18 de abril de 2010

O Atrevimento

Há pessoas atrevidas e há aquelas pessoas que não são tão atrevidas. Entre elas, há uma espécie que oscila entre o atrevimento e o humor.
Ontem, depois de uma festa em que estive presente da parte da tarde, dirigi-me ao Amoreiras porque não queria ir para casa. Como não estava nada programado, decidi ir sozinho. Ver umas montras e apanhar ar, ou seja, ar de consumismo. Aquele ar típico das sociedades modernas. Enquanto caminhava pelas lojas, vêm na minha direcção três rapazes mulatos. Ao passarem por mim, um deles agarra no meu braço e diz-me surpreendentemente:
-"Olha, dá-me o teu número."
É evidente que não obteve resposta. Continuei a caminhar calmamente. E não é que veio atrás de mim, voltando a agarrar no meu braço.
-"Olha, desculpa, dá-me lá o teu número. Quero voltar a ver-te."
Era impossível manter a minha indiferença.
-"Desculpa, o meu número? Podes largar o meu braço? Lamento, não falo com estranhos!"
Os amigos continuaram a andar, deixando-o para trás. Ele deveria ter uns 22 anos, vestia uma t-shirt lilás e tinha uns ténis da Adidas da mesma cor. Tinha uns olhos verdes fantásticos e o cabelo era claro, apesar de ser mulato. Insistiu:
-"Ok, desculpa, deves pensar que sou um psicopata e que te vou fazer mal, mas só quero mesmo voltar a ver-te. Talvez para irmos beber um café. Por favor!"
Bom, que desespero, pensei.
-"É o seguinte, eu não te conheço e, por isso, não te dou o meu número."
Tirou um papel e uma caneta de uma mochila e escreveu o seu número, dando-me o papel de seguida.
 -" 'Tá bem, então, fica com o meu número e, se quiseres, manda-me uma sms. Tenho de ir. Os meus amigos 'tão à minha espera. Gostava de falar mais contigo. Xau, beijinho."
Eu fiquei literalmente boquiaberto a olhar para ele. Já me sucederam situações semelhantes, mas nunca nenhuma assim com tanta insistência. E o beijinho final é uma verdadeira pérola. Lol
À medida que ia andando, pensei em deitar o papel para o lixo, no entanto, acabei por não o fazer. Assumo que achei alguma graça à sua atitude e ao seu atrevimento. Até eu, que não sou conhecido por ser tímido, era incapaz de abordar alguém desta forma.
Quando já estava de saída, visto que não comprei nada, ainda passaram por mim mais uma vez. Voltou a olhar para mim e piscou-me o olho.
Detesto tudo o que diz respeito a engates e tenho mesmo um princípio: não falar com estranhos em situação alguma, muito menos marcar encontros. Actualmente, é um perigo. Não pode existir nenhum tipo de cedência. Tem de existir um primeiro contacto que evolua para uma amizade. Tudo tem o seu devido tempo.
Ao chegar a casa, rasguei o papel e deitei-o no lixo. Ponto final.
Rejo-me por alguns princípios dos quais não abdico.
Um desses princípios é o devido respeito por mim próprio.

6 comentários:

  1. É realmente uma situaçao estranha. Não só porque nao te conhecia de lado nenhum como ainda deu a entender a um estranho (tu) que ele é interessado em homens. Nao é muito habitual pessoas serem abordadas assim na rua (penso eu), e muito menos por pessoas do mesmo sexo.
    Embora eu seja bissexual e admita que gosto cada vez mais de homens, acho que faria o mesmo que tu, mas rezava para numca mais ver o tal sujeito. Ainda me reconhecia, e me violava. visto eu nao ter realmente mandado sms. xD
    Cumprimentos

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  2. É mais habitual do que possas imaginar... E é evidente que tem de existir a sensatez necessária.
    Já estou vacinado.
    Fica bem.

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  3. De facto um pequeno deslize é suficiente para nos colocarmos em situações de risco. Atitude bastante sensata a do menino.

    Abraço

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  4. Oh, obrigado, Tiago.
    Adorei o "menino". És a primeira pessoa que me trata assim na blogosfera. :)

    Abraçooooo! :))

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  5. Sensato, sim senhor... Mesmo o tipo sendo giro e tudo! AH AH!

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