que deve ser. És tu que estás certo. Apenas eu guardo as memórias de períodos que julguei que mereciam ficar perpetuados em mim. Não tenho o direito de pedir que vivas esse passado da mesma forma que eu. Não olhes para trás.
Mentiria, no entanto, se dissesse que essa fotografia não causou em mim qualquer tipo de reacção. A vossa felicidade, o abraço forte que lhe deste, mostrando-a como um troféu, um prémio adquirido. Pareces tão seguro daquilo que fazes. Vive cada momento como se fosse o último. És tu que estás certo.
Mas quero que saibas que continuo aqui. À tua espera como dantes. Não hesitarei em limpar as tuas lágrimas de desilusão. Sei que acabas por voltar. Beijar-te-ei como sempre o fiz, não te negarei o abraço de conforto, a palavra que precisas de ouvir quando o presente e o futuro sou eu. Aguardo os teus passos como outrora, a tua voz sussurrando palavras que não quero ouvir. Sei que tudo é efémero para ti. Mas não te abandonarei quando esse momento chegar. Voltas como um ser inseguro, derrotado de uma guerra injusta em que vencedor e vencido lutam com as mesmas armas e sofrem as mesmas derrotas. O vencedor acaba por ser um vencido. Encarnas em ti os dois papéis e a queda tem sempre um sabor amargo. Voltas ferido da batalha e continuarei, sempre que chamares por mim, a limpar as tuas feridas, a consolar as tuas desilusões e a confortar-te dos teus pesadelos.
Podes voltar para mim e chorar. É aqui que retiras todos esses disfarces. Sufocarei essa dor que reside em ti, trazendo de novo a paz a esse campo de suplício e abandono. Levarei os teus medos para longe. Estás seguro disso.
Estarei sempre aqui à tua espera.
Sempre que chamares por mim.

20 de maio de 2010

Don't Forget About Us

                              

Este single foi extraído de um dos álbuns de maior sucesso da Mariah, The Emancipation of Mimi. Foi um enorme êxito em todo o mundo, atingindo, nomeadamente, o número #1 nos E.U.A. Tem um misto de romantismo com sensualidade. Pessoalmente, diz-me bastante, porque relaciono com uma fase da minha vida. É um grito suave de revolta e um pedido secreto e íntimo. Esta música tem o dom de nos tornar ainda mais sensuais. :)

Don't Forget About Us (The Emancipation of Mimi, 2005)

19 de maio de 2010

Lanche com a avó

Ontem, da parte da tarde, fui lanchar a casa da avó. Como tenho pouco tempo livre, é raro lancharmos juntos mais os primos, ou melhor, as primas. Os primos nunca estão disponíveis. Combinei tudo com as primas e acabámos por decidir ir ontem.
A casa da avó está em restauro. A avó decidiu mudar umas coisas, nomeadamente a pintura, alguns restauros e melhoramentos. Eu gosto imenso da casa da avó. É bastante ajardinada e tem um alpendre fantástico, onde podemos estar num banco corrido a conversar. É óptimo. Quando tinha três anos, a avó comprou-me um baloiço e colocou-o no alpendre. Tenho algumas recordações desse baloiço. Sei que o adorava.
Eu fui o primeiro a chegar, seguido da Bá. A Bá tem dezassete anos. Trouxe a irmã mais nova, a Patrícia, que tem catorze anos. Ambas são filhas da tia Milé, irmã da mãe. A nossa família é enorme: eu tenho imensas primas, mas nem todas tinham disponibilidade naquela hora. A avó adora ter os seus netos reunidos e até que o consegue. Ontem, no entanto, não foi possível. Somos muito unidos, o que é óptimo.
A Glória arranjou a mesa como só ela sabe fazer. Colocou um centro de mesa bastante vistoso e preparou um lanche fantástico. A Ana (outra das primas), conseguiu chegar a tempo e sentou-se connosco. Fiquei contente pela avó. Ela sempre teve uma tendência acentuada para a Ana, talvez por ser filha do seu predilecto, o tio Zé.
Estávamos os cinco a lanchar calmamente quando passa um rapaz dos que estão a fazer os restauros à avó. Como a fase do barulho já passou, a avó decidiu dar o lanche mesmo com os restauros em processo. O rapaz é alto, moreno e estava com uma t-shirt branca que transparecia tudo do seu abdómen, devido ao facto de estar molhada pelo calor. A Bá, a Patrícia e eu olhámos instantaneamente. A avó, perspicaz como só ela, fez uma observação.
-"Não vos critico, meninos. Se eu fosse mais nova procedia como vocês!"
Foi a gargalhada geral. A avó disse «meninos», no masculino, ou seja, incluiu-me no grupo, visto ser o único rapaz que estava à mesa com elas. Eu adoro a avó. Conheço o seu espírito aberto, apesar de ter sido educada numa família de direita, católica e conservadora.
Desafiado pela Bá, no final do lanche, fomos para dentro da casa, de modo a avistarmos de novo o rapaz. Lá estava ele, na sala, a pintar o parapeito que dá acesso ao corredor principal. Sentámo-nos no sofá da avó e começámos a cochichar e rir baixinho, numa atitude claramente provocatória. O rapaz apercebeu-se, mas não denotava preocupação ou incómodo. Estivemos assim algum tempo, até nos aborrecermos. Depressa a Bá e a Patrícia (a Ana já tem vinte cinco anos e outra maturidade, não nos acompanhou na brincadeira) se cansaram e voltaram para perto da avó. Senti-me no dever de dar uma palavra ao rapaz, não fosse ele pensar que estava numa casa de loucos.
-"Olá, desculpa aquilo de há pouco. Só estávamos a brincar. Não leves a mal." - disse eu, tentando ser simpático.
-"Não faz mal. Sei que só estavam a brincar." - respondeu-me, com um sorriso nos lábios.
Não consegui desvendar aquele sorriso, e o tal radar de que já ouvi falar não apitou. Porém, pareceu-me solícito demais. E acrescentou.
-"De todos, és pior que elas." - riu, mostrando embaraço.
Não consegui evitar um sorriso de surpresa. Notei, pelo seu discurso, que não era um rapaz com estudos. Talvez tenha tido uma infância difícil, com carências. Não lhe perguntei a idade, nem quis lhe dar qualquer tipo de intimidade, mas constatei que deveria ter vinte e poucos anos. O corpo estava trabalhado devido ao suor do cansaço e de dias consecutivos de trabalho exaustivo. É o ginásio da vida, para ele. Lamentei a sua vida e pensei nas dificuldades que já deveria ter passado. Os olhos são o espelho da alma. Os seus irradiavam tristeza, pesar e amargura.
-"Está, fica bem. Bom trabalho." - afastei-me e voltei para o alpendre.
No final do lanche, depois de todas se terem retirado, interpelei a avó sobre o sucedido. Contei-lhe tudo, incluindo o breve diálogo que mantive com o rapaz das obras. Ouvi algo que me marcou.
-"És muito sensível, querido. Sempre o soube. Tens um coração especial, apesar dessa capa que demonstras cá para fora. Escondes a preocupação que sentes em relação a todos. Sei que tens uma vontade imensa de ajudar, mas sabes que terás de lidar com as injustiças do mundo. Não te absorvas demasiado com a maldade do mundo. És muito novinho ainda."
Disse-o mais ou menos com estas palavras. Tentei retê-las uma por uma na memória, o que é impossível.
Adoro a avó. Não podia deixar escapar a oportunidade.
-"Se sou sensível, devo-o à avó. É a pessoa mais bonita que conheço."
Despedi-me, com um longo beijo na sua face.

