3 de abril de 2010

Páscoa

É inegável a importância da matriz judaico-cristã na minha formação individual. Ela existe e está presente. Lembro-me da polémica em torno da inclusão de um preâmbulo destacando a herança cristã no projecto da Constituição Europeia. Aliás, um dos motivos que levou a laicíssima França a chumbar o referendo sobre a mesma. Não o medo de uma possível federação europeia, nada disso; o que motivou os gauleses foi o receio de um atentado à sua laicidade estatal. Lá se foi o sonho de um grande passo na construção de um novo mundo bipolar. O Tratado de Lisboa é manifestamente mais comedido.
A tradição judaico-cristã está presente em todos os sectores das sociedades ocidentais. Portugal surgiu nesse contexto religioso, com as famosas cruzadas da Idade Média que propiciaram a Reconquista Cristã. Já o Império Romano tinha sido fortemente influenciado pela Cristandade, a ponto de se tornar a única religião do Império, com Teodósio I. Por todos estes motivos, estranhei o medo infundado dos extremistas laicos sobre a matriz judaico-cristã. A História não a desmente. Todavia, o facto de reconhecer essa matriz como forte impulsionadora da história ocidental, não impede que seja laico e um profundo crítico das religiões cristãs. Apenas reconheço a sua importância no mundo ocidental.
Jesus marcou indelevelmente a história mundial. Até a contagem do tempo ganhou um outro significado. Gostemos ou não, acreditemos ou não, Ele está presente no nosso quotidiano e na forma em que nos organizamos. Somos envolvidos nas festividades religiosas a Ele associadas, onde se inclui, evidentemente, a Páscoa.
Com um significado equiparado ao Natal devido à sua importância, a Páscoa representa a Morte de Cristo. Segundo a matriz cristã, Jesus morreu para a remissão dos nossos pecados. Durante estes dias de Semana Santa, assinalamos a morte de Jesus e festejamos a boa nova da Sua Ressurreição e Ascensão junto ao Pai, Deus, O Criador.
Factos são factos. Podemos concordar ou discordar, mas eles existem. É assim que estamos organizados, crentes e não crentes.
As amêndoas, os coelhinhos e os ovinhos de chocolate surgem como forma de compor a festa em si. É o merchandising, digamos. Faz parte. Há alguém que seja totalmente indiferente a estas festas litúrgicas? Duvido. Os filmes, a televisão, até mesmo o facto de vivermos num país católico, torna a hegemonia religiosa num facto de inquestionável abrangência. As típicas mensagens "Boa Páscoa" ou "Páscoa Feliz" estão praticamente automatizadas na nossa cultura e no desempenho dos nossos papéis sociais.
Aprendi, por motivos familiares (católicos e conservadores, não em todos os aspectos...), a respeitar profundamente quem acredita e vive com fé este momento de introspecção.
Boa Páscoa a todos!

4 comentários:

  1. A páscoa a mim não me diz grande coisa :X e, supostamente, sou católica :S

    ResponderEliminar
  2. A mim também não me diz muito, apesar de ter sido educado nos valores cristãos. :S
    Mas acho que a mensagem que pretende transmitir é bonita.. :)

    ResponderEliminar
  3. Antes demais, deixa-me dizer-te que escreves lindamente.

    Quanto à inclusão da matriz judaico-cristã na bendita constituição... É bem verdade que a civilização ocidental surge também dessa matriz, mas não me parece correcto citá-la num documento institucional, laico.

    E tens razão quando dizes que "é assim que estamos organizados", mas não confundas factos históricos com crença e interpretação num livro metafórico...

    Não fiques constrangido pela minha opinião, que eu gosto desta troca de ideias. Acho que só nos enriquece.

    ResponderEliminar
  4. Nesse sentido de "livro metafórico", não podia estar mais de acordo. Há uma interpretação demasiadamente estrita aos textos bíblicos, apesar de serem integralmente alegóricos.
    Quanto à confrontação de ideias, acho óptimo. É isso que nos enriquece culturalmente. :))

    ResponderEliminar