18 de maio de 2010

Whitney Houston - O Regresso



Como se sabe, Whitney Houston voltou às luzes da ribalta com a sua recente Nothing but Love World Tour. O seu regresso foi aguardado por milhões de fãs em todo o mundo, uma vez que esta tour levou-a a vários palcos da Europa, Ásia e até mesmo na Oceânia.
No entanto, as expectativas eram bastante elevadas, elevadas demais comparativamente aos problemas pessoais que têm assombrado a cantora ao longo dos últimos anos, nomeadamente as suas alegadas dependências químicas. O regresso não agradou a todos; muitos notaram um evidente declínio vocal naquela que foi apelidada, em tempos, de The Voice. As suas performances são fraquíssimas, com fugas de tom, desafinações, falta de fôlego e má projecção da voz. Os fãs ficaram descontentes e alguns arrependeram-se da compra dos bilhetes. É a queda de uma artista que outrora encheu palcos de todo o mundo com a sua voz surpreendente e poderosa.
Eu nunca fui um grande fã de Whitney Houston. Gosto de algumas músicas do seu repertório, como I Wanna Dance With Somebody (Who Loves Me) ou Run To You. Creio que não é o suficiente para me considerar um verdadeiro fã. Mas admiro, isso sim, as vozes poderosas do showbiz mundial, onde se incluem a Mariah (a minha grande paixão), a Whitney, a Céline e a Christina Aguilera, entre outras.
Muito se falou sobre a voz de Mariah Carey. Depois de anos de sucesso, alguns afirmaram que a sua voz perdeu o brilho e a cor. Se compararmos as vozes da Mariah e da Whitney, facilmente chegamos à conclusão de qual das duas mantém uma voz minimamente aceitável. A Mariah, apesar de reconhecer que já não é a mesma de Mariah Carey (debut album), Emotions, Music Box, Merry Christmas e Daydream, consegue actuar com a mínima qualidade, com mais um pequeno detalhe a acrescentar: a Mariah, infelizmente, teve problemas na voz, devido a uns quistos vocais que sempre a acompanharam; a Whitney, não, teve uma intervenção directa no seu declínio vocal, digamos, foi responsabilidade inteiramente sua. Como exemplo, posso referir a Céline Dion. Tem uma carreira de mais de duas décadas e mantém uma excelente voz. Não teve problemas vocais (é uma questão de sorte) e teve cuidados com a saúde da sua voz. E eu nem aprecio o seu estilo.
Estes artistas mundiais têm imensa fama e prestígio. Alguns sabem lidar com esse facto, mantendo a privacidade possível e uma vida minimamente equilibrada; outros, perdem-se nos caminhos sombrios do brilho e do dinheiro fácil. Quem faz da voz e da imagem a sua fonte de rendimentos deve, por isso mesmo, ter cuidados acrescidos.
A fama e o prestígio são efémeros. Tudo acaba com a passagem impiedosa dos anos. Outros vêm e ocupam os lugares das estrelas que encantaram palcos de todo o mundo. O público, esse, por vezes é ingrato. Constrói uma enorme estrela que destrói num ápice mais rápido do que o tempo.

17 de maio de 2010

Dia Internacional Contra a Homofobia e Transfobia

Hoje celebra-se o Dia Internacional Contra a Homofobia e Transfobia. Este dia foi simbolicamente escolhido, uma vez que foi a 17 de Maio de 1990 que a Organização Mundial de Saúde retirou o então Homossexualismo da lista de perturbações mentais.
O Dia Internacional Contra a Homofobia e Transfobia não faria sentido algum se não existisse homofobia e transfobia. Por esse facto, este dia tem um duplo significado. Por um lado, faz todo o sentido devido ao preconceito e à discriminação de que os homossexuais, transsexuais e trangéneros são vítimas; por outro lado, é uma confrontação com a qual o mundo heterossexista não pode evitar. Existe muito trabalho a fazer e um longo caminho a percorrer. E se é verdade que as sociedades ocidentais estão mais receptivas à diferença e a uma livre expressão da sexualidade, também é verdade que a homofobia e a transfobia persistem, sendo feridas abertas na luta contra a discriminação. É um dia que não deveria existir, quisessem as pessoas que tivessemos um mundo melhor. Mas, existindo, deve ser aproveitado para sensibilizar a sociedade sobre a homossexualidade e a transsexualidade. Muitos tabus e ideias erradas persistem no imaginário dos menos instruídos. O homossexual (gay ou lésbica), é uma pessoa totalmente normal, igual a qualquer um. A única diferença é a sua forma de amar. Não ama alguém do sexo oposto, mas sim do seu género. Será uma diferença que justifique todo o ódio, preconceito e inimizade que existe em relação à pessoa homossexual? O transsexual, por sua vez, não se identifica com o seu sexo biológico. O termo transgénero é um conceito mais vasto, que engloba várias vertentes da sexualidade humana. Os termos homossexual, bissexual, transsexual, heterossexual, transgénero, etc, nem deveriam existir. Somos todos humanos e é nessa diversidade que está a essência fundamental do Homem. Todos esses termos colocam-nos rótulos absolutamente desnecessários, cujo único objectivo é a distinção infundada e preconceituosa. O tempo de avanços e de conquistas deveria fazer parte do passado. A homofobia e a transfobia deveriam ser socialmente erradas a todos os níveis e com um grau de rejeição generalizado, tal como a xenofobia e outras fobias sociais o são. Por isso mesmo, este Dia Internacional faz todo o sentido, apesar de muitos o negarem.
Não se trata de um Dia exclusivo da comunidade homossexual e transsexual. É um Dia de todos e para todos. Enquanto existir ódio, aversão e preconceito para com uma parcela, por mais ínfima que fosse, da sociedade, viveremos num mundo ingrato e atrasado, motivo de vergonha para todos. Só seremos justos e evoluídos no dia em que formos todos iguais, nessa igualdade onde também há lugar para a diferença.

15 de maio de 2010

Não digas nada porque faz doer...

És selvagem como a maré nua, despido de pudor e de medo. Vives a vida intensamente. Para ti, o dia de amanhã não existe. Hoje pode ser o último dia das nossas vidas. Como tu sabes isso...
Vejo-te com o teu cigarro frio, expelindo um fumo gelado que me arrefece a alma, encostado a essa parede que desejo que desabe de uma vez. O teu cabelo louro a pedir o meu afago, a tua boca a implorar o meu beijo, os teus olhos a exigirem a minha presença. Tens o meu mundo entre os teus dedos. Gira sobre ti de uma forma inconsciente e metódica. Somos diferentes, absolutamente diferentes. Não há nada que possa mudar esse facto. Seguiste um caminho que desejei seguir a teu lado. Quero a tua irresponsabilidade em mim. Quero conhecer mais do que apenas o meu mundo que também foi o teu. Não o quebres, por favor. Garanto-te que irei voltar a ele. Oh, como me arrependo de quando querias pegar na minha mão e levar-me a passear contigo naquele último dia. Tenho saudades da tarde que não tivemos, do gelado que não comi, do vento que não passou pelo meu cabelo. Hoje não estás aqui. Olho a janela e imagino-te em outros braços.
Não digas nada. Não digas que não o sentes. Não digas o seu nome. Não é verdade que já não gostas de mim. Não me expliques nada mais.
Não digas nada, acalma-me apenas. Não digas que não o sentes, acalma-me apenas.
Não digas nada porque faz doer.

14 de maio de 2010

Um Livro...

Um livro, qualquer que ele seja, é bem mais do que um amigo. É um companheiro de todas e em todas as horas. É uma fonte inesgotável de cultura e sabedoria. Cultura, porque esta não se limita aos saberes científicos, mas também aos culturais; sabedoria, porque todo o livro contém um ensinamento válido, uma palavra adequada, uma história que poderá inspirar a vida de quem a lê. Ler é aprender com os professores mais experientes que existem. É derrubar barreiras físicas, atingindo lugares imaginários cujas fronteiras poderão ser facilmente ultrapassadas. Quem lê tem uma outra perspectiva sobre a vida e sobre o uso das palavras. Abre os nossos horizontes, estimulando a nossa criatividade e o nosso espírito crítico.
Os hábitos de leitura são essenciais desde a mais tenra idade. O pai e a mãe sempre estimularam em mim o gosto pela leitura e pelo sabor inconfundível dos livros. Cresci rodeado de livros. Os avós têm uma biblioteca significativamente grande na sua casa do Alentejo. Nas férias grandes, costumava passar horas na biblioteca, desvendando novos segredos, descobrindo novas histórias que influenciaram toda a minha vida. Enquanto isso, os primos brincavam descontraidamente lá fora. Eu era assim, irresistivelmente único. A mãe não gostava que eu passasse tantas horas a ler, mas a verdade é que também adorava brincar com os primos, por isso, sempre conjuguei as leituras com as brincadeiras normais de qualquer criança. Tudo o que sei devo-o aos livros. E se é verdade que aprendo imenso a estudar, nas aulas e com os programas escolares, os meus conhecimentos mais profundos foram adquiridos com as minhas leituras. Por vezes, algumas pessoas perguntam-me o que vejo de tão importante num livro. A verdade, por mais estranha que possa parecer, é que vejo todo um mundo inserido em cada página, em cada linha. À medida que vou lendo, vou criando imagens cerebrais que em tudo se assemelham à realidade.
Em Portugal, não existem hábitos enraizados de leitura. As pessoas não gostam. Os livros são preteridos à televisão, ao futebol, às novelas, no fundo, à cultura de massas. A essa cultura de plástico que se dissolve facilmente numa mistura de mediocridade intelectual. É assim o país real, salvo bastantes excepções, felizmente. Da minha parte, procuro rodear-me de pessoas que se distinguem pela diferença, no entanto, tenho amigos que não gostam de ler e abominam tudo o que é arte ou cultura. É transversal. O mau gosto afecta as sociedades desde a classe baixa à classe alta. Digamos, é a doença nacional.
Os livros são veículos de informação e cultura. São eles os mestres que nos tornam diferentes e especiais. Ao lermos, viajamos na corrente da nossa imaginação, visitando países longínquos e irreais. Vamos nos aperfeiçoando a cada página, a cada parágrafo, a cada linha, a cada palavra...
A pergunta que se impõe é a seguinte: Quais os livros que mais me marcaram e quais os meus hábitos de leitura? Não sou preconceituoso em relação às minhas leituras. Posso ler qualquer livro. Porém, é evidente que tenho uma preferência pelos clássicos e pela literatura contemporânea, nomeadamente anglo-saxónica, russa e francesa. Os livros que mais me marcaram... Bom, foram imensos. Vou eleger dois. Dois totalmente distintos, mostrando que consigo ler literatura light. Gostei imenso de 1984, do George Orwell, que li com dezasseis anos; também gostei do livro Os Sinais do Medo, da Ana Zanatti. Como podem constatar, são obras opostas, mas que merecem todo o meu respeito.
Há um encanto em qualquer livro que seja escrito com carinho e dedicação. E esse dom não escolhe nacionalidades, épocas ou estilos. Não existem livros melhores ou piores: existem livros. Ao lermos, criamos e reinventamos a nossa vida a cada instante. Construímos os nossos sonhos a cada pilar de fantasia e sabedoria que a leitura nos oferece.

12 de maio de 2010

Oops! ... I Did It Again - Britney Spears



Oops! ... I Did It Again foi uma das músicas que mais marcou a minha infância e adolescência. Recordo-me de ouvi-la no colégio, com as minhas amigas e colegas, e dançávamos espontaneamente ao som de um dos maiores hits do início do milénio. Por esse motivo, guardo a Britney num dos cantinhos mais especiais do meu coração, junto à Mimi. Hoje, ao vasculhar os meus álbuns, deparo-me com este cd da Britney, cujo nome é homónimo desta música. Ainda nos dias que correm é um som actual e dançável.

E, sim, tal como a Brit, eu não sou assim tão inocente... ;)

Oops! ... I Did It Again - Oops! ... I Did It Again (Britney Spears, 2000)

11 de maio de 2010

Bento XVI - A Visita Papal

Não me irei alongar demasiado no que diz respeito à visita de Bento XVI a Portugal. Creio que tudo o que havia para dizer e escrever já foi feito. No entanto, esta visita papal não me causa qualquer tipo de admiração ou incómodo. Aprendi, desde cedo, a respeitar as convicções e crenças religiosas de todas as pessoas. Talvez por ter nascido numa família de direita, católica e conservadora, apesar de relativamente liberal, o diálogo ecuménico sempre desempenhou um papel bastante importante. Respeito a Igreja Católica Apostólica Romana, porém, afastei-me dos seus dogmas e da religiosidade no seu devido tempo.
Seria uma imodesta hipocrisia da minha parte negar a contribuição católica para a formação de Portugal, assim como o seria se negasse peremptoriamente o catolicismo predominante existente no país. A maioria da população é católica, apesar de existir um laicismo patente na Constituição Portuguesa. Nesse sentido, é natural que os sucessivos Papas sejam recebidos com honras de Estado, até mesmo porque são Chefes de Estado de um país, o Vaticano, não obstante, a qualidade de líderes religiosos sobrepõe-se à de Chefes de Estado. É uma realidade concreta. O Papa terá, certamente, os seus conhecidos pontos de vista em relação aos valores católicos de família e moralidade que transmitirá ao Primeiro-Ministro. A realidade católica do país não pode ser ignorada. A população sente-se abençoada com esta primeira visita do Papa Bento XVI a Portugal. Também por parte das figuras de Estado existe um sentimento de religiosidade (o Presidente da República é assumidamente católico).
Apenas critico a promiscuidade político-religiosa que existe na sociedade portuguesa. As questões de fé e de Estado estão - e devem manter-se - totalmente separadas. É nesse pilar de laicidade estatal que assentam as sociedades modernas, plurais e tolerantes para com a diversidade religiosa.
Em relação à visita papal: Deus ensinou aos Homens a tolerância e o perdão. É esta a Sua palavra, independentemente das crenças individuais de cada um. Desejo, sem qualquer tipo de ironia, uma boa estadia a Bento XVI em Portugal. Não concordo com as visões retrógradas da Igreja em relação a diversos assuntos, mas a sua visita não me causa qualquer tipo de incómodo ou perturbação, como referi anteriormente. Aliás, esta visita é bastante oportuna, bem como a vitória do Benfica, numa altura em que foram anunciados aumentos de impostos. São meras coincidências que estão a ser devidamente aproveitadas...
As questões de fé são íntimas e variam conforme a educação e as crenças pessoais. O respeito pela diversidade deve ser uma preocupação constante de todos. Se é um dia importante para o país e para a sua maioria católica, esse facto deve ser aceite com tranquilidade. A tolerância também consiste no respeito pelos direitos das maiorias.

10 de maio de 2010

O Mundo num Búzio

Encontrei um mar extenso e salgado dentro de um búzio. Primeiro eu, depois escutaste tu. Somos uma mistura de sensações e de estímulos que alcançamos com os mais simples pormenores. Fechei os meus olhos e viajei contigo nesse mundo em que tudo é possível, até os sonhos dos mais incautos. Se a maresia é calma e o mar está em paz, então a vida é perfeita e não há nada a temer. Ficou guardado na minha memória. Aquela praia, naquele dia, ofereceu-nos o que de melhor tinha para dar. Um passaporte de sonhos, memórias, vontades e desejos escondidos em nós. Guardei-o não apenas por simbolizar esse dia e essa viagem mágica, mas também para ter sempre acesso ao meu mundo especial. Aquele que é só meu e teu.
O búzio revelou-me o mar mesmo quando este não era possível. Revelava-me a ti, sempre que eu queria ter uma representação mental da tua cara e do teu corpo. Era uma união subliminar quando a presença concreta não era mais do que uma enorme vontade. Uma alienação do real, um mundo que transcendia tudo o que mais ninguém conseguia ver. Foi assim durante algum tempo.
Ironia do destino, o búzio silenciou a sua voz à medida em que te afastavas cada vez mais da sua fonte de fantasia. Talvez seja eu que não consiga encontrar a sua voz ténue no labirinto de fraquezas e de medos. Não consigo ouvir as ondas do mar. Perdi definitivamente aquela voz. Encontro um vazio. Uma mensagem do nada, como se o nada fosse o tudo, o real. O búzio perdeu o seu sentido, calando os seus ruídos que procurava quando queria mais do que a evidência. Nada escuto quando fecho os olhos. A escuridão que deixaste não é preenchida.
Que poder esse que tens de calar a voz das minhas vontades. Irrompeste pelo meu íntimo sem a minha autorização. Era o único sítio inacessível às tuas acções.
Invadiste o que restava de ti.
Aniquilaste-te mais um pouco.
Morreste mais um pedaço em mim.

8 de maio de 2010

Sonhos em Algodão Doce

Os meus sonhos são como os teus. São feitos em algodão. Aquele algodão fofo, rosa e macio que voa ao sabor agitado e impetuoso do vento. O amor trespassa o macio do algodão, deixando-o leve e sedoso nos nossos corações. Esse mesmo amor que é doce como o açúcar e como o mel. Esse sabor doce que adocicou a tua boca, ao fazê-la proferir aquelas palavras apaixonadas que me soaram a magia. Quero de novo esse doce que há em ti. Preciso do teu açúcar que me fez sonhar naquela tarde de Verão, quando ambos percorríamos a estrada de sabor com o nosso algodão doce... Sabia a amor, sabia a sinceridade infinita. Sabia a ti e a mim. Éramos só nós, e a vida era tão doce... A magia do algodão transportava-nos para um mundo sem paralelo, um mundo só nosso. Tenho em mim o teu sorriso açucarado; guardas no teu coração o açúcar que tinha na minha boca? Falei-te de amor, falei-te do nosso doce. Essa inocência mágica envolvia-nos na sua chama de protecção e amparo. E o sol testemunhava o sabor melodioso das nossas palavras. Os sorrisos que partilhámos, os olhares de sabores que transmitíamos num êxtase mágico. Tudo sabia a morango, o sabor do nosso algodão doce. O sabor daquela tarde imaterial.
Tenho em mim o teu abraço forte. Nada nos podia atingir. Éramos um, assim como o nosso algodão. Era a suprema felicidade. Uma felicidade doce e macia como o algodão doce que comprámos. O nosso amor era etéreo e subtil. A brisa fresca que corria fazia-me tremer de frio, no entanto, tu estavas lá. A perfeição era essa, simbolizada num ângulo que podia ser pintado. Um sopro de ti. Um sopro de amor. Um sopro de nada.
O sonho era o algodão doce. O seu sabor que ainda sinto nos meus lábios, de noite, quando me lembro de ti.

7 de maio de 2010

Portugal e o Império Marítimo Português



Vários historiadores conceituados a nível internacional são unânimes ao afirmar que Portugal conseguiu proezas admiráveis para um país pequeno, pobre e mal organizado. Uma dessas proezas foi, sem dúvida alguma, a construção de um vastíssimo Império Colonial.
Absorvido pela impossibilidade de uma expansão terrestre, devido ao facto de estar rodeado de poderosos reinos ibéricos, a posição geográfica de Portugal e as suas tradições marítimas foram factores decisivos na grande epopeia marítima da qual Portugal foi o país precursor.
A expansão marítima portuguesa teve início com a conquista de Ceuta, em 1415, importante praça militar no norte de África, no reinado do célebre "O de Boa Memória", D. João I. Ceuta possibilitou um controlo, ainda débil, de algumas rotas de especiarias que chegavam da longínqua Índia. Para além desse motivo, a expansão da fé cristã em terras árabes era de uma elevada importância, numa altura da História em que as questões religiosas faziam todo o sentido.
Seguiram-se, nos reinados seguintes, a descoberta e a conquista de vários entrepostos comerciais na costa africana, incluindo a praça de Mina, no golfo da Guiné, em 1482. A descoberta do caminho marítimo para a Índia (1498, por Vasco da Gama) abriu as portas ao comércio marítimo com o Oriente, possibilitando aos portugueses o controlo da rota marítima das especiarias, acabando, dessa forma, com a rota terrestre que os árabes empreendiam desde a Índia até ao norte de África. O estabelecimento dos portugueses no Oriente foi um sucesso, com a construção de um Império a Oriente, que manteve o brilho até à União Ibérica (1580 - 1640), que permitiu os ataques dos holandeses e dos ingleses às possessões portuguesas no Índico.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre ou "acha" o Brasil. Este descobrimento, que muitos não consideram acidental, devido ao facto de D. João II ter exigido que o meridiano estabelecido no Tratado de Tordesilhas passasse a 370 léguas a oeste de Cabo Verde (o que já englobava a costa marítima brasileira) e não às 100 léguas iniciais, permitiu a consolidação do Império a Ocidente, no "Novo Mundo", cuja acção dos bandeirantes, durante o século XVI, foi decisiva para a afirmação da colónia do Brasil.
Em 1822, com a independência deste território, Portugal focou a sua atenção nas suas colónias africanas. A África Portuguesa dos inícios do século XIX, consistia em pequenos aglomerados populacionais na costa africana, nos territórios que hoje se conhecem por Guiné, Angola e Moçambique, para além das ilhas de Cabo Verde e São Tomé e Princípe. Com a Conferência de Berlim e a Questão do Mapa "Cor-de-Rosa" (1884 - 1885, que Portugal não conseguiu impor), Portugal assegurou a permanência nos seus antigos territórios, porque prevaleceu o direito de ocupação efectiva ao contrário do direito histórico sobre aquelas regiões. Nesse sentido, Portugal apenas manteve os seus territórios tradicionais.
Em 1961, o recente estado da União Indiana, por ordem do presidente Nehru, invade e anexa os territórios portugueses na Índia: Goa, Damão e Diu, acabando com um domínio português de quase 500 anos.
Com a Revolução de 25 de Abril, em 1974, as colónias portuguesas em África (oficialmente províncias ultramarinas) conseguiram a tão desejada independência, que se veio a verificar no ano seguinte, 1975 (com a excepção da antiga Guiné Portuguesa, cuja independência foi declarada em 1974). Tudo parecia indicar o fim do Império Colonial Português. No entanto, restavam Timor e Macau. O território de Timor, ocupado ilegalmente pela Indonésia, em 1975, manteve-se uma província indonésia até 1999, ano do referendo realizado à população timorense, no qual a maioria optou pela independência do país, nascendo a República Democrática de Timor-Leste, em 2002.
Várias datas são apontadas como a data do fim do Império Colonial Português. Alguns afirmam que o Império acabou em 1975, com a independência das colónias africanas; outros, defendem que acabou em 1999, com a entrega de Macau à China; e alguns defendem que foi em 2002, com a independência de Timor-Leste, visto que o território mantinha o estatuto de território não descolonizado de Portugal, pelas Nações Unidas.
A data mais correcta será, em todo o caso, 1999. Macau era, de facto, o último território colonial português.
O Império Marítimo Português foi o primeiro e o mais longo império colonial da Humanidade, existindo entre 1415 e 1999.
Como afirmou o historiador britânico Charles Ralph Boxer (no seu livro, O Império Marítimo Português 1415 - 1825, que comprei com quinze anos e adoro), "um feito extraordinário para um país tão pequeno e tão pobre".

6 de maio de 2010

A Maldade

Quando a força é menor, entramos num período de aparente apatia. Somos tomados por ímpetos de desistência. Caímos naquela turbulência típica de um marinheiro que não conhece o rumo a seguir, o caminho a tomar. Apoderam-se do nosso corpo forças negativas, pensamentos de submissão a uma corrente maior que nos tenta encaminhar para um lugar onde, lá bem no fundo, não queremos estar. Não se trata de uma fraqueza espiritual, bem pelo contrário; por vezes, estas forças exteriores à nossa vontade têm como última finalidade atrapalhar o caminho que queremos seguir. Serão as chamadas forças de bloqueio. Eu acredito que o ser humano é capaz de todas as coisas possíveis, incluindo as piores e as melhores. É incrível como conseguimos fazer o bem com uma mão, sendo que utilizamos a outra para fazer o mal. Por vezes, fazemos o mal mesmo a quem não queremos. Somos agentes passivos do sofrimento alheio. É um argumento válido para a nossa desculpabilização? É evidente que não. Em última instância, somos seres responsáveis pelos nossos actos, logo, a previsão das consequências imediatas tem de ser devidamente calculada. Já existimos há milénios suficientes para sabermos quais as consequências dos nossos actos. A experiência é uma parte fundamental na consolidação da personalidade do indivíduo. Aprendemos com os erros desde a mais tenra infância. A socialização permite-nos a absorção das regras e dos comportamentos adequados para vivermos em sociedade, no entanto, e durante este processo, erramos o suficiente para aprendermos pela experiência. Até aqui se vêem as forças de bloqueio que, de uma forma ou de outra, todos possuímos. Teremos uma tendência inata para o mal? Ou seremos tendencialmente bons, como afirmou Rousseau? Se Rousseau estiver correcto, são as regras das sociedades que corrompem o indivíduo. Estaremos num quadro de inevitabilidade. São as contrapartidas de toda a aprendizagem que efectuamos. A maldade será uma característica humana que pode ser sujeita a um auto-controlo pelo indivíduo, dependendo da sua vontade e da sua submissão aos desafios e às regras. Como o Homem precedeu a Sociedade, a maldade será, em todo o caso, humana. Prolifera quanto maior for a imoralidade dos indivíduos. O desafio será atingir o bem? Creio que sim.
Em todo o caso, a maldade advém do inconformismo. Até mesmo do inconformismo em relação ao bem. Resulta do egoísmo humano e até mesmo da sexualidade, na busca incessante do prazer. A maldade pode assumir uma forma de prazer.
Depois, também existem todas as concepções religiosas sobre a origem da maldade. No entanto, a génese da maldade não é, de todo, o centro das questões humanistas sobre a sua existência. O grande desafio é a análise das suas consequências e das suas manifestações. O objectivo é o seu controlo.
O Homem já percebeu que a sua existência e a existência da maldade estão profundamente interligadas. São indissociáveis. A maldade é uma componente humana. Uma imperfeição, ou mesmo a origem das imperfeições. Somos imperfeitos porque somos maus. Somos maus porque somos imperfeitos.
Somos imperfeitos e maus porque somos humanos.

4 de maio de 2010

Sabes por onde vais?

Sabes se é esse o caminho que queres seguir? Gostas daquilo que a vida te está a mostrar? Fechaste uma porta que talvez não volte a estar aberta quando olhares para trás e quiseres voltar de novo ao conforto que só encontras quando estás aqui. A aventura e o risco estão presentes na tua vida, mas olhar para ti é como observar um ser perdido que não sabe que rumo seguir, que percurso tomar. Sei que existirá sempre em ti a centelha mágica que te faz querer voltar. Essa mesma luz que te guia de novo ao teu berço, lugar onde és feliz, lugar onde só importa o teu verdadeiro eu. Por vezes, gostava de entrar sorrateiramente na tua mente, desvendando os segredos que pairam sobre ti. Era uma forma de te amar cada vez mais. Também era uma forma de sofrer inconsequentemente, vítima das descobertas que poderia fazer. No entanto, sei que não me decepcionaria num ponto, o ponto principal. Não queres que eu sofra, eu sei disso. Segues em frente, mas os pensamentos estão bem cá atrás, ficaram todos em mim. Eu sei.
Porque é que segues esse caminho? O que será que existe nessa estrada perigosa de ilusões que te faz correr o risco do sofrimento? A tua impulsividade leva-me a duvidar das certezas que, porventura, terás ao arriscares tão cegamente. Sabes se é mesmo por aí que queres ir? Dava um pouco de mim para saber o que queres provar a ti próprio. Tenho medo de saber as respostas às minhas perguntas. No fundo, faço perguntas para as quais evito saber as respostas. Tanto e tanto tempo perdido, tanto que poderia ser vivido.
Quando a desilusão do erro atravessa o teu corpo ferido, percorres a estrada no sentido inverso. Procuras o consolo que tanto negas nos momentos de euforia e de risco. Eu não saí do meu lugar. É essa a certeza que te dá a força de que precisas.
Regressas e voltas a abrir a porta que não estava bem fechada.
Não tenho coragem para fechar a porta. Necessito dela aberta.
Tu sabes disso.
Volta, a porta ainda está aberta.

3 de maio de 2010

2º Aniversário

O As Aventuras de Mark celebra hoje dois anos de existência. Há precisamente dois anos surgia mais um blogue na blogosfera do Google, blogue esse com as devidas expectativas do seu autor em relação a ele.
Em primeiro lugar, parece-me oportuno esclarecer o porquê do nome As Aventuras de Mark. O nome As Aventuras de Mark surgiu inspirado na tournée de Mariah Carey, The Adventures of Mimi (2006). Apesar de, à primeira vista, o nome aludir aos relatos das aventuras quotidianas do autor, de facto, o nome do blogue não foi escolhido com esse propósito. Embora baseado na tournée de Mariah Carey, o nome do blogue foi traduzido para a Língua Portuguesa.
Como é facilmente constatável, o As Aventuras de Mark não pode ser definido numa única palavra, assim como o seu autor. É um blogue transversal, sem uma linha editorial definida. Não deixa, por isso, de ser um blogue pessoal, no entanto, outros temas têm prioridade para o autor. Todos os textos estão devidamente organizados em etiquetas para o efeito. O blogue não é e nem nunca será um diário pessoal, mas também não é apenas um blogue de textos literários (apesar do autor ter aspirações a escritor). Tudo, dentro do limite do razoável, pode ser abordado no blogue.
Uma das preocupações do autor é a ortografia. Apesar de a sua escrita se manter inalterada desde os quinze anos, a correcta ortografia é um elemento essencial no As Aventuras de Mark.
O blogue é o espelho da personalidade ambígua do seu autor. É uma janela entre o mundo perigosamente fútil, festivo, despreocupado e cor-de-rosa em que vive e o mundo real, vivido pela maioria das pessoas. É nesse ponto de intersecção com o mundo real que o As Aventuras de Mark se encontra. É um blogue precoce de um autor precoce (que leu Dostoiévski, Franz Kafka e Karl Marx, este último para desespero da avó, apenas com treze anos, iniciando o período ainda vigente das suas leituras prolíferas).
Dois anos volvidos, o balanço é francamente positivo. O As Aventuras de Mark não é uma obrigação, mas sim um prazer. Em dois anos existiram algumas modificações que alteraram positivamente a vida do blogue. O autor também mudou, é certo. Dois anos na vida de um jovem é muito tempo. O autor amadureceu e já não se identifica com alguns dos seus textos mais antigos, porém, decidiu mantê-los. Tudo faz parte da nossa história pessoal.
O As Aventuras de Mark continua e continuará a ser um desafio para o seu autor.
Continuo a contar convosco nesta aventura!

1 de maio de 2010

Onde te escondes?

Onde te escondes? Talvez nesse labirinto de segredos que criaste para ti. Essa teia que te consome a cada segundo que passa, deixando o vazio e a dor onde anteriormente existia um trilho suave de amor. Corres com as mãos sobre a face rosada e envergonhada de um medo que não é o teu. Observas o céu que se põe em fúria contra de ti, esperando o momento certo para te enviar o fogo que tanto temes. Não é fácil penetrar nessa muralha de paredes altas e escorregadias que construíste. O acesso é restrito. Do alto da torre, vigias quem se aproxima para te mostrar o que teimas em não querer ver. Guarda essa arma, essa arma de defesa que usas sem motivo. Um dia irá disparar sobre ti.
Onde te escondes? Talvez num mundo mágico e colorido onde podes ser feliz. O teu olhar não mente. O verde assemelha-se à cor natural de uma floresta. Estás no meio dessas árvores altas, esperando o momento oportuno para sair. Nelas, consegues a sensação efémera de protecção. Corres em direcção a um mundo que não é o teu, mas ao qual tanto ambicionas pertencer. Escondes o olhar da moral de quem te indica um caminho a seguir. E segues o rasto mais fácil, bem mais fácil do que a confrontação que evitas a todo o custo.
Onde te escondes? Talvez na tua cidade, aquela em que está sempre a chover. Moldas o que te fere num esboço de alegria e diversão, como se os sentimentos não fossem mais do que um barro mole, moldável ao sabor da tua vontade. Escondes-te no interior de ti próprio, bem no fundo do teu ser. Guardas lá no fundo a verdade, a mesma verdade que ocultas e afirmas tratar-se de uma mentira.
O teu mundo é um mundo de esconde-esconde. De esconderijos inalcançáveis para quem te rodeia. Cada pedaço está bem escondido num lugar diferente, sendo que o principal é guardado por esses soldados moralistas que tu próprio colocaste à porta do teu castelo sombrio.
Vives o que não te pertence. Escondes a face de uma vergonha que te vence a cada dia que passa.
Perdeste-te de ti e, um dia, ninguém mais te encontrará. Procuro-te e não te vejo.
Onde te escondes tu?